A transformação do sistema tributário brasileiro, decorrente da reforma tributária, trará vários desafios operacionais que exigirão preparação das empresas. Especialistas recomendam que os empresários já comecem a calcular os impactos que a transição para o novo modelo de tributação trará para seus negócios. Já é possível planejar cenários tributários, fazendo simulações sobre a carga que deve incidir em cada segmento para garantir a competitividade e sustentabilidade futuras do negócio.A Receita Federal, por exemplo, iniciou o projeto-piloto da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). O objetivo é testar, em ambiente controlado, o funcionamento dos novos sistemas tecnológicos e operacionais, antes que a CBS entre em vigor. A participação é facultativa e o programa antecipa, em simulações, os desafios operacionais para novo sistema tributário a partir de 2026. O projeto tem caráter experimental e não gera obrigações fiscais reais nem envolve pagamento de tributos. As empresas participantes estão sendo convidadas diretamente pela Receita Federal, com a lista de selecionadas divulgada no Diário Oficial da União. Desde 1º de agosto, os testes acontecem para empresas indicadas pelo Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e por entidades representativas de setores econômicos. Para o Conselho Regional de Contabilidade de Goiás (CRCGO), a iniciativa é um passo importante na concretização da reforma tributária e sinaliza a necessidade de atenção por parte das empresas e profissionais da contabilidade. Segundo a presidente da entidade, Sucena Hummel, mesmo que o projeto-piloto não traga efeitos tributários imediatos, ele já antecipa os desafios operacionais que todos os contribuintes enfrentarão em breve. “Esse é o momento de preparação. A contabilidade será protagonista nesse processo, ajudando as empresas a se adaptarem às novas exigências de apuração, escrituração e envio de informações fiscais”, afirma.O projeto da Receita visa entender como está o sistema e aprimorar processos, com as empresas vendo na prática se suas soluções tecnológicas atenderão aos textos da reforma e ajudando com sugestões de aprimoramento. Mas Sucena alerta que esta preparação deve se estender a todos os contribuintes, uma vez que a Receita Federal já disponibilizou a versão Beta da Calculadora de Tributos, que faz o cálculo padronizado da CBS, IBS e Imposto Seletivo.Em 2026, já haverá a cobrança experimental de IBS (0,1%) e CBS (0,9%), que será devolvida. Em 2027, já serão extintos o PIS e a Cofins, passando a valer a alíquota cheia do CBS, que ainda está em discussão. Fala-se que ela pode ficar em cerca entre 26% e 29%. Entre 2029 e 2032, começa a redução do ICMS e do ISS e, em 2033, o sistema começa a operar de fato. “A partir do próximo ano, teremos uma fase de transição e testes. Agora, as empresas precisam acompanhar as mudanças previstas na legislação, fazer contas e se adaptar”, adverte. Uma das maiores preocupações é que, no início, os dois sistemas tributários (atual e futuro) terão de conviver, o que exigirá uma preparação da automação, com os contadores mostrando para seus clientes como é hoje e o que ele passará a pagar com a reforma. A presidente do CRC-GO lembra, por exemplo, que existe uma padronização das notas fiscais, que terão de ser ajustadas para o novo modelo, com a integração dos sistemas das empresas com o do Fisco. Ela alerta que muita coisa vai afetar, principalmente, o setor de varejo, por isso os empresários precisam estudar o impacto em seu segmento. “Os grandes podem pagar consultores e têm pessoal para isso. E o pequeno precisa planejar cenários tributários para entender as mudanças e garantir sua competitividade e sustentabilidade no mercado”, diz. Daí, a importância da empresa se planejar para a carga tributária que terá, acompanhar os projetos de lei que farão a regulamentação e aprender a fazer todas as contas necessárias que envolvem receita e despesa. Sucena Hummel lembra que também será preciso fazer escolhas, como a permanência da empresa no Simples ou o recolhimento do CBS e IBS por fora. O custo operacional das empresas também deve aumentar com os investimentos para esta adaptação. Embora o aumento ou não de carga dependerá de cada setor, há o custo de colocar a empresa no novo sistema. Um dos custos que precisam ser contabilizados por algumas empresas é o da perda do incentivo fiscal. “Qual é a vantagem montar empresa em um município onde não tem muita mão de obra, consumo e logística de transporte. Será preciso um planejamento tributário”, alerta.Para o advogado tributarista Sidnei Pimentel, é fundamental esta preparação. Segundo ele, projetos de curto prazo já começam a ser impactados. Por isso, quem tem o projeto de uma fábrica para 2027, por exemplo, já precisará iniciar suas atividades com tudo adaptado para o início da CBS. Projetos da construção civil, que terão sua carteira de recebimento ao longo dos próximos anos, precisam estar prontos para entender o impacto da tributação nos negócios, pois haverá repercussão. “Quando ele começar a vender as unidades, pode ter prejuízo se não estimar o tamanho deste impacto o quanto antes”, alerta. Quem deixar para última hora pode não conseguir se preparar a tempo. O tributarista lembra que muitos segmentos terão aumento de carga, como setor de prestação de serviços de modo geral. “É a nova realidade e precisamos nos preparar porque 2026 está batendo à porta com a alíquota teste”, destaca.Para qualificar empresários e contadores de Goiás, o CRCGO sedia hoje, em Goiânia, o seminário “Reforma Tributária pelo Brasil”, promovido pela Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon). O evento contará com a participação do auditor-fiscal da Receita Federal Marcos Hübner Flores, gerente do projeto de implantação da Reforma Tributária do Consumo.