Estes primeiros dias de 2022 estão sendo marcados pela lotação de postos de saúde e hospitais com pacientes buscando atendimento médico com sintomas de gripes ou mesmo Covid-19. Isso acaba se refletindo em diversos setores da economia, que chegam a ter 30% do quadro de funcionários afastados por alguns dias. A Federação das Indústrias do Estado (Fieg) distribuirá cartilhas alertando as empresas para a necessidade de reforçar os protocolos sanitários a fim de evitar novos contágios, que podem comprometer o ritmo das linhas de produção.A retomada de atividades econômicas, o horário de funcionamento normalizado no comércio e a liberação de espaços de cultura e lazer transmitiram à população uma sensação de normalidade que levou muita gente a se descuidar de práticas como o uso de máscaras e álcool em gel. A chegada de novas variantes de Covid e a expansão do vírus Influenza fizeram a contaminação voltar a crescer, principalmente durante as festas de fim de ano. Agora, o objetivo é voltar a reforçar os cuidados nas empresas, entre trabalhadores e clientes.O presidente da Fieg, Sandro Mabel, conta que a entidade já emitiu um alerta no último mês de dezembro sobre a necessidade de reforçar os protocolos sanitários nas indústrias, contra Covid e gripes, para que os afastamentos de trabalhadores não prejudiquem as linhas de produção. Segundo ele, algumas empresas já chegam a ter 30% de sua força de trabalho afastada e o problema só não é maior porque são afastamentos por períodos mais curtos.Mesmo assim, devido ao alto grau de transmissão, Mabel informa que a recomendação é que as empresas ampliem o funcionamento em regime de home office, quando for possível. “É preciso espalhar o pessoal para evitar as contaminações”, alerta. Ele informa que o Sesi também deve antecipar a vacinação dos trabalhadores contra o vírus Influenza, que no ano passado ocorreu no mês de março e, este ano, deve acontecer já no próximo mês de fevereiro. “Corremos o risco de termos algumas linhas de produção paradas e a falta de matérias-primas. É preciso reforçar os cuidados agora, pois postos de saúde estão lotados, apesar de não termos aumento de internações”, alerta.O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Goiás e Tocantins (FTIA), Edvard Pereira de Souza, confirma que houve um aumento significativo do número de atestados médicos apresentados nas últimas semanas, que chegaram a dificultar o trabalho em algumas linhas de produção. “Nas indústrias, há muitas funções altamente especializadas, onde não é possível fazer substituições de imediato, e o andamento da produção já foi prejudicado em vários momentos”, informou.ComércioA gerente administrativa e financeira da CDL Goiânia, Hélia Gonçalves, informa que a própria entidade teve um grande número de funcionários que foram afastados por gripe ou Covid nos últimos dias. “Eu mesma estou em home office por ter testado positivo para Covid”, destaca. Segundo ela, muitos lojistas também têm reclamado desta recente alta no número de faltas de funcionários e da apresentação de atestados médicos.“Como os sintomas são parecidos, muita gente acha que é só uma gripe e até não faz o teste. Por isso, é preciso retomar os cuidados com rigor, pois muita gente acabou abandonando os protocolos sanitários”, alerta Hélia. Ela ressalta a importância das empresas reforçarem a comunicação com seus funcionários pedindo a adoção destas práticas.Para o presidente da Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio-GO), Marcelo Baiocchi, as empresas estão sofrendo com a falta de mão de obra. “Temos unidades do Sesc que estão com 20% dos funcionários afastados, mas estamos remanejando para não deixar de funcionar”, informa.Baiocchi, diagnosticado com Covid na semana passada - os sintomas são leves, sobretudo porque já havia se vacinado com a primeira e a segunda doses-, acredita que haverá um pico agora para uma posterior volta aos níveis normais, pois as pessoas já estão mais preocupadas e voltando a adotar os protocolos. Enquanto não houver este recuo da contaminação, ele acredita que as empresas terão que se adequar, substituindo pessoas em algumas áreas. “Não acredito na necessidade de fechamentos ou diminuição das atividades. Estamos tomando medidas como cancelamento de férias e fazendo remanejamentos para que tudo continue funcionando normalmente”, completou.Trabalhador temporário não é chamado para substituição O avanço dos casos de funcionários afastados com Covid nas últimas semanas não se refletiu em aumento das contratações temporárias para substituí-los, segundo a Asserttem (associação do trabalho temporário). Para Marcos Abreu, presidente da Asserttem, as empresas contratantes estão com dificuldade de prever se a ômicron pode vir a afetar também a demanda, o que pode estar levando à decisão de segurar a operação neste momento, em vez de contratar mais mão de obra.“As empresas estão preferindo desligar operação a inserir temporários. Estão com medo. Por exemplo, os serviços para pessoa física, que deveriam estar aquecidos no verão, não estão. São bares, restaurantes, clínicas médicas, salão de beleza”, afirma.Abreu diz que o setor está assustado diante das previsões. Segundo ele, o cenário de incertezas que se observa neste mês de janeiro se assemelha a abril de 2020, no começo da pandemia. “A indústria também não está repondo os trabalhadores que estão se afastando. Estão com medo de que as demandas não sejam mantidas por causa da ômicron”, afirma.A recente escalada de Covid e gripe já atinge a operação de vários setores, de hospitais a restaurantes. Na aviação, companhias aéreas anunciam o cancelamento de voos após o aumento de casos de tripulantes contaminados. Lojistas dizem que, nesta semana, vão pedir aos shoppings que reduzam o horário de funcionamento para apenas um turno devido ao afastamento de trabalhadores e à redução no fluxo de consumidores.Shoppings dizem que monitoram novos casosDiante da proposta de um grupo de lojas para que os shoppings reduzam o horário de abertura nos próximos dias devido ao avanço da ômicron, a Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) afirma que cada caso deve ser avaliado individualmente.“Sobre os novos casos de Covid e Influenza, as situações estão sendo acompanhadas de perto e vale salientar que há cenários divergentes entre os mais de 100 mil lojistas e 600 shoppings nos país, o que requer um olhar único para cada caso pontual e não uma regra generalizada que inviabiliza o setor, uma vez que já foi exposto que os shoppings são capazes de operar com responsabilidade e segurança”, afirma a Abrasce em nota.Neste domingo (09), a Ablos, associação que reúne redes de lojas como Gregory, Tip Top e Dr.Feet, decidiu levar aos shoppings um pedido para que os horários de abertura sejam reduzidos por algumas semanas. Para Mauro Francis, presidente da Ablos, o tempo menor de funcionamento ajudaria os varejistas a lidar com o problema da falta de funcionários que receberam dispensa médica após contrair Covid ou gripe nos últimos dias.A proposta discutida pelos lojistas seria a de encurtar o atendimento para apenas um turno neste momento de crise mais aguda do contágio. A medida, segundo Francis, também seria oportuna porque permitiria redução nos custos neste momento em que o fluxo de clientes também está mais baixo. A Alshop, outra associação do setor que abrange varejistas de maior porte, discorda da ideia, segundo Nabil Sayoun, presidente da entidade. Para ele, a solução para contornar as dispensas de pessoal com gripe ou Covid é contratar funcionários temporários, que poderiam trabalhar alguns dias na semana ou durante o período de atestado da equipe, segundo Sahyoun.Ele também diz que as lojas poderiam negociar descontos com os shoppings pelo tempo que permanecessem de portas fechadas, caso todos os funcionários fossem contaminados. “Imagina o comércio fechar lojas porque os funcionários estão com problema de saúde? O varejo existe por causa do consumidor. Se o consumidor quiser que a gente abra 24 horas por dia, nós vamos abrir com o maior prazer. Tivemos muitos prejuízos no ano passado. Não podemos pensar em reduzir o horário nem que seja meia hora”, diz.GoiásPara o empresário goiano Fernando Maia, membro do Conselho Executivo da Abrasce, não existe um problema generalizado que indique a necessidade de alteração no horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais. Segundo ele, o que pode ocorrer são problemas pontuais em determinadas lojas, que devem ser resolvidos individualmente, pois não comprometem toda a operação de um centro comercial.A Abrasce e a Alshop, que são as duas principais entidades representativas do setor, também não reconheceriam a representatividade da Ablos. “Estão criando um barulho desnecessário para algo que não existe. Nem de longe temos o alcance dos problemas que já tivemos antes por causa da pandemia. Não é nada que possa comprometer as operações, principalmente porque os atestados médicos agora são de curto prazo”, destaca.Em nota, o superintendente Comercial do Flamboyant Shopping Center João Ricardo Gusmão Ladeia disse que até o momento, o empreendimento não identificou alteração no quadro de colaboradores de lojas ou administração. “O atendimento segue normalmente sem qualquer intercorrência na operação ou mesmo solicitação por parte dos lojistas, que fuja ao escopo atual”, reitera.“Não tivemos nada que pudesse demandar alguma alteração no horário de funcionamento de shoppings ou do comércio em geral. Só se for de algum estabelecimento mais específico, nada mais”, reforçou o presidente do Sindilojas Goiás, Eduardo Gomes. Mas, segundo ele, as entidades comerciais estão incentivando o reforço dos protocolos de segurança para evitar um aumento do contágio.