Quem precisou abastecer o carro nesta quarta-feira (5) levou um susto com os novos preços nas placas informativas colocadas nos postos de Goiânia. O preço médio do litro do etanol subiu R$ 0,60 de uma só vez e chegou a R$ 4,59, um reajuste de 15%, considerando um preço médio anterior de 3,99. A gasolina também subiu pelo menos R$ 0,23 e chegou a R$ 5,99. Entre os motivos para a forte alta do etanol, está o fim de uma promoção feita pelas distribuidoras durante o mês de abril, depois que os decretos para conter a proliferação do coronavírus desaceleraram o consumo. O problema é que a posterior flexibilização dos decretos e a retomada das atividades econômicas impulsionaram o consumo num período de estoques ainda baixos nas usinas. Apesar de abril marcar o início da safra de cana de açúcar na região Centro-Sul do País, este ano esta retomada do ritmo da produção sucroalcooleira está mais lenta por conta de problemas climáticos que prejudicaram o tempo de colheita. “O consumo cresceu muito e a velocidade da safra ainda não conseguiu acompanhar porque a estiagem não deixou a cana ficar no ponto ideal e ainda reduziu seu rendimento”, explica o presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol no Estado (Sifaeg), André Rocha. O resultado foi que o preço do combustível nas usinas goianas, que era de R$ 2,15 na semana entre 29 de março e 1º de abril, chegou a R$ 2,52 entre 19 e 23 de abril. Na semana passada, o valor recuou um pouco e ficou em R$ 2,43, mas essa queda que não foi suficiente para reduzir o impacto do reajuste feito esta semana. André lembra que as companhias distribuidoras reduziram o ritmo de suas compras de etanol, aguardando o início da safra de cana, quando a oferta cresce e os preços tendem sempre a recuar no mercado. Mas o fim das restrições da economia em vários Estados e o consumo bem maior encontraram um ritmo da produção abaixo da média para este período, pegando as companhias com estoques abaixo do necessário. “Agora, houve uma corrida para comprar e a relação oferta e demanda pressionou os preços”, avalia.Mas o presidente do Sifaeg informou que as usinas também tiveram um forte aumento de custos, depois de muitas altas nos preços do óleo diesel, fertilizantes, adubos, arrendamento de terras, tratores, colheitadeiras e até com as medidas extras de segurança dos trabalhadores por causa da pandemia. “Se a colheita estivesse num ritmo normal, com certeza as indústrias não conseguiriam repassar isso para os preços”, ressalta. Mas André prevê que o mercado alcance um equilíbrio maior com o aumento gradual do ritmo de colheita da matéria-prima. RecomposiçãoSegundo notas fiscais de compra de combustíveis dos postos, o reajuste praticado pelas distribuidoras foi bem menor que o dos postos e ficou em 5% entre o último dia 23 de abril e ontem. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo em Goiás (Sindiposto-GO), Márcio Andrade, lembra que os preços tiveram uma redução significativa em abril, quando era possível encontrar o litro de etanol por até R$ 3,79. “Algumas distribuidoras fizeram promoções com a expectativa de início da safra de cana. Agora, estas promoções acabaram, pois a economia voltou a funcionar, e não houve a esperada redução de preços do início de safra”, acredita.Márcio explica que este reajuste bem maior nos postos do que nas distribuidoras ocorre porque quando as companhias reduzem o preço em promoções, também obrigam os postos a abrirem mão de uma parte de suas margens para poderem comprar mais barato e, assim, todos venderem mais. Neste cenário de mais vendas, segundo ele, é possível praticar margens menores, que são compensadas pelo volume. “Porém, quando a distribuidora tira este desconto, as vendas caem e a margem do posto precisa ser recomposta para que ele consiga cobrir seus custos. É uma questão promocional que mexe com toda estrutura de preços”, conta.Apesar da queda do preço praticado nas usinas goianas na última semana, o presidente do Sindiposto adverte que os valores praticados em outras regiões produtoras tiveram alta esta semana. Em Paulínia (SP), o valor do metro cúbico subiu de R$ 2.803,00 na última segunda-feira (3) para R$ 3.005,00 ontem. “O mercado do etanol está em alta num período de tradicional queda dos preços”, destaca o presidente do Sindiposto. Segundo ele, o valor da gasolina também tem sofrido uma pressão do preço do etanol anidro, que custava R$ 2,32 no início do ano e chegou a R$ 2,97 na segunda quinzena de abril.