Apesar do avanço do estabelecimento de regras e estratégias para a exploração de minerais críticos em Goiás e do interesse do governo estadual em levar adiante a pauta, um encontro focado na mineração e fabricação de produtos tecnológicos a partir de terras raras, nesta terça-feira (16), na sede da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), teve como principal discussão a atração de indústrias para desenvolverem as cadeias produtivas em solo goiano. O esforço passa pelo desafio de transformar o potencial mineral do estado em geração de valor, além do trabalho de integração.As falas no evento destacaram os obstáculos a serem superados para que Goiás deixe de ser apenas exportador de matéria-prima - entre eles, estão a necessidade de desenvolver tecnologia própria para separação, purificação e redução dos minérios, o domínio sobre processos de moagem e composição de ímãs e a proteção da propriedade intelectual dessas etapas. A ideia é aproveitar a janela de oportunidade aberta pela transição energética e pela demanda global por ímãs, baterias e outros componentes que dependem de terras raras.O debate ocorre em meio a avanços na regulação do setor com a criação da Autoridade Estadual de Minerais Críticos (Amic), responsável por assessorar o Executivo na formulação de políticas públicas. A lei estadual nº 23.597, de agosto, também autoriza a instituição de Zonas Especiais de Minerais Críticos (ZEMCs), áreas com potencial comprovado de exploração, beneficiamento, industrialização e comercialização, com prioridade de licenciamento ambiental.Ao reforçar a descoberta das três mais importantes jazidas em Goiás - nos municípios de Minaçu, Nova Roma e Iporá -, o presidente da Fieg, André Rocha, confirmou que o principal interesse, incluído nas tratativas com o governo estadual, é o de partir para o processo de industrialização dos minerais em Goiás, verificando os investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento. “E ao mesmo tempo propor políticas públicas para poder incentivar não só a extração mineral, mas sobretudo agregar valor e poder potencializar. Nós sabemos que nós temos um uso vasto desses minerais críticos, sobretudo na fabricação de ímãs, que podem ser utilizados desde tomógrafos a motores elétricos, como equipamentos de defesa”, afirmou Rocha.InovaçãoPara o presidente do Sindicato da Indústria da Mineração do Estado de Goiás e Distrito Federal (Minde), o geólogo Luiz Antônio Vessani, o questionamento mais recorrente é por que Goiás não tem ainda um parque industrial para utilizar os minerais.“A resposta é bem simples. Porque não existem indústrias na maior parte do mundo. Muito menos vai ter em Goiás. E não se trata de decreto. É um esforço que demanda investimentos em muitas coisas. É uma coisa que o político não gosta de fazer: investimento em ciência e tecnologia. Uma coisa que demora muito tempo, e o resultado, talvez, não chegue a tempo dele se reeleger. O que existe é o esforço dos institutos em desenvolver estudos sobre essas etapas de agregação de valor para que se possa oferecer para as empresas que queiram investir nisso”, disse Vessani.O secretário estadual de Indústria, Comércio e Serviços, Joel Sant’Anna Braga, reforçou que grupos da China, Japão e França estudam se instalar em Goiás. “Esse é o interesse principalmente da indústria naval, de trens rápidos, de tomógrafos, de turbinas eólicas, de motores elétricos. A gente não quer só exportar a terra. É fazer com que essa commodity se transforme também em uma segunda etapa do processo”, afirmou.O encontro foi promovido pelo Minde em parceria com a Fieg e contou com a participação de lideranças empresariais de vários estados, além de representantes sindicais e integrantes da Câmara Setorial da Mineração (Casmin). O objetivo foi apresentar Goiás como ambiente favorável a investimento e estimular que empresas do setor se estabeleçam no estado, aproveitando o potencial mineral e o momento favorável para a indústria. Também participaram Murilo Magato e José Palma (Aclara), Luís Gonzaga Trabasso (Instituto Senai de Inovação/SC), Gilmar Nunes (Cimatec/BA) e André Luiz Faria (coordenador de Inovação).