O consumidor deve sentir a falta de alguns produtos nesta Black Friday e Natal, como brinquedos e artigos eletrônicos. O principal motivo seria um desabastecimento global de matérias-primas importantes, de resinas plásticas a semicondutores, o que obrigou as indústrias a produzirem menos que o esperado. O resultado são pedidos com entrega atrasada, que só devem chegar em 2022 ou que já foram recusados, e preços mais altos, o que deve afetar as compras de fim de ano.Faltam plásticos para fabricar brinquedos e eletrodomésticos, componentes eletrônicos para celulares, refrigeradores e carros, insumos para produção de bicicletas e até caixas de papelão para embalagem. Não há exceções, até revendedores da gigante Coca-Cola relatam escassez na oferta de alguns produtos.O gerente do Atacadão de Brinquedos Estrela Mar, Vagner Alves da Costa, confirma que indústrias estão com falta de alguns produtos, dos mais baratos aos mais caros. A justificativa é a escassez de matérias-primas como o plástico, além da alta do dólar e de dificuldades para importação de componentes. “O que mais pode faltar são itens de menor valor, muito procurados nesta época, como pequenos carrinhos, bolas e bonecas mais simples, como brinquedos para doações”, destaca.Jogos mais simples, como o famoso Pega Varetas, estão na lista. Vagner lembra que brinquedos mais caros, apesar de estarem com a oferta mais reduzida, correm menos risco de faltar porque têm menor demanda. “A inflação também pode reduzir a procura, já que as famílias estão com mais dificuldade de orçamento. Mas estamos confiantes num bom Natal”, prevê.O consumidor também deve ter mais dificuldade para encontrar produtos em lojas de eletrodomésticos e eletrônicos. O diretor comercial da rede Fujioka, Dvair Borges Lacerda, conta que a empresa antecipou as compras e a maioria dos produtos para a Black Friday e o Natal já chegou. Porém, lembra que algumas categorias já estão em falta no mercado há algum tempo, em especial smartphones. “O consumidor terá dificuldade para encontrar vários modelos.” Dvair informa que também há falta de monitores, roteadores, videogames e até alguns itens de cuidados pessoais, como máquinas de corte. “Faltam placas de vídeo para montar computador gamer”, destaca. Também há problemas com a oferta de TVs de 50, 43 e 32 polegadas. “Mas o produto que mais deve faltar é mesmo o celular, que depende de um chipset, um componente em falta nos fabricantes”, alerta o diretor comercial. O diretor comercial da rede Novo Mundo, Leidomar Azevedo, dá o exemplo de alguns itens da linha branca, que têm componentes importados da China. A produção de refrigeradores, por exemplo, está prejudicada pela falta de um chip, também usado em celulares. A escassez deste componente foi causada por interrupções da produção em países como Coreia do Sul e Japão, em virtude da pandemia. Leidomar diz que a linha mais afetada é a de telefonia celular e devem faltar muitos modelos neste fim de ano. “O maior fabricante hoje enfrenta uma redução drástica de matéria-prima para produção. Teremos uma redução na oferta de smartphones para Black Friday e Natal”, prevê.A produção de televisores também está menor por conta do forte aumento no custo dos painéis, segundo o diretor comercial do Novo Mundo. Os reajustes não foram acompanhados pelo poder de compra da maioria das pessoas, por isso os fabricantes priorizam a produção de TVs maiores, com maior valor agregado. “Para reduzir o problema, antecipamos nossa programação de compras, aproveitando o que a indústria ainda tinha de disponibilidade, e aumentamos nosso estoque”, garante.ConcessionáriasNas concessionárias, a fila de espera por um veículo não para de crescer e pode chegar a seis meses. O gestor comercial da concessionária Jorlan, Márcio Macedo, lembra que a espera é maior para caminhonetes e para modelos mais demandados, com o Onix. “Se o cliente fizer questão de algumas cores e opcionais específicos, pode ter que aguardar uns seis meses.”O motivo é a falta de matérias-primas, como semicondutores. Com a falta destes chips, que gerenciam vários recursos nos carros, as linhas de produção de quase todos os fabricantes reduziram ou pararam a produção. Preço da resina plástica levou indústrias a reverem pedidosO presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa, informa que a indústria nacional oferece 4.700 brinquedos diferentes, dos quais 952 novidades chegaram ao mercado para o Dia da Criança, em outubro e outras 400 chegarão para o Natal. Segundo ele, o maior problema é o preço da matéria-prima, e não a falta, por causa de uma verdadeira guerra de demanda no ambiente de matérias-primas. Por isso, as indústrias seguraram os pedidos com fornecedores de resina plástica, por exemplo, para recusar novos aumentos, o que já teria causado um recuo dos preços. “Não aceitamos reajustes como eles queriam e ganhamos a batalha”, garante. Mas a consequência disso, admite ele, é que alguns brinquedos estão chegando às lojas numa quantidade menor que a pedida.As indústrias também precisaram fazer adaptações. “Por exemplo: queríamos lançar uma boneca que falaria sem parar e responderia a estímulos, mas o chip não chegou e precisamos adaptar uma outra”, explica o presidente da Abrinq. Faltam componentes para a produção também porque as indústrias chinesas estão com funcionamento reduzido. Por outro lado, a indústria nacional deve sofrer menos com a concorrência de brinquedos importados, pois a alta do dólar deixou o produto de fora bem mais caro.Mas a proprietária de uma loja de brinquedos num grande camelódromo da capital, a empresária Fátima de Castro garante que faltam brinquedos importados e também muitos nacionais. “Não estamos conseguindo comprar patinetes, skates, kit capacete, joelheiras, cotoveleira, carrinhos de boneca e muitos outros produtos.” Para ela, muitos destes brinquedos não podem ser substituídos. “O resultado disso é que perderemos muita venda, com certeza”, prevê. -Imagem (Image_1.2358469)