A geração distribuída de energia por fonte solar cresceu quase cinco vezes nos últimos dois anos em Goiás. As potências dos sistemas instalados em empresas, residências e no setor público somadas alcançaram o marco de 436 mil quilowatts (kW) em 2021. Com recorde de novas conexões, a produção passou a estar presente em todas as regiões do Estado. Fechou o ano em 242 municípios com pelo menos um sistema instalado e, neste mês, já passou para 245 cidades.A visualização de telhados com placas fotovoltaicas ficou mais comum, porém o mercado ainda acredita que há potencial para crescimento. Goiás é o sétimo no País neste tipo de geração. O primeiro lugar é de Minas Gerais, cuja potência instalada é de 1,5 milhões de kW. Estímulos para alavancar o setor não têm faltado, a começar pela conta de luz, cujas tarifas e bandeiras ficaram mais elevadas devido à crise hídrica.Soma-se a isso a preocupação com os recursos naturais, o aumento de linhas de crédito para financiamento dos sistemas e uma mudança na legislação que era discutida e põe prazo para acabar com benefícios da geração distribuída.Esta última provoca desde 2019 uma corrida para manter o direito que torna a geração distribuída um investimento muito vantajoso. Em 7 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou lei que mantém isenção de encargos até 2045 para os atuais clientes ou para quem instalar em até 12 meses depois da publicação da nova regra. Assim, 2022 promete manter o ritmo dos últimos dois anos.Gerente de Energia Solar da DCCO, Paulo Henrique Ferreira Campos conta que a empresa viu a procura pelas instalações mais do que dobrar mesmo com os desafios da pandemia. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o número de conexões no Estado por ano cresceu 92,54% de 2020 para 2021. Nem o desabastecimento de peças importadas ou a queda na renda da população conseguiram limitar a busca pela geração fotovoltaica.“No final do ano, saíram mais financiamentos e muitos projetos surgiram e os clientes correram também para garantir benefícios antes que saísse a lei.” Ele conta que o estoque zerou e somente no fim de janeiro e início de fevereiro é que está prevista a chegada dos equipamentos para tirar do papel mais sistemas. A demanda mundial, em especial da China, pressionou os preços, que estima ter aumentado 30% no caso dos painéis durante a pandemia. Uma pressão que deve continuar.A alta do dólar também pode trazer alteração nos preços. Contudo, o especialista defende que ainda é investimento que compensa, porque a conta de energia também aumentou muito. Tanto que o retorno (payback) se manteve entre quatro e seis anos. É de olho nessa janela de oportunidade que o diretor de cooperativa de crédito Genilson Nunes Pinheiro indicou em Goianésia para pessoas próximas a geração para fábrica de ração animal e residência dos sócios. Ao todo, investiram R$ 145 mil.“No Sicoob Coopercred, fomos uma cooperativa pioneira no País, em 2016, com a geração. Hoje pagamos somente a tarifa básica de energia e tivemos o retorno do investimento”, pontua ao citar que a fatura saiu de R$ 4 mil por mês para R$ 200.Diretor de negócios do Sicoob Unicentro BR, Evandro Freo explica que as instituições financeiras buscaram nos últimos anos dimensionar linhas de crédito para um equilíbrio nessa conta. “O cooperado pode pagar o financiamento por até 72 parcelas e 90 dias de carência. Depois só tem ganho com mais 20 anos de vida útil do equipamento e com economia na fatura de energia de até 95%.”Pela instituição, explica que há taxas a partir de 1,05% ao mês tanto para pessoas físicas como jurídicas. A opção é defendida como fator que pode ajudar a democratizar o acesso a geração de energia mais sustável. “A instalação leva de três a quatro dias para projeto residencial. O custo está acessível e chama atenção pelo retorno.”Consumidores têm até 2023 para garantir benefícioFoi publicado no Diário Oficial da União, no dia 7 de janeiro, o marco legal para micro e minigeradores de energia. Com a Lei 14.300/2022, as condições para os consumidores que produzem a própria energia a partir de fontes renováveis, como a solar fotovoltaica, mudou. Até 2045 os clientes que já possuem estruturas instaladas vão manter a isenção de encargos, o que vale para quem solicitar acesso à rede das distribuidoras em até 12 meses após a nova legislação.Porém, a partir de 7 de janeiro de 2023, o repasse de encargos começa aos poucos em 15% até atingir 100% em 2029. Advogada especialista em direito de energia, Ingrid Elias pontua que a legislação deixou as regras claras sobre os prazos e o direito adquirido.“Hoje, o que é gerado é compensado na conta de energia. O que vai ficar diferente.” Ela explica que havia preocupação do setor em ter direito por 25 anos, que é o tempo médio de vida útil dos equipamentos. “Só que essa discussão se arrastou desde 2019, então não deu 25 anos, mas 23 anos.”O marco é visto como ponto para equilíbrio no mercado para compensar as distribuidoras de energia, porque há uso da rede e da manutenção paga pelos consumidores em geral. Já para os investidores da chamada geração distribuída, a especialista explica que será preciso observar os prazo e, com a nova lei, até questões como titularidade para a compensação dos créditos, para que ocorra o resgate dos créditos.“Antes os consumidores perguntavam para as empresas até quando poderia compensar e não se tinha resposta nenhuma. Agora tem e, por isso, a expectativa de crescimento de até 150% no setor. Há também preparação para um ambiente mais seguro e maduro para esses investimentos.” Ela acrescenta que há mudança profunda inclusive com padronização de formulários para parecer de acesso, o que deve auxiliar a regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).Ingrid pontua que há previsões até sobre banco de baterias e armazenamento de energia, ponto que mostra atenção à futura modernização.-Imagem (1.2390910)