Goiás passa a fazer parte de uma rede nacional de pesquisas que estão viabilizando a produção de combustível renovável. A Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável inauguraram o Laboratório de Pesquisa em Processos Renováveis e Catálise (GOH2), no Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG), no Campus Samambaia. O laboratório vai produzir petróleo sintético, com a utilização de energia fotovoltaica a partir de resíduos agroindustriais, algo inédito, aproveitando o potencial produtivo da região, com muitas indústrias ligadas ao agronegócio.A Cooperação Brasil Alemanha, através dos ministérios das Minas e Energia e da Ciência, Tecnologias e Inovações, resultou nos projetos H2Brasil e ProQR (combustíveis alternativos sem impactos climáticos), que visam impulsionar a produção de combustível sustentável no Brasil. O novo laboratório marca o início da condução dos estudos no Centro-Oeste, na busca por alternativas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O foco do novo laboratório é a inovação no desenvolvimento de estudos e pesquisas com foco em hidrogênio verde e na produção descentralizada de Combustíveis Sustentáveis de Aviação (SAF).O H2Brasil financia e desenvolve atividades junto a universidades, empresas e governos para aprimorar as condições legais, institucionais e tecnológicas para o desenvolvimento do mercado de H2V (hidrogênio Verde) no Brasil. O professor do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ UFG) e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Processos Renováveis e Catálise (GOH2), Christian Gonçalves Alonso, já trabalhava num projeto para produção de hidrogênio verde a partir de resíduos agroindustriais de plantas de biodiesel e do setor farmacêutico.O gás de síntese (mistura de 3 gases), matéria-prima para reconstrução de moléculas orgânicas dá origem ao petróleo sintético, já é produzido na UFG. O petróleo fabricado ainda deve passar por um processo de refino para se transformar em combustível. “É um processo que não utiliza carbono de origem fóssil”, destaca o professor. O objetivo é a substituição do combustível de origem fóssil, com foco na descarbonização da aviação, que não tem um combustível renovável alternativo, como os automóveis flex, que podem usar o etanol. Os alemães, que já têm expertise na produção de petróleo sintético, investiram 762 mil euros na aquisição de equipamentos na parceria com a UFG.Um dos compromissos firmados na Agenda 2030, constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e que foi assinada em tratado, é justamente a descarbonização do setor aéreo. Christian Gonçalves explica que, com a produção do combustível sintético, as empresas do setor podem alcançar este objetivo sem precisar investir pesado em infraestrutura, como mudar os motores das aeronaves, por exemplo. “Mas não adianta ter só o combustível homologado. A rota de produção toda dever ser homologada e certificada. É preciso ter a garantia de produção de combustível com a qualidade exigida pelos motores da aviação”, explica o professor.Segundo ele, pode ser que não se consiga reduzir as metas plenamente, mas qualquer queda já é importante para este tipo de poluição gerada pelos aviões numa região onde quase não é possível mitigar riscos. “O projeto visa incrementar as discussões em torno do tema para mitigar os impactos, fazendo um alerta de que essa é uma preocupação importante”, destaca o professor. O projeto terá participação de alunos e professores.Rede de pesquisas trabalha para melhorar qualidade do combustívelExistem investimentos de várias instituições federais em andamento nestas pesquisas, que aproveitam biomassa produzida regionalmente, de acordo com as características de cada local. O professor Christian Gonçalves lembra que só três editais conseguiram R$ 100 milhões em recursos para pesquisa e desenvolvimento de combustíveis alternativos e redução de impactos climáticos. Ele prevê que o futuro é a transição da economia do carbono para a do hidrogênio. A professora do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que coordena a rede de pesquisa em combustíveis sustentáveis para aviação, Amanda Duarte Gondim, conta que a rede promove o desenvolvimento e inovação para produção de bioquerosene de aviação no setor por meio de parcerias entre academia, indústria e governo. Segundo ela, resoluções já permitem a comercialização do produto no Brasil e até existem sete rotas homologadas no mundo.“Na Copa 2014, já houve voos comerciais que usaram o bioquerosene de aviação, que tem o mesmo rendimento da querosene usada atualmente”, lembra Amanda. Ela conta que o Brasil vai ganhar a primeira biorefinaria para produção de diesel verde (HVO), da Brasil BioFuels (BBF), que está sendo construída na Zona Franca de Manaus. A indústria, que terá capacidade para produzir 500 milhões de litros de diesel verde por ano e deve começar a produzir em 2025, recebeu um investimento de US$ 1,8 bilhão.A professora informa que o objetivo da rede é fomentar as pesquisas para incentivar a instalação de várias destas unidades produtivas no País. “Esta rede, da qual a UFG faz parte com o novo laboratório, recebe recursos para buscar mais tecnologias que melhorem a qualidade e o rendimento do combustível verde”, explica. Leia também:- Com endividamento em alta, especialista recomenda cautela com o 13º- Trabalhadores, maioria mulheres, pedem jornada menor e salário igual para cuidar de filhos