No indesejável ranking da inflação, Goiânia fecha o ano em primeiro lugar no aumento do custo de vida no País. O IPCA-15, prévia da inflação oficial, apontou uma forte pressão generalizada dos alimentos neste mês e registrou elevação de 1,33% na capital. Este é terceiro mês consecutivo que Goiânia desbanca as demais capitais. O acumulado do ano aponta 7,13%, bem acima do teto da meta, que é 6,5%, ficando atrás só do Rio de Janeiro (7,42%).Em Goiânia, além dos alimentos consumidos no domícilio que subiram 3,87%, impulsionados pelas carnes com alta de 7,81%, a pressão também dos combustíveis, com reajuste médio de 4,24%), com alta de 4,44% na gasolina e 3,15% no etanol. InstabilidadeMesmo com a forte vocação na diversificação agrícola, o Estado não ficou imune às instabilidades dos preços dos alimentos ocasionadas pelas intempéries climáticas que vêm atingindo áreas produtoras ao longo deste ano.Com a entrada do período chuvoso, que chegou forte este mês, há quebra na produção de até 20% em algumas hortaliças. O clima beneficia também a infestação de pragas, diminuindo a qualidade dos produtos.A alface, por exemplo, registrou aumento de 11,27% (veja quadro). As chuvas prejudicam a batata-inglesa, justamente no período de entressafra. Essa combinação fez com que o alimento tivesse aumento de 40,62%. “A batata vinha com valor muito abaixo do mercado e agora teve uma forte recuperada nos últimos 30 dias”, diz o gerente técnico do Ceasa, Juarez Lopes Siqueira.Na outra ponta, Goiás também está abastecendo mercados produtores que sofreram com a forte estiagem nos últimos meses, como São Paulo e Minas Gerais. “Houve uma redução significativa da colheita nestes Estados e, na relação da oferta e demanda,o mercado goiano começa a buscar um mercado que não era seu e o preço daqui acompanha”, explica o economista, Rui Dias.O motociclista Elias de Jesus diz que fica de olho nos preços dos alimentos que estão em alta, substituindo-os da lista de compras. “O tomate está caro há muito tempo”, diz. De quebra, reclama do preço das frutas nesta época do ano. A banana maça saltou 17,27% neste mês. CarneA novela continua com o aumento dos preços de diferentes cortes e tipos de carnes. A toada começou há cerca de três meses e não deu mais trégua ao bolso do consumidor. A disparada de preços atingiu carne de primeiro corte, segundo corte, suína, frango e até pescado.A aposentada Ivonilda Machado descolou uma tática para fugir da escalada de preços. “Há três meses que o preço da carne não para de subir. Agora faço pesquisa em sites de supermercados ou pelos anúncios”, afirma. Ela imprime as ofertas de cada supermercado e desloca até o estabelecimento que cobre os preços dos produtos. “Estou economizando assim”, ensina.O argumento do setor é que o preço da arroba do boi ficou muito aquém do custo de produção nos últimos anos. Com isso, pecuaristas desfizeram de matrizes e agora faltam animais para abate. Em ocasiões similares, após sucessivos aumentos, o mercado tende a se ajustar, o que está demorando a ocorrer desta vez.Mas, segundo o economista Rui Castro, a demanda do mercado externo, sobretudo, Rússia e a alta do preço do dólar, favorecem a exportação e mantém os preços em alta no mercado interno. “A leitura do setor é que tiveram grandes perdas e agora estão recuperando”, afirma. Por isso, existe possibilidade de continuidade de elevações nos preços. Arroz e feijãoDepois de longa acomodação, a dupla preferida da mesa do goiano, o arroz e o feijão, também integram essa disparada de preços. Segundo o analista de mercado da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), Pedro Arantes, no primeiro caso, o cereal está no período de entressafra.“Com relação ao feijão, ficamos praticamente três meses sem colher o produto”, diz. Ele explica que, pelo primeiro ano, a leguminosa passa por vazio sanitário, ou seja, a proibição do plantio. A medida visa diminuir a infestação da mosca-branca. “Só teremos feijão novo na segunda quinzena de janeiro”, afirma. Combustíveis“A engrenagem lá de casa mudou. Esperamos todos ficarem prontos para sairmos de carro de uma única vez”. Esta foi uma das alternativas encontradas pelo policial militar Laurestone Cardoso, para tentar reduzir o gasto de combustível. Ele também diminuiu o uso do veículo para o lazer. “Também não comemos tanto mais fora de casa”, afirma.Rui Dias explica que o aumento do combustível tem forte peso no custo de vida em função da extensão da cadeia produtiva do produto. “Ele impacta desde a indústria até o consumidor final. Tem efeito psicológico muito grande”, diz.-Imagem (Image_1.739778)-Imagem (Image_1.739779)-Imagem (Image_1.739782)