Num cenário em que os candidatos governistas assumem o comando da Câmara e do Senado a partir de fevereiro, o governo espera que o alinhamento entre eles ajudará a acelerar a agenda do ministro Paulo Guedes (Economia), inclusive agendas estruturais que demandam maior apoio no Congresso.Alguns projetos prioritários para a pasta já passaram por uma das Casas, mas não tiveram a tramitação concluída. É o caso da autonomia do Banco Central, aprovada pelo Senado e que foi deixada de lado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).A nova lei do gás (mudanças de regras para baratear o gás natural) já passou pelos deputados, mas, como foi modificada pelos senadores, precisará de novo sinal verde da Câmara. No caso do texto para estimular a cabotagem (navegação entre portos nacionais), falta a análise do Senado.O governo esperava encerrar 2020 sem essas pendências no Congresso. A falta de coordenação entre as Casas e os líderes do governo, porém, deixou as votações para este ano. Uma boa relação dos presidentes da Câmara e do Senado com o Palácio do Planalto gera expectativas de que a pauta econômica poderá avançar com menos atritos.As reformas tributária e administrativa (que muda as regras do funcionalismo público) estão na lista e vão demandar negociações entre Executivo e Legislativo. Mas o primeiro passo, caso se confirme a vitória dos apadrinhados do presidente Jair Bolsonaro – Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado –, é aproveitar a aproximação entre os Poderes para aprovar o Orçamento de 2021, diante do risco de interrupção de serviços e pagamentos. Outra prioridade é avançar em propostas que reduzem gastos públicos, em especial a PEC (proposta de emenda à Constituição) que corta gastos obrigatórios, como salários de servidores. Sem o Orçamento aprovado, o governo é autorizado a liberar uma parcela mensal a ser aplicada em despesas essenciais. A margem para alguns gastos obrigatórios, como remuneração de militares, é curta – há fôlego até abril. Boa parte dos recursos dessas áreas depende de aprovação de um projeto de lei de crédito extra que só pode ser enviado após o Congresso concluir a votação do Orçamento.Na Câmara, Lira (PP-AL) disse acreditar ser possível votar o Orçamento ainda em fevereiro. Se eleito, afirmou que, no dia 2, vai tentar pressionar pela instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO).O projeto com as previsões de despesas para 2021 ficou travado no ano passado por causa de uma disputa política entre Lira e o grupo do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tenta eleger um sucessor, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP).auxílio emergencialUm dos primeiros testes da base aliada de Bolsonaro em 2021 deverá ser na área social.Há pressão, mesmo dentro da ala governista, para que o governo pague uma nova rodada de auxílio emergencial, diante do aumento dos números de casos e mortes por Covid-19 e retomada de medidas de distanciamento social.O Ministério da Economia evitou se envolver na discussão enquanto o Congresso se preparava para a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado. Mas, em fevereiro, o governo e congressistas esperam uma pressão maior pela medida. A ideia de Guedes é apresentar uma contraproposta: cortar gastos públicos para balancear o custo com um novo auxílio emergencial ou ampliação da cobertura do Bolsa Família.Está em estudo uma versão mais focada do auxílio aos mais necessitados e com valor menor (mais próximo do benefício do Bolsa Família, que é de R$ 191 por mês). Em 2020, quando Guedes sugeriu R$ 200 por mês na pandemia, o Congresso decidiu elevar o montante para R$ 500, e, pressionado, o governo subiu o benefício para R$ 600.Técnicos do ministério defendem que o valor seja mais baixo, pois o endividamento do país cresceu muito em 2020 por causa das medidas de socorro a informais, desempregados e empresas. Além disso, querem atrelar essa votação à análise da PEC Emergencial, que prevê cortes temporários de despesas em momentos de aperto nas contas públicas.administrativaApós a análise dos temas mais urgentes, governistas querem destravar a reforma administrativa, que não avançou sob a gestão de Maia. Otimista, Lira vê chances de aprovar as mudanças que enxugam a máquina pública ainda no primeiro trimestre. A previsão é ousada. A PEC da reforma administrativa precisaria ter sua admissibilidade aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Depois, é necessário criar uma comissão especial destinada a emitir parecer sobre o texto.Na pandemia, a tramitação foi encurtada para permitir a votação de propostas importantes pelo plenário mesmo com a suspensão das atividades dos colegiados na Câmara e no Senado.Lira defende a volta dos trabalhos presenciais na Câmara, apesar do aumento dos casos de Covid-19, doença que já matou mais de 220 mil pessoas no país. Se decidisse criar a comissão especial da PEC da reforma administrativa, o colegiado teria até 40 sessões do plenário para dar seu parecer. Só depois a PEC seria submetida a todos os deputados.Outro desafio é a reforma tributária, que tem versões diferentes defendidas por Guedes e pelo relator da proposta da Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Se Lira assumir a presidência da Casa, membros da equipe econômica dizem que o formato defendido pelo governo, que fatia a reforma em várias fases, terá mais chance de avançar.Além disso, a equipe econômica espera avançar na promessa de realizar grandes privatizações, como a Eletrobras.