Os anos de 2020 e 2021 registraram crescimentos robustos nas ofertas públicas iniciais (IPOs) na Bolsa de Valores brasileira, que surgiram como oportunidades de ganhos para empresários e investidores em um contexto de juros baixos e otimismo sobre uma futura retomada do crescimento econômico no pós-pandemia.Nas últimas semanas, porém, as expectativas de negócios se desmancharam com a incerteza fiscal e a inflação recolocando o país em um cenário de juros altos para inviabilizar aplicações mais ousadas no mercado de ações.IPOs aguardados pelo mercado, como das empresas Kalunga, Havan, Bluefit, Eztec, Housi, You Inc, AgriBrasil e Comerc Energia, foram suspensos ou cancelados recentemente, segundo levantamento da iHUB Investimentos. Entre janeiro e setembro deste ano, ocorreram 45 IPOs, 66,6% a mais do que em todo o ano de 2020. Os valores das operações na comparação entre os períodos passaram de R$ 45,3 bilhões para R$ 63,4 bilhões.As somas das operações (72) e dos valores (R$ 108,7 bilhões) no biênio 2020-2021 representam altas de 1.520% e 1.380%, respectivamente, em relação às médias anuais de ofertas (4,4) e de volume financeiro (R$ 7,3 bilhões) registradas entre 2011 e 2019, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).Agora, analistas enxergam a retomada da onda de ofertas iniciais em um horizonte além das eleições de 2022 ou mais adiante, em 2023, quando o arrefecimento das pressões políticas por aumento nos gastos públicos tende a colaborar com controle da inflação e, consequentemente, com a queda nos juros.O ambiente para que empresas se abram ao mercado vem se deteriorando desde setembro, quando a aceleração da inflação mundial se combinou à crise institucional doméstica cujo agravamento ficou evidenciado pelos protestos de raiz golpista estimulados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).O cenário piorou em outubro, quando o governo tornou pública a sua intenção de furar o teto de gastos para aumentar despesas no ano eleitoral de 2022, ampliando ainda mais a percepção do mercado quanto ao risco fiscal do país. Somente em outubro, a Bolsa caiu 6,7%. Neste ano, as perdas são de quase 12%.