Uma abertura do mercado chinês para o feijão brasileiro pode impulsionar muito a produção goiana do grão. O interesse dos chineses pelo feijão do Brasil foi sinalizado num questionário técnico enviado para o Ministério da Agricultura, no mês passado, para conferir a viabilidade de iniciar os negócios por aqui.Goiás é o quarto maior produtor nacional, o segundo maior exportador do grão no País e tem potencial técnico para elevar suas lavouras rapidamente. Mas os produtores só se sentirão motivados se houver uma remuneração satisfatória, que cubra os altos custos de produção atuais.O sinal dos chineses animou a cadeia produtiva, que deve ter um recuo de produção 2022-2023. Para o presidente da Comissão de Grãos, Fibras e Oleaginosas da Federação da Agricultura do Estado (Faeg), Ênio Fernandes, um aumento da demanda seria muito positivo até para incentivar o cultivo em novas regiões goianas, como no Norte do Estado. Atualmente, os maiores produtores são Cristalina, São João da Aliança, Luziânia e Jussara.“Qualquer pequena movimentação de compra pelo mercado chinês impacta muito qualquer mercado produtor”, destaca Fernandes. Segundo ele, com uma demanda maior pelo produtor, deve haver mais investimentos em pesquisas, como o desenvolvimento de novas variedades mais adaptadas a outras regiões.Leia também:- Ceia de Natal se adapta aos impactos da inflação em 2022- Dólar e custo de produção mais altos pressionam preços“Hoje, já se planta soja em regiões que antes não se pensaria em Goiás porque o solo não é tão favorável. Levamos a soja para novas regiões do Estado porque as pesquisas nos deram as respostas que precisávamos”, explica.O produtor ressalta que áreas de solo mais frágil têm uma necessidade maior de calcário por hectare. Por isso, a necessidade de investimentos é maior no preparo deste solo, como já ocorreu com a soja anteriormente, quando ela chegou a novas regiões de Goiás.Isso significa novos desafios, mas também traz oportunidades em geração de empregos e movimentação da economia. “São culturas técnicas, que demandam uma maior qualificação da mão de obra”, destaca.Porém, o aumento da demanda também traz a perspectiva de melhores preços, pelo menos num primeiro momento, porque a produção atual é pequena. Mas, com o passar do tempo, Ênio lembra que o aumento da demanda estimula o plantio e eleva a oferta do produto, o que volta a fazer os preços recuarem.CustosPara o engenheiro agrônomo Renato Caetano, consultor da cultura de feijão da Completta Consultoria, Goiás tem capacidade produtiva para elevar sua produção. Mas o custo de produção pode ser uma barreira: atualmente, produzir um hectare de feijão irrigado em Goiás está custando cerca de R$ 10 mil por hectare.Hoje, a cotação do dólar está numa faixa favorável às exportações. “Mas, se cair para menos de R$ 5 e voltar para a faixa dos R$ 4, já não viabiliza mais por causa do custo, que está bem maior que há três anos, principalmente com adubação e energia para irrigação”, diz.Segundo Caetano, a resposta, com um aumento da produção no campo, seria rápida pois já temos a tecnologia pronta. Portanto, isso só dependeria de uma rentabilidade satisfatória na comercialização, na faixa de 25% a 30%, ou seja, compatível com os custos atuais, por se tratar também de uma cultura de alto risco.“Mas já temos tecnologia para minimizar isso e o Brasil pode produzir até três safras anuais, enquanto a soja tem apenas uma safra”, destaca. Em Goiás, é possível produzir em duas safras: a primeira junto com a soja e a terceira irrigada, a partir de abril.Mas o secretário de Agricultura, Desenvolvimento e Irrigação de Cristalina, município que mais produz feijão no Estado, Alécio Maróstica, adverte que, quando os chineses entram querendo comprar alguma coisa, como o feijão, a quantidade é muito maior que a produção disponível no País.Por isso, é preciso analisar como os produtores irão se organizar para elevar a produção de feijão. “Será que eles compram o tipo de feijão que produzimos aqui? Eu estive na China e lá eles têm um produto bem diferente do nosso”, alerta.De qualquer forma, Maróstica acha interessante o interesse chinês e, se for economicamente viável, o setor terá de se organizar para atender este mercado expressivo para exportação. “Acho que a produção de Cristalina seria insuficiente para atender esta demanda chinesa. Mas somando todos os que produzem feijão com irrigação, como Cristalina, Unaí, Paracatu e Entorno de Brasília, possivelmente podemos nos organizar para atender este mercado que é interessante para o Brasil”, avalia.Demanda por produção de feijão deve estimular pesquisa e investimentoQuanto mais compradores, maior a liquidez de mercado e o produtor se sente mais estimulado a produzir. Por isso, para o coordenador institucional do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), Leonardo Machado, a sinalização do interesse chinês pelo feijão brasileiro é uma boa notícia para o cultivo do feijão no Estado de Goiás, um dos maiores produtores brasileiros. “Depois da soja e milho, é uma de nossas principais culturas, mas ainda de importância secundária para muitos produtores. Por isso, a produção tem caído nos últimos anos, dando mais espaço para a soja e o milho”, avalia.Mas um início da importação pelos chineses pode dar uma virada de mesa na produção goiana, que hoje está muito ligada às áreas irrigadas, mas que também pode chegar a áreas de sequeiro. Leonardo lembra que a soja veio para o Brasil para fazer rotação com a cultura do trigo e acabou ganhando um espaço muito maior. “Um aumento significativo da demanda deve despertar maior interesse por investimentos em pesquisa e desenvolvimento, principalmente na melhoria de insumos”, destaca.O superintendente de Produção Rural Sustentável da Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado (Seapa), Donalvam Maia, diz que há um desejo dos governos do Estado e do País em abrir novos mercados para elevar a demanda pelos produtos goianos. “Para estimular ao aumento da produção, é preciso mais demanda e melhores preços. Um sinal de abertura de um novo mercado grande como a China já é muito positivo, assim como já ocorreu com o milho”, avalia. Por isso, a sinalização chinesa já animou o mercado.Porém, ele também ressalta que ainda é preciso ver o tipo de feijão que os chineses irão demandar, já que Goiás produz majoritariamente o feijão carioca, em pivô central. “É uma cultura anual de ciclo rápido, mas que depende de investimentos em tecnologia e manejo adequado”, lembra o superintendente da Seapa. Segundo ele, já existem muitas pesquisas em andamento para disseminação no País da cultura do feijão e pulses (lentilha, grão-de-bico e ervilha), grãos que os chineses também já manifestaram o interesse por comprar.-Imagem (1.2580518)