A alta inadimplência, rastreada pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil, reduz o volume de vendas, dificulta o acesso a crédito, aumenta custos operacionais e compromete a saúde financeira da empresa, podendo levar a demissões e até ao fechamento de negócios, como aconteceu com a lojista Elaine Silva, que garante ter ficado bem mais criteriosa depois das experiências negativas que teve.Alguns municípios do interior goiano também viram a inadimplência disparar, como Rio Verde, onde o montante de dívidas cresceu 53% em agosto em relação ao mesmo período do ano passado. Para o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-GO), Valdir Ribeiro, os dados são preocupantes, principalmente para o interior. “Problemas econômicos sempre impactam muito o comércio e a inadimplência, como os juros altos, e 42,9% da população adulta está endividada”, destaca. Ele lembra que a menor circulação de dinheiro impacta toda cadeia, pois o comércio deixa de vender e pagar seus fornecedores e várias outras despesas. Para quem vende no crediário próprio, o impacto da inadimplência é imediato. “Mas a pessoa que acumula parcelas no cartão e deixa de pagar, também não pode mais comprar. Não é nada bom pra nós ter tantas pessoas negativadas”, destaca. Segundo Ribeiro, o crediário próprio ainda é um meio de pagamento muito forte no interior, onde muita gente não tem acesso a cartões, mas é boa para pagar. Por isso, ele alerta que o importante, hoje, é negociar. “As vendas no crediário já caíram muito, mas este ainda é um instrumento importante, muito usado por pessoas mais humildes, que não acessam um cartão de crédito”, alerta.Por isso, ele salienta a importância de acessar o SPC Brasil, que dá informações para subsidiar a concessão de crédito. “Mas muitos lojistas ainda fazem a venda de qualquer forma, principalmente no interior, onde muita gente vende na base da confiança”. Para acesso a dados, o lojista precisa se filiar a uma das CDLs pelo estado. Em Goiânia, são 6 mil associados.José Reginaldo Garcia, presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO), lembra que o crediário é um meio de pagamento muito tradicional no comércio goiano, que facilita a vida do consumidor. Ele oferece autonomia e previsibilidade para as empresas, que podem instituir suas próprias regras de aprovação de crédito e as réguas de cobrança, parametrizando com o que é praticado no mercado. “Para o consumidor, o crediário é um aliado de primeira hora, pois suas chances de aprovação normalmente são maiores em relação aos cartões de crédito, que consideram um número infinitamente superior de clientes para estabelecer os scores mínimos desejados nas avaliações.”Para o gerente da Flávio’s Calçados, Lucio Lustosa, lojistas e varejistas precisam se preparar para lidar com o aumento da inadimplência, analisando se o problema está na concessão de crédito, na cobrança ou em ambos. “Uma cobrança agressiva pode afastar o cliente. É importante monitorar o comportamento dele para ajustar limites de crédito e avaliar o relacionamento”, explica.Segundo ele, até a opção de crédito com juros, como o pix parcelado, pode ser atraente para o cliente. “O crédito é dominado por poucos bancos. Isso deu oportunidades para os varejistas, que, com bom atendimento ao cliente, tem uma vantagem que grandes bancos e financeiras ainda não têm: proximidade e o olho no olho, especialmente para consumidores com resistência a crédito digital”, alerta.