O Indicador de Reincidência de Pessoas Físicas, da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), revelou que, em agosto de 2025, do total de negativações, 83,95% foram de devedores reincidentes, ou seja, consumidores que já tinham aparecido no cadastro nos últimos 12 meses. Para o presidente da CNDL, José César da Costa, os dados mostram um cenário desafiador, pois o aumento da inadimplência e o fato de quase metade da população adulta estar negativada, são sinais de que as famílias continuam com dificuldades para reequilibrar suas finanças.

“O aumento expressivo em dívidas de três a quatro anos sugere um problema estrutural de longo prazo, onde o consumidor se vê preso em um ciclo de endividamento difícil de sair. É urgente que as políticas públicas e o setor privado foquem em educação financeira e em soluções de renegociação, permitindo que retomem o consumo de forma saudável”, diz Costa.

Os lojistas garantem que estão de olho nos números e que ficaram mais atentos à concessão de crédito. Com 232 milhões de CPFs em seu banco de dados e 57 milhões de CNPJs cadastrados, o SPC Brasil recebe 120 milhões de consultas por mês.&nbsp;

Na Pé Fresco Calçados, o crediário próprio e a nota promissória respondem por 30% das vendas. A inadimplência é de cerca de 5%, mas já atingiu 10% durante a pandemia. O proprietário, Cristiano Caixeta, diz que não pretende reduzir esta participação, pois o cliente que vem pagar a parcela acaba comprando novamente. Para ele, os altos juros e a falta de dinheiro no mercado é que prejudicam as vendas e elevam a inadimplência.

Até o mês de setembro, a loja acumula uma queda de quase 6% nas vendas sobre o ano passado, o que é preocupante, pois houve um aumento do custo fixo operacional, como aluguel e energia elétrica, e do custo das mercadorias, que impede a alavancagem do comércio em geral. “Você não consegue repassar isso aos consumidores. Enquanto as vendas caíram 6%, tivemos aumento de quase 10% nos custos”, explica o lojista.

Segundo ele, a taxa de inadimplência se mantém dentro do previsto, apesar de ter aumentado neste ano. Por isso, a liberação de crédito depende da análise do perfil de inadimplência do cliente e a loja também evita abrir o crediário para qualquer pessoa. “Hoje, trabalhamos apenas com indicações de clientes e fazendo a consulta no SPC Brasil. Se tiver alguma restrição, infelizmente, precisamos negar o crédito”, explica.

Em caso de atraso, a loja liga para o cliente para lembrar do vencimento da parcela, mas sempre com o cuidado de tratá-lo muito bem para que ele volte, compre mais e continue pagando a conta. “É preciso fazer o cliente gostar da empresa e manter seu cadastro ativo, mas sem abrir um crédito muito grande. À medida que ele vai comprando e pagando, vamos aumentando o crédito”, explica Caixeta.

Na Flavio’s Calçados, o crediário próprio já responde por 45% das vendas, chegando aos 50% em algumas lojas. O gerente de Produto Financeiro da rede, Lucio Lustosa, conta que as compras podem ser parceladas em até cinco vezes sem juros, modalidade mais procurada. Mas a loja também oferece parcelamentos mais longos, que envolvem a cobrança de juros, mas que melhor se ajustam ao orçamento do cliente, visando adequar as condições financeiras às suas necessidades.

Relacionamento

Para Lustosa, a concessão de crédito está intrinsecamente ligada ao relacionamento com o cliente, mais do que a um produto financeiro. Mas, como as projeções indicavam um cenário de inadimplência crescente, a empresa revisou suas políticas e reorientou a estratégia. “Em vez de focar na expansão da base de cartões, investimos no aprimoramento da base de clientes existente”, explica.

Com análise criteriosa de risco, a capacidade de limite para eles foi remodelada, com o apoio da equipe de vendas e excelentes resultados. “Enquanto outras empresas de cartão enfrentam dificuldades e reduzem sua participação no mercado, a nossa está em crescimento e não houve queda na concessão de crédito próprio”, comemora Lustosa. Hoje, segundo ele, a empresa tem uma inadimplência controlada, com indicadores abaixo de 7% para dívidas com mais de 90 dias.

A empresa investiu mais em recuperação do que na restrição de crédito e monitora a situação, mas sem preocupação. Lustosa lembra que a inadimplência afeta diretamente o caixa e o resultado financeiro das empresas, reduzindo a receita projetada e as vendas, pois clientes inadimplentes são impedidos de comprar. “O problema é inevitável para quem trabalha com crédito, mas é crucial se preparar bem para ele”, alerta.

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Lojistas revisam estratégias de concessão de crédito ao cliente

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Comércio

Endividamento em Goiás

Algumas clientes da lojista Onezia Batista Guimarães, proprietária da Donez Modas, ainda compram à prazo na loja assinando uma nota promissória ou com uma simples anotação em um caderno. Há 14 anos no mercado, ela lembra que, no início, este meio de pagamento chegou a responder por mais de 50% das vendas. Mas, com o tempo, a inadimplência cresceu e ela foi obrigada a restringir este crédito a poucas clientes mais fiéis e pontuais. “Pretendo reduzir mais ainda para não ter mais prejuízo”, avisa.

Os calotes que Onezia levou causaram altos prejuízos financeiros que levaram a atrasos no aluguel do ponto e com fornecedores, impactando seu estoque. “Tive até que buscar outro ponto mais barato para cortar custos. Isso me trouxe problemas de família e de saúde”, lembra a lojista. Hoje, ela admite que errou em não ter nenhum tipo de proteção para as vendas no crédito próprio. “Nunca me preocupei em ter acesso a um serviço de proteção ao crédito. Achava que seria caro para minha empresa. Mas, se tivesse tido este cuidado, poderia não ter levado tanto prejuízo.”

Muita gente apostou que o uso de cartões físicos e digitais pudesse reduzir muito a busca pelo crediário próprio e até acabar com o uso de cheques e de notas promissórias no comércio. Mas, em muitos estabelecimentos, estes meios de pagamento sobreviveram à expansão da tecnologia e até ao aumento da inadimplência nos últimos anos, chegando a responder por quase 50% das vendas.&nbsp;

Isso porque estes instrumentos de crédito ainda ajudam a fidelizar o cliente bom pagador que ainda não tem acesso a outros meios de pagamento. Mas o risco de calote precisa ser considerado e exige cuidados, pois o cenário atual é de aumento da inadimplência, que cresceu 32% em Goiás e 34% em Goiânia entre agosto de 2024 e agosto de 2025, segundo a Serasa. Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), que ouviu consumidores inadimplentes há mais de três meses, mostrou que os principais vilões são o cartão de crédito (23%), os empréstimos em bancos ou financeiras (16%) e o crediário (12%).&nbsp;

Em agosto, 43% da população adulta do País estava negativada. Os números da inadimplência e a experiência da lojista Onezia Batista confirmam a importância da venda ancorada na consulta aos órgãos de proteção ao crédito, como SPC e Serasa. “Vender no escuro, sem consulta, é confiar só na honestidade do cliente e na sorte, um risco muito grande num cenário de alta inadimplência”, alerta Hélia Gonçalves, superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia (CDL Goiânia).

A própria criação do SPC Brasil pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) ocorreu pela necessidade de mitigar os riscos do crédito direto ao consumidor, compartilhando informações sobre bons e maus pagadores. Histórias de quem pagou caro por “vender no escuro” não faltam. 
A inadimplência já levou a comerciante Elaine Silva à falência e à depressão.

Ela conta que teve um prejuízo alto depois que os cheques de clientes aparentemente muito bons começaram a voltar sem fundos. “Eles simplesmente disseram que não conseguiriam mais pagar”, lembra. Em um único dia, R$ 100 mil em cheques foram devolvidos. A loja ficou sem capital de giro e Elaine começou a pagar altos juros em empréstimos bancários e com agiotas na tentativa de se reerguer.&nbsp;

“Virou uma grande bola de neve, pois os juros e taxas bancárias que paguei aumentaram demais o prejuízo que me causaram”, lembra. A empresa teve de fechar as portas e ela precisou recomeçar do zero, pois não teve mais como pagar os fornecedores. “Hoje, só vendo no cheque para poucos clientes, só o equivalente a 15% das vendas. Se a pessoa não pagar, o impacto não será grande e posso cobrir”, garante a lojista, que também não abre mais mão da análise de crédito do cliente.

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Diversificação

Mas, quando a venda tem uma boa ancoragem, a diversificação de meios de pagamento pode ser uma boa aliada do comércio lojista. Na rede Novo Mundo, 20% das vendas são no crediário próprio. O CEO da empresa, José Guimarães, lembra que ainda existe ainda um mercado gigante para o cliente não bancarizado, que precisa do crédito direto, conhecido como CDC. O tradicional carnê se tornou digital, pré-aprovado para clientes recorrentes e muito flexível para novos clientes. “A inadimplência sempre existirá. O que fizemos foi adequar a política, com a calibragem de perfil ou score para um nível aceitável”, destaca.

Segundo ele, se a venda no crediário próprio representa 20%, hoje, os planos da Novo Mundo são elevar esta participação para 35% nos próximos dois anos, como uma estratégia de fidelização de clientes e até de melhor rentabilidade para a empresa. Vale lembrar que os parcelamentos maiores incorrem na cobrança de juros.

Para a superintendente da CDL Goiânia, estes meios de pagamento existem como uma forma de diversificação de oportunidades de venda. “Se o empresário consegue fazer uma boa avaliação, ter critérios em sua régua de crédito e cobrança, que mitigue a inadimplência, estas práticas são válidas e podem aumentar as vendas, atingindo o público que não quer ou não tem acesso a cartão de crédito, por exemplo, mas que é bom pagador”, avalia.

Segundo ela, esta é uma estratégia válida para aumentar a capacidade de vendas, retenção e fidelização do cliente, pois o boleto ou a nota promissória geram esta sinergia e confiança. “Grandes redes valorizam muito o crediário próprio, que já ajudou a alavancar muitos negócios em Goiânia”, lembra.

Porém, a superintendente da CDL alerta para a importância de as empresas buscarem meios para avaliar o cliente antes de ofertar o crédito para evitar a inadimplência. “Só sinalizamos para a segurança de saber fazer uma avaliação prévia para uma venda mais segura. É onde a CDL entra com consultas e análise de crédito para evitar a inadimplência”, ressalta. Vale lembrar que esta análise já considera o histórico, o score e o cadastro positivo do cliente.

Crédito próprio sobrevive aos cartões e à inadimplência

Nos dias 23 e 24 de setembro, acontece o 1º Fórum Nacional de Arroz de Terras Altas (InovArroz 2025), em Goiânia, com o tema “O desenvolvimento do Arroz de Terras Altas no Brasil, com foco na região do Cerrado”. O evento é promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) e Sindicato da Indústria do Arroz do Estado de Goiás (Siago).

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O gerente técnico do Ifag, Leonardo Machado, lembra que a produção brasileira de arroz cresce 16% na safra 2024-2025. “Não tem como o mercado se manter nesta situação. Estoques de passagem serão elevados”, avalia, se referindo à queda dos preços.

Segundo a Conab, no ano passado, o País finalizou a safra com estoque de 496 mil toneladas, o que corresponde a 5% do consumo brasileiro. Neste ano, a estimativa é fechar com 2 milhões de toneladas, quatro vezes mais e 20% do consumo.

Machado ressalta que o produtor avalia questões de rentabilidade para fazer sua escolha, mas o arroz de terras altas tem se expandido em Goiás como boa opção para rotação com a soja. “Não é só preço, mas os ganhos agronômicos”, diz. Por isso, ele acredita que os ganhos agronômicos podem continuar incentivando a produção em Goiás. Mas a falta de armazenagem também já preocupa o produtor. “Nossa capacidade de armazenamento já é baixa e se culturas como a soja e o milho já sofrem, imagina o arroz”, alerta.

O empresário Jerry Alexandre de Oliveira, presidente do Siago, conta que o setor foi a Brasília em 2024 e fez uma verdadeira peregrinação em órgãos como Conab, Ministério do Desenvolvimento Agrário e BNDES na tentativa de viabilizar uma linha de crédito para indústrias se equiparem no mesmo modelo do PCA (Programa para Construção e Ampliação de Armazéns).

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O objetivo era incluir a indústria de arroz no programa, mas não tiveram êxito. “Pedimos até a liberação de um armazém da Conab, que está parado em Porteirão, numa parceria público privada para que indústrias pudessem assumir e reformar a unidade para receber arroz dos pequenos produtores que têm pivôs, mas não têm secador, nem silo. Mas não conseguimos”, conta Oliveira.

Para os maiores, o sindicato fez um workshop e deu consultoria para preparar equipes para secar arroz, que tem manejo diferente de soja e milho. “Vários produtores secaram seu próprio arroz com êxito. No ano passado, a indústria goiana teve resultado muito positivo”, afirma.

Neste ano, o País teve safras muito boas no Rio Grande do Sul e Tocantins, maiores produtores do País, e houve aumento de área no Mato Grosso, Minas Gerais e Sul da Bahia. O aumento de produção em Goiás e outros estados substituiu o arroz que vinha do Tocantins. A grande quantidade colhida pressionou os preços para baixo.

O presidente do Siago acredita que o arroz está consolidado entre os irrigantes como uma boa opção na rotação de culturas. Segundo ele, no próximo ano, a cultivar A503 chega ao mercado na mesma proporção do 502 e se aproxima muito da qualidade do Sul. “O cenário é muito bom para a indústria, que, tendo arroz para beneficiar, se torna mais competitiva e tem a possibilidade até de mandar arroz já beneficiado para outros estados”, prevê.

Ele também defende a criação de uma política para incentivo do cultivo, incluir o grão no Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial) e ter taxas mais atrativas para a indústria investir em estrutura de secagem e armazenagem. “Em 2024, sobrou verba desta linha e poderíamos estar com mais indústrias melhor equipadas para receber este arroz”, analisa.

Hoje, os investimentos são feitos com recursos próprios. Com as novas variedades, a indústria goiana passou a beneficiar mais grãos produzidos no estado. “Chegamos a beneficiar 80% de arroz de fora em Goiás. Neste ano, não devemos passar de 60%”, prevê. Em uma indústria de médio porte, uma estrutura para secar de 240 a 300 toneladas por dia, e armazenar, exige um investimento de cerca de R$ 20 milhões.

Indústrias buscam linhas de crédito para investir em secadores e armazéns

Rizicultura

O comércio varejista dificilmente suportará os ônus da taxa Selic a 15% ao ano, se ela permanecer mesmo nesse índice até o 1º trimestre de 2026, como projetam economistas de grandes bancos brasileiros. É a data em que, segundo eles, a taxa básica de juros deve começar a recuar - o Banco Central já sinalizou que nada muda até lá na Selic, a não ser que ocorra um movimento muito inesperado na economia. Enquanto isso, com a inflação, o consumidor vai perdendo o poder de consumo e o comércio, por outro lado, redobra a atenção, vendo a inadimplência aumentar a níveis alarmantes.

Fato é que, com os juros nas alturas, o consumidor não está conseguindo pagar suas contas. Pelo menos 30,2% da população brasileira está inadimplente, um índice que não se via desde setembro de 2023, conforme mostra a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela CNC, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.

O consumidor pede socorro e o varejo também. Inadimplência elevada significa crédito mais caro, por conta da maior probabilidade de calote. Resultado disso é que o consumidor acaba enfrentando mais dificuldade de contrair crédito, um mecanismo tão fundamental nas vendas do varejo, seja usando o crediário das lojas ou parcelando as compras no cartão de crédito.

Bureaus de crédito como o SPC Brasil já veem o consumidor mais desanimado, em relação à tomada de crédito. Entre maio e junho deste ano, por exemplo, a busca por crédito no Brasil caiu -14%. Analistas acreditam que esse cenário revela um mercado em “compasso de espera”, somado agora ao tarifaço imposto ao Brasil pelos Estados Unidos. Ou seja: a situação é desfavorável ao consumo, que poderia ser estimulado se o Banco Central editasse novas políticas monetárias para controlar uma inflação não de demanda, como é comumente veiculado, mas de preços administrados, como acreditam os economistas.

Vem aí o fim do ano, e com ele, as datas comemorativas mais sensíveis para o comércio, como o Dia das Crianças, em outubro, a Black Friday, em novembro, e o Natal, em dezembro. Qual será o impacto dos juros altos nessas ocasiões? É preciso esperar para ver. Mas o varejo, enquanto isso, segue com o desafio de equilibrar as altas taxas de inadimplência com as suas vendas tão tradicionais no crediário e no cartão de crédito.

Além disso, as lojas do comércio, especialmente em Goiás, têm lidado com um novo paradigma: o alto número de vagas efetivas em aberto, e numa época em que, normalmente, se buscaria pessoas no mercado para fazer trabalho temporário. Pelo menos 5 mil vagas permanentes estão desocupadas no varejo goiano, aumentando as incertezas do setor para esses próximos meses.

Se não houver ações efetivas do governo para controlar a economia, em primeiro plano, e para estimular o trabalho formal, o interesse das pessoas pelo emprego de carteira assinada, esse cenário pode agravar a situação das empresas. O varejo e o setor produtivo, em geral, pedem socorro. Todos temem uma retração no consumo, se nada for feito, e impostos ainda mais pesados a partir do próximo ano, quando passa a valer a regulamentação da reforma tributária. A economia está sob pressão.

José Reginaldo Garcia é presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO)

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Comércio sufocado pela Selic

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José Reginaldo Garcia

Em pouco mais de 30 dias, o consignado CLT, como ficou conhecido o programa que empresta dinheiro aos trabalhadores via Carteira Digital de Trabalho, chegou a R$ 8,9 bilhões em recursos emprestados para cerca de 1,6 milhão de empregados celetistas, de acordo com balanço do Ministério do Trabalho e Emprego. Os números impressionam, levam a crer que esses recursos irão aquecer a economia (de fato, movimentam, com o dinheiro injetado nas compras no comércio varejista, por exemplo), mas podem mascarar um problema que tira o sono de muitos brasileiros: dívidas se acumulando no final do mês.

A princípio, os empréstimos podem resolver problemas emergenciais dos trabalhadores, mas a conta certamente chegará. Com o orçamento comprometido, a história se repete: é preciso escolher quais contas serão pagas primeiro, enquanto outras seguirão em aberto.

E se os boletos deixados para depois forem de cartões de crédito, a situação piora ainda mais por conta dos juros compostos, que transformam esses débitos numa angustiante bola de neve. Esse acaba sendo o cenário perfeito para a disparada da inadimplência, que cresce sem parar em Goiás desde julho de 2024.

Em março deste ano, conforme o SPC Brasil, o índice de inadimplência no estado aumentou 6,99%, na comparação com março do ano passado. Os números mostram que cada goiano inadimplente deve, em média, R$ 4,9 (somando todas as dívidas vencidas). E os bancos são credores de 62% desses débitos dos goianos negativados.

São estatísticas que preocupam o comércio varejista, um setor muito dependente da oferta de crédito ao consumidor. E esse crédito, vale dizer, está cada vez mais caro e restrito. Com a Selic agora a 14,75% ao ano e as taxas de juros, consequentemente, nas alturas, quem tem contas vencidas vê esses débitos se multiplicarem muito rápido com os juros sobre juros.

Por outro lado, o consumidor com nome limpo que busca crédito nas instituições financeiras se assusta com os juros aplicados pelos bancos e com as exigências impostas ao consumidor. A inadimplência em alta indica que está mais arriscado conceder crédito, e os bancos, claro, encarecem essas operações para se blindarem de possíveis calotes.

O governo federal precisa estar atento a essa questão. Ao que parece, há um dualismo nas altas esferas responsáveis pela política econômica, duas correntes que se opõem na tentativa de frear a inflação. Por um lado, o Banco Central, ao aumentar consecutivamente a taxa básica de juros, tenta conter a alta nos preços.

Na outra ponta, o governo, com o consignado e outros programas, dá sinais de que quer ver mais dinheiro circulando na economia, ou seja, estimulando o consumo. Encontrar o equilíbrio nessa seara é uma questão urgente que exige seriedade e comprometimento.

Taxas de juros, valor das parcelas e prazos do empréstimo precisam ser analisados friamente para evitar que esse dinheiro rápido hoje vire uma dor de cabeça lá na frente e comprometa ainda mais o orçamento já tão corroído pela inflação. O Brasil precisa já de uma política econômica sensível às reais necessidades do cidadão comum e das empresas.

Valdir Ribeiro é presidente da FCDL-GO (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás)

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