O desempenho das vendas abaixo do esperado em dezembro e neste mês de janeiro e o fato de muitos trabalhadores não terem correspondido às expectativas no exercício de suas funções levaram empresas a reduzir a efetivação de temporários contratados no último fim de ano. Entidades nacionais e regionais divergem sobre o porcentual de temporários efetivados neste início de 2022, mas os lojistas falam em queda.No final de dezembro, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) já havia revisado a taxa estimada de efetivações de 12,2% para apenas 4,9%. “A incerteza quanto à sustentabilidade do volume de vendas no varejo e seus impactos sobre o nível de atividade no início de 2022 levaram a CNC a rever a projeção”, disse a entidade.O empresário Cristiano Caixeta, proprietário da rede Pé Fresco Calçados, conta que dos seis funcionários contratados no último fim de ano, apenas dois devem ser efetivados, número menor que em anos anteriores. Segundo ele, o desempenho das vendas abaixo do esperado é uma realidade, mas o principal motivo é a falta de qualificação e de empenho dos trabalhadores para conquistar a vaga. “Estou confiante de que as vendas irão reagir este ano e, por isso, pretendo contratar mais gente, mas não encontro pessoal adequado para preencher as vagas”, afirma.O desempenho das vendas foi outro motivo. A rede Fujioka já havia reduzido o número de trabalhadores temporários contratados para o fim de ano, depois que as vendas da Black Friday ficaram abaixo do esperado. “Contratamos pouquíssimas pessoas e o índice de efetivação também foi muito baixo, de menos de 5%”, informou Dvair Borges Lacerda, diretor comercial do Fujioka.Para o presidente da Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio-GO), Marcelo Baiocchi, o índice de efetivação depende do desempenho da economia. “Não justifica efetivar se as vendas não permanecerem estáveis e a realidade é que o faturamento não tem acompanhado as expectativas de retomada”, destaca. Depois de meses de portas fechadas, por conta dos decretos de isolamento, hoje os empresários estão mais cautelosos, pois tiveram seus caixas afetados. “Quem está aberto ainda é porque usou suas economias. A performance do negócio precisa justificar a contratação, mas há incerteza se o faturamento conseguirá pagar esta vaga”, alerta.O presidente do Sindilojas Goiás, Eduardo Gomes, é mais otimista. Para ele, o índice de efetivações deve ficar entre 20% e 30% no Estado. Eduardo lembra que, segundo a Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), a efetivação dos temporários subiu de 15% em 2019 para 22% em 2021 e a expectativa é que as contratações por meio do trabalho temporário sigam em alta em 2022. “Como as vendas começaram este ano mais fracas que em 2021, quando havia uma demanda reprimida, é normal a insegurança do lojista para fazer contratações”, acredita Eduardo.Vivieli Morais foi uma das duas funcionárias efetivadas na Pé Fresco Calçados. Contratada no último mês de novembro, ela lembra que procurava trabalho há quase um ano, mas acha que tudo ficou mais difícil por causa da pandemia. Por isso, ficou muito feliz com a oportunidade que ganhou e se empenhou para mostrar um bom trabalho. “Procurei dar o meu melhor para ficar na vaga”, diz.Falta de qualificação é entrave a contrataçõesO relato de empresários sobre a dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados ou dedicados ao trabalho não chega a ser novidade, segundo a vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Goiás (ABRH-GO), Rivanara Nápoli. “Infelizmente, algumas pessoas querem apenas um emprego para receber um salário, e não um trabalho para construir carreira. É um modelo cultural e lamentável”, alerta.O resultado é que trabalhadores ficam em grandes filas de oferta de emprego em busca de uma vaga e, quando conseguem, não mostram o empenho esperado. “O funcionário precisa entregar o que a empresa espera dele para permanecer. Alguns chegam a mentir nas entrevistas apenas para conseguir a vaga e, depois, não tem estas qualidades para entregar”, diz.Entre as qualidades esperadas, estão resiliência e uma aprendizagem contínua. Para o presidente da ABRH-GO, Milton Marinho, ha um desalinhamento entre os propósitos das empresas e o que o colaborador pretende para sua carreira. “Será também que a empresa deixa bem claro seus valores e o que precisa e o trabalhador entende o que o torna produtivo e competente para ela? Isso precisa ficar bem claro logo no recrutamento”, adverte. Isso acaba repercutindo no ritmo de produtividade e nos resultados das empresas, refletindo nas contratações e na produção.Empresas do segmento de turismo costumam contratar muitos temporários para o período de alta temporada e muitos devem ser efetivados. Laini de Melo Osmani, gerente de Talentos Humanos do Grupo Aviva, conta que 350 trabalhadores foram contratados para as férias de janeiro e existem 200 vagas disponíveis para os que forem efetivados.“A qualificação é uma dificuldade constante, mas fazemos a formação dentro do parque”, informa. Outro desafio é a concorrência com outros segmentos econômicos, por conta da escala de folgas, com trabalho aos fins de semana.