Inteligência Artificial: quais os impactos e qual regulamentação nos níveis ético, político e social? A questão abrangente é tema da palestra do filósofo e escritor Luc Ferry, ex-ministro da Educação da França, que dá início nesta quinta-feira (20), às 11 horas, aos três dias da primeira Cúpula Internacional de Ética e Inteligência Artificial - Etos.IA , no Shopping Passeio das Águas, em Goiânia. Na sequência da palestra, Luc Ferry participará de painel sobre o mesmo tema, junto com o filósofo Clóvis de Barros Filho, referência em ética e comunicação, professor da ECA-USP e autor de mais de 20 livros, entre os quais A Vida que Vale a Pena Ser Vivida; e Sérgio Branco, diretor no Instituto de Tecnologia e Sociedade no Rio (ITS Rio). A realização da cúpula, que reúne grandes nomes da tecnologia de informação e da comunicação do Brasil e do exterior, é simultânea à Campus Party Goiás 2025, que prossegue até domingo (23). A promoção é do Governo de Goiás, por meio da Secretaria-Geral de Governo (SGG). Titular da SGG, Adriano da Rocha Lima salienta a importância de reunir especialistas e a sociedade para discussão sobre ética e inteligência artificial. O evento se propõe a avaliar os impactos da IA nas profissões e no mercado de trabalho, marco regulatório e o limite entre liberdade, controle e direitos individuais. Segundo o secretário, as inovações, e em especial a IA, permitem que as pessoas possam deixar de fazer atividades que são muito operacionais e com pouco uso da criatividade, da inteligência. Com isso, avalia, nós, seres humanos, podemos nos voltar para as atividades onde a inteligência artificial nunca irá nos substituir. “Então, é esse tipo de sociedade, que está com essa mudança toda promovida pela IA, que a gente tem que debater e aprender a lidar nesse novo mundo”, enfatiza.Entre outros destaques na programação, estão o pioneiro da internet, cofundador dos protocolos TCP/IP e vice-presidente do Google, Vint Cerf; o especialista em governança de IA e autor do Regulamento Europeu de IA, Gabriele Mazzini; o filósofo, escritor e professor universitário estadunidense Michael Sandel e o jurista Ronaldo Lemos, coautor do Marco Civil da Internet e membro do Oversight Board da Meta. Transumanismo Luc Ferry, um dos principais defensores do humanismo secular e da espiritualidade laica, é autor do best-seller Aprender a Viver, no qual mostra que a filosofia favorece ao homem superar seus medos, que ele vê como obstáculos que impedem que ame os outros e seja livre. No livro A Revolução do Amor, o escritor repensa o sentido atual do que é sagrado. “O sagrado não é, ou não somente, o religioso, é sobretudo aquilo pelo qual alguém pode se sacrificar, dar sua vida”, esclarece, completando que “é o lugar do sacrifício possível e do sacrilégio, daquilo pelo qual alguém poderia morrer ou matar”. Situa ainda: “Hoje, pelo menos no Ocidente democrático, é realmente na própria humanidade que o sagrado, sob o efeito conjugado da revolução do amor e da grande desconstrução das tradições, elegeu domicílio...” Nessa perspectiva do que poderia “nos fazer sair de nós mesmos e de nosso egoísmo para defender e proteger os outros”, o filósofo transita também pelo transumanismo.Para os transumanistas, a espécie humana não corre o risco de ser substituída pelas máquinas, visão que difere dos cenários apontados pelos biodefensores, que temem uma ameaça de dominação do mundo por IA, e pelos adeptos do pós-humanismo, que veem o surgimento de um ser superior ao humano. Em outra obra, A Vida Feliz, o filósofo considera “extravagante” o alerta sobre uma IA forte do pós-humanismo, “uma máquina dotada de livre arbítrio, de consciência de si e de emoções humanas”, ideia que, comenta, vem da ficção científica e não da ciência. “Sem alguma biologia, sem organismo vivo, uma máquina será para sempre incapaz de sentir seja o que for, quer se trate de uma emoção ou de um pensamento. Sem dúvida ela poderá imitar o humano, fazê-lo cada vez melhor, nunca porém ‘viver’ o que vivemos em termos de consciência de si e de emoções inseparáveis do vivente.”No mesmo livro, ele define que no cerne do transumanismo está a procura por aumentar a longevidade humana, “não apenas erradicando as mortes precoces, mas recorrendo às biotecnologias para fazer com que os humanos vivam por mais tempo, jovens e em boa saúde.”Com a ressalva de que o projeto transumanista se situa no exato oposto do eugenismo exterminador dos séculos passados: “não se trata de forma alguma de eliminar os mais fracos, e sim de reparar as injustiças que nos são infligidas por uma natureza cuja principal característica, além de seu caráter profundamente desigual, reside numa indiferença total a tudo que nos toca e nos afeta”.Em relação a esse ponto, enfatiza que “a natureza não é uma entidade sagrada, e muito menos um modelo moral!”Entrada gratuitaAté sábado, o Etos.IA propõe mais de 60 horas de palestras, atividades e interações, com expectativa de público de 10 mil pessoas. A entrada é gratuita, com inscrições antecipadas pelo site https://lets.4.events/bilheteria-C18443E102 (Plataforma 4Events). A Cúpula Internacional conta com a organização do Instituto Campus Party e com o apoio Institucional da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia-UFG) e co-organização do Grupo Jaime Câmara e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), além de patrocínio da Saneago e da Equatorial.