Karla Jaime

Jessika Ribeiro

O técnico de enfermagem Lucas Henrique Magalhães de Souza, 24, era criança quando o programa Bolsa Família foi criado em 2003, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Hoje, ele vê que o benefício foi fundamental para que a família, no início do programa, garantisse o amparo que lhe permitiu estudar e entrar no mercado formal de trabalho.

Lucas conta que tinha saúde frágil, sequelas decorrentes da situação de abandono até os 3 anos de idade em uma invasão próximo ao Jardim Pompeia, até ser adotado por José e Maria, “casal abençoado”, ao qual agradece. “Não fosse minha família, não estaria nem vivo.” Precisou de alimentação especial, sofria com dificuldades respiratórias. Recorda o esforço da mãe: “Me punha nas costas e ia comigo de ônibus para o Materno Infantil”, saindo do Jardim Curitiba, na região Noroeste de Goiânia.

Maria, a mãe, agora com 71 anos, sempre trabalhou como diarista, em serviços gerais, não tinha emprego formal. Os recursos eram poucos para o sustento da família. “Éramos eu e meu irmão, que já morreu, alcoolismo”, relata Lucas. O Bolsa Família foi um alento, somando-se a outros programas como Bombeiro Mirim e Guarda Mirim, dos quais ele participou.&nbsp;

Lucas diz ter visto outra realidade, diferente daquela de drogas e crimes que também o cercava. Dedicou-se aos estudos, formou-se técnico de enfermagem em 2021, conquistou vaga no Samu, em atendimentos de emergência. Segue estudando, cursa faculdade de Farmácia graças a outro programa social, o ProUni. “Não conseguiria nunca pagar a mensalidade sem isso.” Planeja fazer concurso público.

O caso de Lucas exemplifica a importância do Programa Bolsa Família (PBF). Em Goiás, 197.862 beneficiários dependentes do PBF que tinham de 7 a 16 anos em 2005 foram encontrados ao menos uma vez na Rais (pesquisa oficial de mercado de trabalho formal) de 2015 a 2019, o que equivale a 52% desses dependentes, acima do porcentual registrado no País.&nbsp;

No Brasil, cerca de 5,2 milhões dessa primeira geração de dependentes de famílias do programa, que tinham de 7 a 16 anos em 2005, foram encontrados ao menos uma vez na Rais de 2015 a 2019. Ou seja, 44,7% dos 11,6 milhões de filhos do Bolsa Família acessaram o mercado de trabalho formal no período ao menos uma vez.

Os dados do estado fazem parte de um estudo exclusivo feito por pesquisadores do IMDS (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social), em parceria com a consultoria Oppen Social e um pesquisador da FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getulio Vargas).&nbsp;

Os pesquisadores cruzaram registros da folha de pagamento do Bolsa Família e da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e puderam não apenas mensurar a emancipação por meio do trabalho com carteira, mas também medir a qualidade do emprego conquistado por eles.

Em geral, a região Centro-Oeste apresentou um porcentual elevado tanto de pessoas que deixaram o CadÚnico, como dos que ingressaram no mercado formal de trabalho, constata Paulo Tafner, diretor-presidente do IMDS. Segundo ele, isso revela que a região, e dentro dela Goiás, apresentou um desempenho favorável do mercado de trabalho, o que possibilitou maior absorção de mão de obra.&nbsp;

Mostra também, diz ele, que as condições gerais dos municípios goianos permitem razoável formação em termos escolares e de condições gerais de vida, o que favorece a absorção da mão de obra. “Enfim, Goiás mostrou ser um dos estados mais dinâmicos em termos de geração de emprego daqueles que foram beneficiários do Bolsa Família”, avalia.

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Estrutura familiar

Para a advogada Jessika Ribeiro, 30 anos, pós-graduada em Direito Eleitoral e Público, e assessora na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), em Goiânia, o programa social “ajudou demais”. “Era o dinheiro que nos sustentava em comida, foi extremamente importante”, afirma.

Também as oportunidades dadas pelos programas Pró-Cerrado, com o primeiro emprego em estágio, e Trabalhando com as Mãos, em que aprendeu artesanato, são lembradas por ela. “Pude mostrar meu profissionalismo, interesse em trabalhar e evoluir na vida.” Iniciativas que abriram portas para ela e sua irmã, que é psicóloga.

Hoje, sócia do escritório Cotrim Ribeiro Advogados Associados, Jessika ajuda pessoas da região Noroeste da capital, onde já morou com os pais. O escritório presta assessoramento, na organização de documentos, e encaminhamento à Defensoria Pública, principalmente de mães que precisam pedir pensão alimentícia.

A família de Jessika veio de Americano do Brasil, onde o pai era “empreiteiro” em roça e a mãe cozinhava para os trabalhadores da lavoura. “Fomos para a extrema pobreza, chegamos até a passar fome”, relata ela, explicando que os tios doavam cestas básicas. Como os avós paternos e maternos e muitos tios moravam na capital, sua família decidiu também migrar para Goiânia. Foram morar no Jardim Curitiba.

Jessika lembra-se da mãe na fila, orientada por uma tia, para se inscrever no Bolsa Família. Os pais voltaram a estudar, a mãe é hoje servidora concursada na área administrativa da Educação. “Eu sempre gostei de estudar e ajudava minha mãe nas matérias de escola dela”, conta. Todo apoio contribuiu, mas ela ressalta que para que pudesse alcançar melhores condições o essencial foi mesmo “uma estrutura familiar boa”.&nbsp;

O diretor-presidente do IMDS endossa a constatação de Jessika. Para ele, o Programa Bolsa Família, que alcança mais de 21,1 milhões de beneficiários no Brasil, é uma base, mas a estrutura familiar e a infraestrutura municipal são tão ou mais importantes para a mobilidade social dos beneficiários.&nbsp;

Tafner observa, contudo, que ainda não existem estudos acadêmicos que comprovem a existência de uma relação causal entre o programa e a mobilidade social, acrescentando que o IMDS tem explorado essa linha de investigação e parece haver elementos que indiquem uma associação entre o programa e mobilidade social.&nbsp;

“O elemento-chave parece ser a obrigatoriedade de manutenção da criança na escola. Isso faz com que – mesmo que em escolas com qualidade duvidosa – a criança absorva algum conhecimento e se socialize minimamente para enfrentar o mercado de trabalho”, destaca.

“Mas nossos estudos indicaram mais coisas. Os resultados são mais satisfatórios quando há uma combinação de elementos favoráveis à acumulação de capital humano no âmbito da família e dos municípios. Assim, aqueles beneficiários cujos pais têm mais escolaridade têm, em média, maior sucesso. Da mesma forma, os beneficiários que vivem em municípios com melhor desempenho escolar, com mais equipamentos públicos de infraestrutura e que sejam menos pobres têm também maior chance de sucesso e de mobilidade social.”&nbsp;

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(Arte/O Popular)

Impacto na formação

Os dados sobre Goiás no estudo do IMDS indicam que, em que pese a diferença numérica entre os beneficiários do PBF e os não beneficiários em 2005, porcentualmente nota-se que em relação à escolaridade, os primeiros predominam nas ocupações até o nível fundamental; há uma equiparação no ensino médio e uma queda acentuada no superior completo ou mais (5,7% ante 16,2%).&nbsp;

Há, pelo menos, dois aspectos relevantes nessa questão, destaca Tafner, citando que o primeiro deles está relacionado ao fato de que as crianças não beneficiárias do Programa Bolsa Família, por definição, não são aquelas que estão na base da pirâmide social.&nbsp;

“Na média seus pais são mais instruídos do que os pais dos beneficiários. E isso tem impacto na formação geral dessas crianças e jovens”, comenta. “Assim, apesar de terem nível de escolaridade semelhante, não têm o mesmo nível de acumulação de capital humano. Não tiveram acesso, a livros, teatro, cinema, etc. E isso faz diferença.” 
Um outro aspecto diz respeito ao fato de que as famílias daqueles não beneficiários têm maior “rede de contatos” e isso é particularmente relevante para o acesso aos melhores postos de trabalho, observa ainda.&nbsp;

Por nível de escolaridade, em Goiás, a remuneração fica entre 1 e 1,5 salário mínimo para mais da metade dos que foram beneficiários e tinham o fundamental ou ensino médio completos, e até 3 salários mínimos para ensino superior completo ou mais para cerca de 70%. O que não difere muito dos não beneficiários nessas faixas. Já na faixa salarial a partir de 4 salários mínimos, a diferença praticamente dobra, embora seja um porcentual reduzido em ambos os casos.&nbsp;

"É razoável admitir que os não beneficiários, sobretudo aqueles com maior grau de escolaridade, têm um acúmulo de capital humano maior e mais sofisticado, por exemplo domínio de uma língua, o que os qualifica mais para os postos mais elevados e com maiores remunerações”, discorre Tafner.

Leia também

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Na faixa etária pesquisada, predomina dificuldade nos dois grupos de jovens em ocupar funções de “maior qualidade” - 70% dos que foram beneficiários estavam em ocupações de “menor qualidade”, ante 59% dos não beneficiários. Para Tafner, esse indicador não sugere uma particularidade ou uma anomalia do mercado de trabalho brasileiro.&nbsp;

“É sabido pela literatura que são os profissionais mais maduros os que acessam os postos mais elevados do mercado de trabalho. É razoável que assim seja. Para postos mais elevados, postos de decisão e comando, é necessário que o profissional tenha não apenas o conhecimento formal, como um aprendizado acumulado em suas experiências da juventude. É necessário que tenha maturidade e experiência para ocupar cargos mais sofisticados.”&nbsp;

Polos opostos

Micro e pequenas empresas empregam cerca de 56% dos jovens nos dois perfis, os que foram e os que não foram dependentes de beneficiários do PBF. Mas há discrepâncias: não beneficiários são quase o triplo na administração pública, onde predominam os que têm ensino superior completo ou mais, e os que foram beneficiários são quase o dobro na agropecuária.&nbsp;

Tafner vê aí dois polos opostos. A administração Pública, por pagar melhores salários para carreiras de nível superior e oferecer garantia de emprego, acaba por atrair parcela significativa dos jovens com ensino superior, argumenta. “O acesso a esses postos se dá, em geral, por concurso e mais uma vez a formação geral do candidato é relevante. Nesse sentido, os candidatos que não foram beneficiários do Programa Bolsa Família têm mais chances de aprovação no concurso. Os números refletem exatamente isso.”

O problema, pontua ele, “é que o setor público por ter salários generosos e garantia de emprego acaba por ter uma ação predatória no mercado de trabalho, limitando uma verdadeira concorrência pelos melhores postos de trabalho”.&nbsp; 
Quanto ao setor agropecuário, ele diz que se trata de um setor que exige, em média, menos qualificação de sua mão de obra. “É, portanto, natural que absorva maior quantidade de profissionais que frente a seus equivalentes não beneficiários, têm menos qualificação.”

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Mais de 50% de "filhos" do Bolsa Família conseguiram emprego em Goiás

Economia

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Matéria - Economia

Mercado

O Brasil atingiu em 2023 a taxa mínima histórica de jovens entre 15 e 29 anos que não estudavam nem trabalhavam, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

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Os 10,3 milhões de jovens sem ocupação e sem estudo equivalem a 21,2% da população estimada nesta faixa etária, que era de 48,5 milhões. O resultado representa as menores taxas percentuais e os menores valores absolutos desde o início da série do instituto, em 2012. A mínima histórica anterior havia sido registrada em 2013, com 21,6%.

O jovem que não estuda nem trabalha também é chamado de 'nem-nem'. O IBGE, contudo, evita o termo, pois uma parcela desse grupo pode exercer atividades não renumeradas dentro de casa, sem que haja vínculo empregatício.

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Segundo o IBGE, no entanto, a participação das mulheres negras (pretas e pardas) de 15 a 29 anos sem trabalhar e sem estudar teve avanço. O grupo, tradicionalmente mais afetado pela falta de estudo e trabalho, era composto por 4,6 milhões no ano passado, ou 45,2% do total de jovens na condição (em 2022, o índice foi de 43,3%). O número representa o maior percentual da série histórica.

Homens pretos e pardos (2,4 milhões ou 23,4%), mulheres brancas (1,9 milhões ou 18,9%) e homens brancos (1,2 milhões ou 11,2%) vieram na sequência.

Os dados fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais. A publicação analisa estatísticas obtidas da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), também do IBGE.

<h2>PERCENTUAL DE MULHERES NEGRAS CRESCE; MENOR RENDA DOMICILIAR TEM IMPACTO</h2>

A participação das mulheres negras aumentou, saindo de 43,3% em 2022 para 45,2% dentre os jovens sem ocupação ou trabalho. Segundo Denise Guichard Freire, uma das analistas da síntese do IBGE, o perfil mais afetado é o de jovens negras sem rede de apoio e que precisam cuidar de familiares.

"Elas não conseguem buscar uma colocação profissional ou estudar, porque não tem política pública para ajudá-las a sair da situação. Todos os outros, principalmente os homens, por não terem tantas responsabilidades, vivem essa condição temporariamente", diz.

Além disso, quanto menor o rendimento domiciliar, maior é a parcela de jovens que não estudam e nem estão ocupados. Em 2023, 49,3% dos jovens dos domicílios 10% mais pobres estavam nesta condição - um em cada dois, a mesma taxa de 2022. No início da série histórica, em 2012, o percentual era de 41,9%.

A taxa é 2,3 vezes maior do que a média dos jovens brasileiros 'nem-nem' (21,2%).

Segundo o instituto, no intervalo entre 2022 e 2023, o total de jovens que não estudam e não estão ocupados recuou 4,9%, devido à melhora de 11,9% entre mulheres brancas e de 9,3% entre homens pretos ou pardos.

A melhora está associada à retomada do mercado de trabalho e ao crescimento do nível de ocupação. O IBGE, no entanto, ponderou que o total de jovens de 15 a 29 anos tem diminuído nos últimos anos, o que impacta o índice.

"Quando tem crise, os jovens saem do mercado de trabalho. Com a retomada da economia, há uma redução dos que somente estudam e dos que não estudam e não estão ocupados", diz Denise.

O dado da Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE, reforça um cenário revelado pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) Educação de 2023. Divulgada em março deste ano, a pesquisa afirmava que 9,6 milhões de jovens estavam sem estudar e sem trabalhar, dado que correspondia a quase um quinto (19,8%) da população com idade entre 15 e 29 anos.

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Percentual de jovens que não estudam nem trabalham é o menor da série histórica, diz IBGE

sem ocupação

Entre 2021 e 2024, 51% das contratações do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV) foram feitas por jovens, indicam dados da Caixa e do Ministério das Cidades obtidos pela Folha. Em termos absolutos, os brasileiros entre 18 e 30 anos investiram R$ 123 bilhões e firmaram 782 mil contratos no mesmo período, afirma o banco público.

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Desde 2009, início do programa, essa faixa etária fica pouco abaixo da metade dos financiamentos, com 48% do total, de acordo com números das mesmas instituições.

O levantamento consolida o interesse dos jovens pela casa própria, contrariando a tese de que não teriam interesse por patrimônios e bens materiais, e reafirma uma tendência já identificada pelo mercado imobiliário em geral.

Mesmo com uma remuneração mais baixa, o jovem pode comprar o imóvel na planta, novo ou usado pelo programa. A taxa de juros é limitada a 8,16% em áreas urbanas ou rurais. O comprador pode financiar o imóvel com ou sem valor de entrada e FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

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A analista de conteúdo Karen Moura, 28, é uma das jovens que financiaram a casa própria pelo Minha Casa, Minha Vida. Ela comprou um apartamento de 33 m² em agosto deste ano e aproveitou a expansão dos valores máximos de renda das faixas 1 e 2 do programa.

O primeiro teve o teto de renda ajustado de R$ 2.640 para R$ 2.850. Na faixa 2, o intervalo, de R$ 2.640,01 a R$ 4.400, passou a ser de R$ 2.850,01 a R$ 4.700,00.

O apartamento de Karen foi adquirido na planta, com financiamento a partir de um programa da construtora. O imóvel, localizado na zona oeste de São Paulo, deve ser entregue em 2027. "Achava que não daria certo, eu tinha um valor de entrada baixo", diz.

Ela, contudo, conseguiu dar um sinal inicial e parcelou o restante da entrada. O financiamento em si começa quando receber as chaves do apartamento. "Não vim de uma família com dinheiro. Se terminar de pagar em 30 anos, vai compensar por ser algo meu", afirma.

O lançamento do novo MCMV ajudou os jovens a entrarem no programa, diz a vice-presidente de Habitação da Caixa e ex-secretária nacional de Habitação, Inês Magalhães. "As alterações vão ao encontro do financiamento para as menores rendas, inclusive o valor de entrada".

Alberto Ajzental, coordenador do curso de Negócios Imobiliários da FGV (Fundação Getúlio Vargas) afirma que a renda e o desejo por sair da casa dos pais justificam a participação desse público.

"A classificação de compra do MCMV é por renda, não por idade, mas quem está no início da carreira, em média, ganha menos. Quando crescem e deixam de morar com a família, jovens buscam um imóvel para alugar ou comprar, seja ele novo ou usado. É criada uma demanda por este tipo de produto", diz.

Para a diretora de incorporação da construtora Plano&amp;Plano, Renée Silveira, algumas características marcam a geração Z (nascida a partir de meados dos anos 1990) no mercado imobiliário.

Segundo ela, os jovens priorizam a segurança da compra do imóvel porque gerações anteriores conviveram com a fragilidade do aluguel. Compartilhar espaços, como coworking e áreas comuns do condomínio, também é um fator importante.

Além disso, eles defendem a sustentabilidade. "Não que os jovens não queiram um carro, mas preferem usar bicicleta ou transportes públicos e serem sustentáveis", afirma Silveira. O mesmo vale para o tamanho dos apartamentos "O pensamento deles é 'eu preciso de um apartamento de três dormitórios? Não, preciso do básico'", diz.

A corretora de imóveis Jéssica Fernanda da Silva, 24, fechou o contrato de um apartamento de 35 m² quando tinha 21 anos e também se enquadrava na faixa 2 do MCMV. A previsão de entrega é para outubro de 2024. "Se não tivesse comprado, teria gastado esse dinheiro. Já era um plano comprar uma casa. Meus pais também financiaram, queria isso para mim", afirma.

Para Ajzental, o debate sobre as preferências da geração Z no mercado imobiliário não se aplica ao Brasil. "É uma discussão baseada na cultura e economia de países mais ricos", diz.

Essa lógica do desapego é influenciada também pelo valor dos imóveis no país, um fator que afeta mais os jovens, afirma.

"Nos últimos anos, a renda não subiu na mesma proporção que o custo do imóvel. Está mais distante. À medida que fica mais difícil comprar, alugar se torna uma alternativa. Até que ponto a pessoa não está com o discurso de que 'não quero comprar, prefiro alugar', devido a falta dessa possibilidade?"

Para Gabriella Hansen, 22, o desejo por um imóvel veio quando saiu da casa da mãe. "Moro com o meu namorado. Decidimos comprar porque começamos a pagar aluguel e era algo sem retorno", diz.

Para comprar o apartamento, eles se mudaram para um imóvel alugado menor e equilibraram as contas. Hoje, Hansen mora no imóvel financiado, que adquiriu em março de 2023. "Durante esse um ano e meio, conciliamos construtora, aluguel e evolução de obra. Sem aluguel para pagar, é um alívio". Os valores dos imóveis das três variam entre R$ 205 mil e R$ 222 mil.

Jovens compram metade dos imóveis do Minha Casa, Minha Vida

BALANÇO

O perfil da mão de obra no campo está mudando. O consultor Ênio Fernandes Júnior, da Terra Agronegócios, lembra que a dificuldade para contratar trabalhadores afeta todos os setores da economia. Mas, para ele, o agronegócio tem a dificuldade de não estar em um centro urbano e ainda há uma ineficiência de comunicação, pois a população não conhece bem o agro e suas tecnologias.

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“Hoje, o agro é um dos setores que mais investem em novas tecnologias e precisa atrair talentos. A cada dia, o agro será mais tecnológico e necessitará de uma mão de obra mais conectada, ou seja, de mais cérebro de obra e menos mão de obra”, alerta Fernandes. Ele acredita que este jovem, com idade de 19 aos 30, é o perfil dos trabalhadores que o agro vai procurar, mas trabalhadores nesta faixa etária são escassos em vários setores.

O mesmo acontece com a sucessão familiar. “Uma geração são 25 anos e menos de 2% das empresas chegam a terceira geração. Raríssimas fazem 50 anos. A sucessão hoje é desafio em todas cadeias produtivas e no agro não é diferente. Precisamos treinar melhor nossa geração e mudar a maneira de comunicar com ela”, avalia o consultor da Terra Agronegócios.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/economia/sucessores-devem-ser-preparados-para-manter-negocio-1.3160796" target="_blank">Sucessores devem ser preparados para manter negócio</a> 
<a href="https://opopular.com.br/economia/agronegocio-tenta-manter-as-novas-gerac-es-no-campo-1.3160783" target="_blank">Agronegócio tenta manter as novas gerações no campo</a></div>

<h2>Alinhamento</h2>

Para a advogada Melina Lobo, a tendência é de que a geração Z se interesse mais pelo trabalho no campo porque, hoje, as máquinas são muito evoluídas e altamente tecnológicas, a exemplo de drones que fazem a pulverização das lavouras e pastos. “Precisamos alinhar o discurso da tradição do meio rural com o da inovação tecnológica para ter equilíbrio, pois trazer a tecnologia para a fazenda torna o negócio atrativo para as novas gerações”, destaca a advogada.

Mas ela também lembra que existem outros modelos de negócios no campo, que não exigem mais a força física ou mesmo a presença do proprietário, com o arrendamento das terras. “A sucessão precisa ser discutida dentro da família desde cedo, não como uma desonra, mas como algo leve, pois há muitos modelos de negócios que permitem a continuidade da propriedade rural na família, caso os herdeiros não queiram atuar diretamente no agronegócio”, explica Melina Lobo.

Agronegócio quer ampliar mão de obra mais conectada

Mercado de trabalho

Quatro adolescentes, com 13 e 14 anos de idade, foram abordados por policiais militares em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, com fuzis apontados na noite desta quinta-feira (4). Três deles eram negros e um era branco. A abordagem foi registrada por câmeras de segurança.

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Dois dos adolescentes abordados são filhos dos embaixadores do Gabão e de Burkina Fasso. Um terceiro é filho de um diplomata da embaixada do Canadá e o quarto é neto do jornalista Ricardo Noblat.

Os filhos dos diplomatas estrangeiros são negros.

Nesta sexta (5), o Itamaraty recebeu os embaixadores dos dois países africanos e entregou um pedido formal de desculpas pelo ocorrido.

O caso aconteceu na rua Prudente de Moraes, no momento em que eles estavam chegando a um prédio. Segundo Noblat, o grupo voltava da praça Nossa Senhora da Paz, após jogar futebol.

Os jovens foram empurrados para a garagem do prédio e revistados.

"A polícia está aqui para proteger. Como pode colocar armas na cabeça de meninos de 13 anos?", questionou Julie-Pascale Moudouté-Bell, embaixatriz do Gabão, em entrevista à GloboNews.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/peritos-encontram-indicios-que-contrariam-vers-o-de-pms-em-duplo-homicidio-1.3151329" target="_blank">Peritos encontram indícios que contrariam versão de PMs em duplo homicídio</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/pm-e-suspeito-de-agredir-e-ameacar-empresario-em-goiania-video-1.3150241" target="_blank">PM é suspeito de agredir e ameaçar empresário, em Goiânia; vídeo</a></div>

A família do adolescente branco afirma que a abordagem foi racista e denunciou o caso ao Itamaraty.

"Um dos meus netos estava com os meninos vítimas da violência racista da polícia do Rio", escreveu Noblat nas redes sociais. "Testemunha do episódio, o porteiro do prédio da rua Prudente de Moraes foi chamado a depor. Está assustado, e com razão", relatou.

Segundo a mãe do jovem branco, Rhaiana Rondon, os quatro amigos moram em Brasília e estavam no Rio para passar férias, acompanhados dos avós de um deles, em uma viagem planejada há vários meses. No momento da abordagem policial, por volta das 19h, eles deixavam outro amigo na porta do prédio.

"Foram abruptamente abordados por policiais militares, armados com fuzis e pistolas. Sem perguntar nada, encostaram os meninos no muro do condomínio", disse Rhaiana. "Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados. Foram obrigados a tirar os casacos e levantar o saco."

Ainda de acordo com o relato, os adolescentes foram questionados sobre o que faziam na rua. Os três filhos de diplomatas não entenderam a pergunta, por serem estrangeiros, e não conseguiram responder. O filho dela respondeu e, em seguida, o grupo foi liberado.

"Antes alertaram as crianças para não andarem na rua, pois seriam abordados novamente", afirma a mãe. "A abordagem foi racial e criminosa."

Ela disse, no relato publicado nas redes sociais e replicado pelo cunhado, o jornalista Guga Noblat, que a família frequenta o Rio há anos e nunca presenciou nada parecido em Ipanema.

"É um lugar aparentemente seguro. Depende para quem", afirmou. "Antes da viagem fiz inúmeras recomendações, alertas e conselhos: não ande com o celular na mão, cuidado com a mochila, não fiquem de bobeira sozinhos. Pensei em diversas situações, mas jamais que a polícia seria a maior das ameaças."

Os embaixadores do gabão e de Burkina Fasso foram recebidos pelo chefe do Cerimonial do Itamaraty, embaixador Mauro Furlan.

"Na reunião, foi entregue em mãos dos Embaixadores estrangeiros nota verbal com um pedido formal de desculpas pelo lado brasileiro, e o anúncio de que o Ministério de Relações Exteriores acionará o governo do estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem", afirma a nota do Ministério das Relações Exteriores.

Um documento com pedido de desculpas também será entregue à embaixada do Canadá, segundo a pasta.

Em nota, a Polícia Militar do Rio informou que os policiais envolvidos na ação portavam câmeras corporais e as imagens serão analisadas para verificar se houve excesso por parte dos agentes.

"Em todos os cursos de formação, a Secretaria de Estado de Polícia Militar insere nas grades curriculares como prioridade absoluta disciplinas como direitos humanos, ética, direito constitucional e leis especiais", diz o comunicado.