As indústrias de bicicletas só teriam produtos para entrega depois de fevereiro. De acordo com a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, a Aliança Bike, no primeiro semestre de 2021, as vendas de bikes cresceram 34,17% em comparação ao mesmo período do ano passado. Mas o mercado de bicicleta tem tido muita dificuldade para atender a esta demanda.A principal causa do desabastecimento é que a maior parte dos componentes vem da Ásia, principalmente da China, Taiwan, Malásia e Indonésia, mesmo para as bicicletas nacionais. Quem não se antecipou e reforçou o estoque, pode perder vendas agora.Fernando Araújo, da Fernando Bicicletas, conta que as indústrias alegam falta de vários componentes e até de embalagens, como plástico e papelão. Segundo ele, faltam diversos modelos, tanto para asfalto, quanto para trilha. Por isso, a grande maioria dos pedidos feitos agora, só devem ser entregues em 2022. A Shimano, uma das maiores fabricantes do mundo, já teria informado que só poderá entregar alguns modelos em 2023.Com a escassez de contêineres para atender a demanda mundial, o preço do frete marítimo disparou. Além disso, faltam de embalagens até vários componentes das linhas de montagem. “Quando eles entregam o pedido, ele vem reduzido”, destaca Fernando. Ele lembra que a linha de bicicletas infantis importadas também estão em falta. “A situação só deve começar a se normalizar depois de março de 2022. Vamos perder vendas no Natal por falta de produto”, prevê.BebidasAté distribuidores de bebidas contam que sempre não conseguem comprar um produto ou outro com os vendedores que os atendem. Faltam algumas embalagens de refrigerantes, cervejas e até água com gás. “Simplesmente dizem que está em falta, que não têm o produto entregar e não dão prazo para regularizar a oferta”, conta Ana Jéssica Galvão, da distribuidora Empório Gold. Ela dá o exemplo da embalagem de 600 mililitros de Coca-Cola, que ficou mais difícil de comprar, principalmente a versão zero caloria, além de algumas marcas de cerveja. “É muito ruim pra gente não conseguir atender o cliente, que pode não voltar.”Em nota, a Coca-Cola Bandeirantes informou que houve problemas pontuais de fornecimento da resina, que vêm sendo contornados por engarrafadores do Sistema Coca-Cola Brasil, garantindo a produção e distribuição normal das bebidas. “Nossa empresa desenvolveu vários planos de mitigação para que não houvesse um impacto expressivo para os nossos clientes e consumidores”, garante a fabricante de refrigerantes.ImportadosPara Jorge Nascimento, presidente executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), o problema é maior entre os produtos importados, e não os nacionais. Um dos problemas é a falta de contêineres, que fez o custo do frete disparar no mercado. “A indústria nacional não vai deixar de entregar produtos e até ficou mais forte com estas dificuldades dos importados”, acredita.Ele admite que há problemas com o fornecimento de alguns insumos, mas garante que a falta de refrigeradores, por exemplo, sejam problemas pontuais. “Não utilizamos semicondutores de grande porte e conseguimos sanar rapidamente a falta”, afirma. Já os celulares enfrentam um problema maior porque utilizam memória, processadores e telas, por isso enfrentam um desafio parecido com o da produção de automóveis.Jorge lembra que o setor puxou a retomada da economia e, no ano passado, principalmente porque as famílias passaram a ficar mais em casa e a investir para melhorar o ambiente doméstico, comprando eletrodomésticos novos. O problema é que a cadeia de suprimentos não conseguiu acompanhar esta retomada. “Já este ano, fomos bem atendidos, só que com preços bem mais altos”, afirma. Só o aço subiu 97% e o plástico ficou 50% mais caro. “O mundo todo acelerou a produção, o que causou um desequilíbrio e elevou os custos, mas não haverá falta de produto nacional”. Comércio aposta em adaptação e substituição de produtosAté a Casa Branca, nos Estados Unidos, maior economia mundial, já emitiu um alerta aos americanos de que eles devem enfrentar preços mais altos e prateleiras mais vazias neste Natal. Os transtornos causados pela pandemia de Covid são os principais culpados pelo desequilíbrio no mercado. Os portos americanos hoje estão sobrecarregados, com filas de navios. A China, uma das maiores fabricantes de matérias-primas, enfrenta crise de energia e suas províncias tiveram cortes de eletricidade. Mais da metade da energia do país vem do carvão, cujo preço aumentou em todo o mundo.Com isso, as fábricas tiveram que reduzir o consumo e até fechar alguns dias da semana, o que acabou se refletindo no mundo todo. Os reflexos de problemas que parecem tão distantes serão sentidos pelo comércio lojista e pelo consumidor goiano. Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Goiás (Sindilojas-GO), Eduardo Gomes, tudo isto já era esperado como reflexo da pandemia, depois que as indústrias ficaram muito tempo fechadas no mundo todo, afetando o suprimento do mercado em geral. “Mas nós acreditamos que o consumidor deve substituir os produtos que não encontrar na hora da compra”, prevê.Gomes acredita que só será possível ver melhor os reflexos dos problemas nos estoques das empresas após a Black Friday, que acontece na última sexta-feira deste mês. “Já sabemos que há possibilidade de falta de vários produtos, mas muitos serão substituídos e o mercado deve se adaptar, a ponto de não prejudicar as vendas do Natal”, estima.