Depois de disparar em lançamentos e vendas em Goiânia e região metropolitana no ano passado, o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) teve recuo no primeiro semestre, conforme dados da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), e busca retomar impulso. Um dos principais fatores para alavancar projetos e negócios é o novo modelo do programa, que ampliou alcance e benefícios e foi lançado em maio. Uma das novas regras prevê o financiamento habitacional para famílias com renda de até R$ 12 mil – antes, a renda máxima era de R$ 8 mil. Outra novidade do programa foi a criação da faixa 4, para imóveis até R$ 500 mil. Também contribui o que os analistas de incorporadoras definem como grande demanda ainda não atendida na capital e em Aparecida de Goiânia. O segmento vai muito bem, mas esbarra numa suboferta no mercado local, avalia Marcos Túlio Campos, diretor de Incorporação da EBM. “Há espaço para mais unidades.” De fato, o diretor de pesquisas e estatísticas da Ademi-GO, Credson Batista, informa que têm mais de 50 projetos aguardando aprovação na prefeitura, que devem representar cerca de 15 mil unidades que se enquadram no MCMV a serem lançadas nos próximos anos em Goiânia. “Em cidades como São Paulo, mais de 50% das unidades comercializadas são dentro do programa, o que demonstra a força e a demanda gigantesca por esse tipo de habitação de interesse social. Porém, em Goiânia, o nosso estoque desse tipo de produto é cerca de apenas 12% das nossas unidades”, compara Batista. O entrave para ampliar a oferta nesse segmento era a falta de regulamentação, como há anos já existe em outros centros urbanos, comenta o diretor da Ademi-GO. “Em Goiânia nós tivemos uma lei, aprovada recentemente, justamente para fomentar esse mercado. Então, essa lei deve trazer muitas unidades nos próximos meses”, projeta. Além disso, Batista ressalta que a Ademi-GO iniciou conversa com a Prefeitura de Aparecida de Goiânia, que tem vocação para o desenvolvimento desse tipo de produto, com áreas que comportam esses empreendimentos, para que lá também seja aprovada uma lei de habitação de interesse social que fomente a oferta de unidades.No MCMV, com a alteração do teto da faixa 3 para R$ 350 mil no primeiro semestre, houve um crescimento de 25,8% nas vendas no cenário nacional, enquanto em Goiânia ocorreu redução de 8%, devido à dificuldade de viabilizar projetos, o que deve mudar com a lei aprovada. A implantação da faixa 4, até R$ 500 mil, não aparece nos dados da pesquisa da Ademi-GO do primeiro semestre, mas também são esperados impactos dela no mercado.Esses fatores tendem a se refletir no próximo levantamento, revertendo a queda registrada na mais recente pesquisa da Ademi-GO. Nela, o número de unidades lançadas no MCMV em Goiânia e Aparecida de Goiânia caiu de 1.728 para 1.352 unidades no comparativo entre o primeiro semestre de 2024 e 2025. Com isso o estoque dentro do programa caiu de 1.333 unidades para 1.252. As vendas no mesmo período caíram de 1.370 para 1.266 unidades, uma redução de 8%. ExpansãoApesar dos números negativos citados, o mercado imobiliário local comemora expansão alcançada e projetada.“Tivemos recorde de vendas em agosto, 240, a maior desde 2019, quando foram 227. Crescemos em Goiás”, comemora Paulo Passos, gerente comercial de loja virtual da MRV em Goiás e especialista no MCMV. Na MRV, maior construtora da América Latina, o MCMV responde por 90% das vendas. “Seguimos vendendo bem, só na primeira quinzena de setembro já vendemos mais de 100 unidades”, reforça ele. A projeção do gerente é de manter o ritmo nos próximos cinco anos, afirmando que a construtora tem estoque até 2030 e caixa para a compra de novos terrenos. “Fizemos três lançamentos, teremos mais um em outubro e outro em novembro. São cerca de 2 mil unidades novas, fora o estoque, de 1.600 unidades”, informa. O novo MCMV tem favorecido a expansão, confirma Passos. “Como antes o limite era para renda de até R$ 8 mil, existia um limbo para o público que buscava produto de médio padrão”, situa, apontando para oportunidades nesse mercado. Além da ampliação do limite de renda, ele menciona a possibilidade de comprovação de renda por autônomos e a renda combinada entre mais de uma pessoa para acesso ao financiamento. Essas facilidades convenceram os namorados Salmo Felipe, vendedor em uma loja de produtos de refrigeração, com carteira de trabalho assinada, e a estudante Kamille Fernandes Silva, trabalhadora informal, de que era o momento de investir no sonho da casa própria. Para isso, ela comprovou renda com a movimentação financeira em extratos bancários dos últimos três meses. O financiamento acaba de ser aprovado. A composição da renda de ambos ajudou muito, atesta ela. Adquiriram por R$ 244 mil, na planta, um apartamento de 43 metros quadrados, com dois quartos, no Condomínio Gran Verona, em Aparecida de Goiânia. A construção será iniciada em alguns meses e a entrega está prevista em dois anos. “Demora um pouco a entrega, mas é o tempo de organizar nosso casamento e como mobiliar nosso primeiro imóvel”, comemora Kamille. A entrada foi financiada direto na construtora, em 48 vezes. O gerente comercial da MRV salienta que não é preciso pagar a entrada à vista. Ele diz que é possível parcelar em até 60 vezes, direto na construtora. “Conseguimos encaixar um custo-benefício que cabe no orçamento das famílias”, garante. Cita ainda que, como se trata de um programa do governo federal, o comprador fica blindado de variações da taxa de juros. “Os juros vão de 4.25% até 10% ao ano para esses clientes”, ou seja, abaixo das taxas oferecidas no mercado, em torno de 12%. Após mencionar recorde de vendas em Goiânia e região metropolitana neste ano, o diretor comercial da CMO Construtora, Marcelo Moreira, estima demanda crescente em todas as faixas do MCMV. Como exemplo, ele fala do lançamento neste sábado (20), do condomínio Casa América, com apartamentos de 2 quartos, de 43 a 49 metros quadrados e que custam de R$ 350 mil a R$ 450 mil, no Parque Amazônia. “São 324 unidades e já no pré-cadastro, tivemos mais de 300 clientes cadastrados, ou seja, a expectativa é de vender tudo já no lançamento.” Moreira atribui essa alta procura ao grande déficit habitacional entre os estratos de menor renda. “Vemos espaço para novos lançamentos”, avalia, acrescentando que nos próximos três anos, serão no mínimo dois lançamentos por ano. Também neste sábado, a EBM lança o empreendimento Nau 111, no Centro da capital, com unidades cujos valores se enquadram nas faixas 3 e 4 do MCMV. Foram dois empreendimentos lançados neste ano e a incorporadora planeja lançar mais dois. Marcos Túlio Campos, diretor de Incorporação , reconhece que as incorporadoras não conseguiram lançar no mercado volume de unidades correspondente à demanda. “Há muitos potenciais compradores que ainda desconhecem que podem comprar. É preciso também informar, mostrar as vantagens”, indica ele. No primeiro semestre deste ano, a EBM vendeu 30% a mais que no mesmo período do ano passado no MCMV. De cerca de 550 unidades em 2024, passou para 700 unidades em 2025.