Por falta de consenso em torno do tema, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), decidiu adiar a votação das propostas legislativas que tinham como objetivo diminuir o preço dos combustíveis. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sinalizou que, se houver convergências entre as duas Casas nos textos sobre o tema, as PECs (propostas de emenda à Constituição) apresentadas na Câmara e no Senado seriam afastadas definitivamente.Os dois projetos em tramitação no Senado tinham votação prevista para esta quarta-feira (16) no plenário da Casa. No entanto, há resistência por parte dos parlamentares, que pedem mais discussão sobre os pareceres apresentados pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN). Além disso, Lira mostrou a todo momento contrariedade com as mudanças que estavam sendo promovidas pelos senadores em uma das propostas, que já havia sido aprovada pela Câmara dos Deputados.Também na tarde desta quarta-feira (16), Pacheco afirmou que a nova votação das propostas está marcada para a próxima terça-feira (22). O presidente do Senado argumentou que esse tempo será necessário para um melhor “alinhamento” e que as partes possam chegar a um “denominador comum”.O relator das propostas, Jean Paul Prates, argumentou que se trata de uma medida normal, tendo em vista que o processo legislativo demanda cautela e diálogo. “Estamos avançando em busca de um entendimento que permita tramitação veloz na Câmara dos Deputados do texto que for aprovado no Senado. Ao mesmo tempo, vamos ouvir mais pessoas, buscando a solução que priorize os mais pobres”, diz a nota.O relator ainda aproveitou para criticar o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Preciso registrar que estamos nessa atual conjuntura em decorrência de uma má decisão política de governo: a de atrelar os custos da nossa matriz de combustíveis ao dólar - prejudicando muitos para enriquecer poucos. A revisão do PPI [preço de paridade de importação] e do papel da Petrobras é um imperativo”, afirmou.Lira disse que o acordo que está sendo construído pode enterrar as PECs que estavam sendo debatidas. “O que ficou entendido é que as duas casas vão perder mais um pouco de tempo para que a gente possa ganhar mais rapidez no retorno.”Estados reagem a novo texto de projeto que altera regras de ICMS Os secretários de Fazenda estaduais reagiram ao substitutivo do projeto de lei 11/2020, que altera as regras de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis. Apresentado nesta terça (15) pelo relator, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), o texto também desagradou ao Ministério da Economia.O Comsefaz (Comitê dos Secretários de Fazenda dos Estados) afirma que o texto, ao implementar a cobrança de uma alíquota única do ICMS sobre combustíveis em todo o território nacional, vai acabar elevando os impostos.“A implementação de alíquota uniforme em um novo regime acarretaria fatalmente em aumento de carga tributária”, afirma o Comsefaz em carta assinada por 27 secretários estaduais. “Os estados com as menores cargas precisariam elevar suas incidências até o patamar que garanta a arrecadação dos estados com maiores cargas, para se chegar a uma alíquota cuja geração de recursos fosse de tamanho porcentual uniforme em todo território nacional”, dizem.Para os secretários, o texto parte da premissa equivocada de que o aumento dos combustíveis é causado pelo ICMS. “As regras do ICMS não são alteradas há quase duas décadas. Não houve alterações recentes de alíquotas, tampouco na sistemática de apuração, que é a mesma desde 2007”, afirmam. Os valores observados nos postos, dizem eles, são fruto da política de preços exercida pela Petrobras desde 2016, que possuiu aderência aos preços internacionais do petróleo e à taxa de câmbio. “(Isso) tem permitido extremar o volume de distribuição de dividendos aos acionistas nacionais e estrangeiros, à medida que exacerba seu lucro frente a uma escalada de preços internacionais”, dizem.Os secretários afirmam que as alterações sugeridas pelo projeto 11/2020 são inconstitucionais e não reduzem os preços. Por isso, solicitam ao Senado que tramite outro projeto - o PL 1472/2020, que cria a necessidade de os preços internos terem como referência o custo de produção e que cria um fundo para estabilizar os preços (proposta rechaçada pelo Ministério da Economia). O projeto de lei complementar relatado por Prates praticamente desconsidera o texto aprovado pela Câmara. O senador aponta que a proposta inicial apresenta vícios de inconstitucionalidade, por ofender a autonomia de estados.