O goiano Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central do Brasil e ex-ministro da Fazenda, deve ajudar a regulamentar o mercado de criptomoedas no mundo a partir de agora. Ele acaba de ser contratado para compor o conselho consultivo mundial da Binance, a maior corretora de criptomoedas do mundo, e acredita que a regulamentação é o melhor caminho para elevar a confiabilidade e o interesse dos investidores pelas moedas digitais. Em entrevista exclusiva ao POPULAR, Meirelles disse que o mercado de criptomoedas representa o futuro, principalmente pela praticidade e agilidade dos serviços que pode proporcionar ao mercado financeiro. Natural de Anápolis, Meirelles cursou Engenharia Civil na Universidade de São Paulo (USP), fez MBA na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e se especializou em gestão de grandes corporações na prestigiada Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.Foi presidente do BankBoston, sendo o primeiro estrangeiro a comandar um banco norte americano de grande porte, presidiu o Banco Central no governo Lula e foi ministro da Fazenda do ex-presidente Michel Temer. Meirelles confirmou que já aceitou o convite da Binance, tendo inclusive participado da primeira reunião do Conselho Consultivo da corretora, em Paris (França).Segundo ele, que ainda está estudando mais profundamente o mercado de criptomoedas, a primeira questão em vista é a necessidade de regulamentação deste mercado, o que será feito através de diálogo com os Bancos Centrais de cada país, inclusive do Brasil. Entre as principais demandas estão a valoração total deste mercado e a transparência sobre a origem dos recursos, inclusive com moedas emitidas pelo próprio Banco Central.Leia também:- Usuários aprovam 5G, mas sinal ainda é para poucos Atualmente, há a expectativa para votação do projeto de lei que regula as criptomoedas no País, que ainda será avaliado por Meirelles para possíveis futuras sugestões. “Quando estive no Banco Central, tive a iniciativa de fazer leis que regulamentam esta definição da origem de dinheiro pelo bancos”, lembra. Ele explica que o objetivo agora é criar ferramentas tecnológicas que forneçam um histórico das transações, dando mais solidez e confiabilibilidade à moeda digital, trabalhando em conjunto com os Bancos Centrais pelo mundo.Um dos motivos da escolha de Meirelles pela Binance foi justamente sua ampla experiência em regulamentações. O executivo já foi, inclusive, membro do conselho e da diretoria do banco da Basileia, quando fez sugestões de regulamentações para diversos países, sendo que muitas delas foram adotadas, inclusive pelo governo americano. “As normas definidas nesta regulamentação global, de forma articulada entre os Bancos Centrais, devem ajudar a popularizar e acabar com a insegurança de alguns investidores em relação à criptomoeda”, prevê. Para Meirelles, um controle do Banco Central sobre a quantidade de moedas emitidas também ajudaria a reduzir a grande volatilidade atual deste mercado. Ele lembra que a demanda é grande e as criptomoedas estão muito valorizadas, e elogiou o potencial delas no mercado. “É um mercado muito interessante, novo, que representa o futuro e que pode proporcionar ganhos importantes sob o ponto de vista econômico e de qualidade de serviços, à medida que possibilita pagamentos mais rápidos e de forma simplificada, sem intermediações”, avalia.MobilizaçãoO ex-presidente do Banco Central do Brasil e atual membro do Conselho Consultivo da Binance estima que será necessário um prazo de, pelo menos, entre seis meses e um ano para que esta regulamentação seja criada. Este prazo, segundo ele, ainda dependerá do nível de mobilização dos Bancos Centrais pelo mundo, pois o interesse já existe. O resultado final deve ser um impulso no mercado de criptomoedas no mundo, que já tem muitas vantagens interessantes, mas desde que esteja devidamente regulamentado.Apesar de o brasileiro ter um perfil investidor mais conservador, para o ex-presidente do Banco Central, no Brasil talvez existam até mais investidores interessados em criptomoedas que nos demais países pelo mundo. “As ferramentas do meio digital têm uma aceitação muito boa em países emergentes”, destaca. Para ele, o que existe hoje é um cuidado natural dos investidores, antes que haja esta devida regulamentação.Sobre a possibilidade de as normas criadas por uma regulamentação global também ajudarem a aumentar a segurança das transações, evitando problemas como a lavagem de dinheiro ou transferências fraudulentas, Henrique Meirelles ressaltou que crimes envolvendo criptomoedas podem ocorrer usando qualquer outra moeda, como real ou dólar.Por isso, a prevenção de fraudes no uso de uma moeda eletrônica também requer cuidados por parte dos próprios usuários nos meios digitais, assim como em qualquer transação financeira. O próprio Banco Central do Brasil já criou diretrizes para o desenvolvimento e implementação do “Real Digital”, uma versão brasileira das chamadas Central Bank Digital Coins (CBDC), que seriam o espelho do dinheiro soberano no mundo digital, utilizando-se de tecnologia mais avançada.Um dos objetivos é a redução de atividades ilícitas, com a diminuição do uso de dinheiro em espécie e a possibilidade de rastrear as transações. A Binance vai liderar o processo de autorregulamentação, com tecnologias que assegurem, principalmente, a análise de origem do dinheiro. A regulamentação deve trazer muitas mudanças, pois as criptomoedas foram criadas justamente visando uma maior liberdade, com sigilo das comunicações, pela possibilidade de realizar transações sem uma entidade reguladora/fiscalizadora.