O anúncio da construção de três novos grandes empreendimentos turísticos em Pirenópolis começa a movimentar mais a economia local e a gerar polêmica entre os moradores da cidade. Os novos resorts e hotéis, que serão construídos no sistema de multipropriedade, onde cada apartamento terá vários donos através de cotas, já estão sendo oferecidos por vendedores pelas ruas mais movimentadas de Pirenópolis. Mas alguns moradores organizaram uma petição alegando impactos na qualidade de vida local e pedem a paralisação das obras.O grupo goiano GAV Resorts já está comercializando cotas do Pyrenéus Residence, que será construído num terreno de 30 mil metros quadrados, no lado externo do Anel Viário da cidade, na divisa com o córrego José Leite. Com um investimento de R$ 90 milhões, o empreendimento terá 150 apartamentos. O sócio-diretor da GAV, Átila Gratão, informa que o futuro resort foi lançado em meados do ano passado, em Brasília, e mais recentemente em Pirenópolis, com a instalação de um showroom na rua do Lazer. Cada apartamento terá 26 frações, sendo uma da administradora e 25 abertas à comercialização, por cerca de R$ 30 mil cada. A construção do Pyrenéus Residence será iniciada em meados deste ano, com entrega prevista para 2025. Gratão informa que Pirenópolis foi escolhida para abrigar o primeiro investimento da empresa goiana no Centro-Oeste por ser uma cidade histórica com alta gastronomia e rica cultura. “Buscamos um novo empreendimento que se comunicasse com nosso público-alvo e pudesse proporcionar um bom valor agregado à nossa base de clientes”, completa. Além disso, segundo ele, a cidade está estrategicamente localizada entre dois grandes centros urbanos: Goiânia e Brasília. “Muitos turistas já veem Pirenópolis como um local de segunda residência, pela proximidade com as duas capitais”, destaca. O empreendedor ressalta que Pyrenéus ficará fora do centro histórico da cidade, evitando problemas como os que resultaram na paralisação das obras do Quinta Santa Bárbara Eco Resort pelo Ministério Público de Goiás. “Também tomamos todos cuidados com as licenças necessárias para aprovação, além de termos uma estação de tratamento de água e esgoto. Nosso empreendimento está todo 100%”, ressalta Átila.Outros hotéisO Mandala dos Pirineus Eco Village, empreendimento lançado pela WAM Comercialização em parceria com o Grupo Villa Hotéis, será construído próximo à Igreja Matriz da cidade. O futuro hotel, que também já tem suas cotas comercializadas, contará com espaço teen, academia, piscinas adulto e infantil e rooftop de frente para a Serra dos Pirineus.Também vendido no sistema de multipropriedade, o empreendimento Reserva de Pirenópolis, um projeto da Toro Participações e da Trinus Co, foi lançado oficialmente em outubro do ano passado, com a abertura oficial da sala de vendas na rua do Artesanato e o início da comercialização. Com investimento de R$ 50 milhões, será formado por 17 torres com um total de 544 apartamentos e 13.500 frações imobiliárias. Com estimativa de um valor geral de vendas (VGV) de R$ 520 milhões, o Reserva de Pirenópolis contará com dois parques aquáticos, diversas áreas de lazer para crianças, seis saunas, quatro spas integrados com jacuzzi e sala de massagem, duas academias, dois bares e um restaurante.De acordo com o Censo Hoteleiro de Pirenópolis 2018/2019, do Observatório do Turismo do Estado, a cidade já contava com 7,7 mil leitos distribuídos em 2.894 quartos disponíveis para os turistas. Procurada para comentar sobre a petição organizada por moradores da cidade, a Prefeitura de Pirenópolis não enviou resposta até o fechamento desta edição.Moradores querem barrar construções Um grupo de moradores e entidades da cidade organizou uma petição que pretende reunir 700 assinaturas que serão levadas às autoridades do município pedindo a paralisação das obras. Segundo a petição, elas teriam sido licenciadas de forma indevida, sem a participação da sociedade civil, revisão dos processos de licenciamento ambiental para grandes empreendimentos ou audiência pública.O guia de turismo regional Cristiano da Costa, uma das pessoas que estão à frente da petição, observa que as ruas mais movimentadas do centro histórico já estão cheias de vendedores de cotas dos empreendimentos, assim como acontece em Caldas Novas, o que já estaria gerando reclamações dos turistas. “Eles já estão evitando passar por determinados pontos para não serem incomodados.”Segundo Cristiano, além destes, outros empreendimentos também pleiteiam a entrada em Pirenópolis e os prejuízos ambientais não se limitam aos próximos ao centro histórico. “Dois deles estão dentro da Zona de Preservação Paisagística, como prevê o Plano Diretor”, diz. De acordo com a petição, empreendimentos na modalidade de vendas compartilhadas provocarão grande impacto na vida da cidade e no destino turístico, alterando profundamente as pequenas pousadas e o sossego da cidade, sem ter havido consulta à população.O guia questiona a falta de uma audiência pública para discutir o assunto. “Estes empreendimentos já haviam sido barrados e havia uma recomendação de que não fossem aprovados antes da revisão do Plano Diretor, embargado por irregularidades”, alerta Cristiano.Quinta Santa Bárbara teve obras paradas e fez acordo para retomadaAs obras do Quinta Santa Bárbara Eco Resort, iniciadas em 2016, chegaram a ser paralisadas por quase um ano, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) acatou denúncia de que o empreendimento estava sendo construído em uma área de preservação permanente (APP). Moradores da cidade também ingressaram na Justiça com uma ação civil pública alegando que a obra descaracterizaria a arquitetura colonial do município. Mas um acordo firmado com o Ministério Público de Goiás (MP-GO) autorizou a retomada das obras em agosto de 2020.O acordo feito entre a empresa Quinta Empreendimentos Imobiliários, responsável pelo investimento, e o Ministério Público previa que o empreendimento deveria cumprir uma readequação no projeto de construção. O resort deve ocupar uma área de 60 mil metros quadrados do centro histórico de Pirenópolis.