Produção cítrica em Goiás

Produtores goianos de laranja e tangerina estão preocupados com os prejuízos econômicos causados por uma praga a muitos pomares no Brasil. A doença Huanglongbing (HLB), conhecida como greening, que hoje é a principal ameaça à citricultura mundial, causou a erradicação de milhares de plantas pelo País e registrou os primeiros casos em Goiás, num momento de mercado aquecido e bons preços do produto. Só em território goiano, 1,8 mil plantas já foram erradicadas para evitar a proliferação.

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Os pomares de laranja e tangerina afetados estavam em Quirinópolis, Campo Limpo de Goiás e Anápolis. “Os sintomas são folhas amarelas entremeado com o verde, nervuras mais grossas, manchas assimétricas, que não correspondem ao outro lado de mancha igual. Os frutos, quando cortados longitudinalmente, tem seu eixo central deslocado e podemos ver sementes abortadas”, diz o engenheiro agrônomo e consultor em citricultura da Farm Atac, Leandro Fukuda.

No Brasil, o greening chegou entre 2004 e 2005 na região de Araraquara (SP) e provocou um dano muito grande aos pomares locais. Segundo Fukuda, ao longo dos anos ela foi se espalhando por todo estado de São Paulo. “Hoje, temos mais de 50% de plantas contaminadas, que perdem de 60% a 70% da sua produção em sua fase final”, destaca. Ele explica que o problema de ter muitas plantas contaminadas no campo é que fica impossível formar novos pomares, resultando em perda da capacidade de produção.

“Já chegamos a produzir 400 milhões de caixas de 40,8 quilo de laranja em São Paulo, mas a safra que está terminando deve ficar entre 220 a 230 milhões de caixas”, ressalta o consultor. Além da perda de produtividade, a doença faz com que os produtores percam muitos pomares recém implantados. “Ainda podemos dizer que é uma doença que provoca uma perda de patrimônio, se levarmos em conta o valor de uma planta adulta e o seu lucro cessante”, afirma.

Para Fukuda, os pomares goianos estão em situação confortável no momento, por não terem o greening em volume. Mas ele acredita que é preciso ficar alerta, pois somente no início é possível criar mecanismos para controle. “A erradicação de plantas doentes é a chave junto com controle do vetor com pulverizações. Se isto não for feito agora, com certeza o caminho será o mesmo de São Paulo”, alerta.

O presidente da Associação Goiana dos Citricultores (Agocitros), Almir Cavalcante Bastos, que tem 60 mil plantas em Palmeiras de Goiás, sendo 51 mil em produção, estima que o investimento para formar um hectare seja de cerca de R$ 45 mil para implantação.&nbsp;

Segundo ele, uma planta de 12 anos já teria um custo de R$ 450 e um único produtor goiano precisou erradicar 1.200 plantas. Mas ele também concorda que o maior prejuízo é o lucro cessante. “Cada planta produz cerca de 5 caixas de tangerina ponkan de 25 quilos por ano e poderia dar um lucro bruto de R$ 200. O prejuízo se torna gigante”, avalia.

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Na Flórida (EUA), um dos maiores produtores mundiais, a produção despencou de 350 milhões de caixas para entre 12 a 15 milhões por causa da doença. A queda na produção de São Paulo deve prejudicar o abastecimento das indústrias brasileiras, que já buscam novas fronteiras para implantação de laranjais, inclusive no Sudoeste Goiano, o que trouxe oportunidades para o estado com a expansão do plantio. A expectativa é que a área cultivada em Goiás passe de 12 mil para 18 mil hectares até meados deste ano.

A boa rentabilidade atual da cultura também tem incentivado a expansão dos pomares no estado. O preço de mercado da caixa com 40,8 quilos chegou aos R$ 140, efeito da produção menor no Sudeste por conta da doença e da seca em Goiás. Hoje, está em cerca de R$ 110.&nbsp;A comercialização de 41,6 mil toneladas de laranjas movimentou R$ 91,1 milhões na Ceasa em 2023, mas os produtores não têm seguro. “As seguradoras não pegam. É cultura de risco e vulnerável a problemas climáticos”, destaca o presidente da Agocitros.

Para ele, que produz 3,1 mil toneladas ou 76,5 mil caixas anuais, São Paulo perdeu o time, pois muitos produtores não faziam o controle necessário. Alguns até intensificavam pulverizações para matar o vetor, mas outros não. “Nossa maior preocupação hoje é não deixar o que aconteceu em São Paulo, Minas Gerais e até na Flórida chegar até aqui e termos prejuízos semelhantes”, afirma. Hoje, Goiás tem 129 produtores, sendo 86 médios e grandes, com mais de 25 mil plantas cada.

Para o produtor de laranjas há 30 anos, com quatro propriedades e 150 mil pés em produção nos municípios de Itaberaí e Mossâmedes, Fábio Soares, é preciso ficar em alerta para o problema sanitário no Estado. “A preocupação é grande, mas temos que agir a partir das experiências de São Paulo e do Paraná, estados que perderam o controle absoluto da situação. Mas com grandes estudos a nos oferecer para que possamos continuar a produzir”, adverte.

Soares lembra que todo investimento para iniciar a produção a partir do quarto ano tem custos elevadíssimos de implantação dos pomares. Por isso, diz ser urgente a criação de um fundo privado, dentro de uma lei estadual específica sobre o tema, para auxiliar na execução de tarefas, ao lado da Agrodefesa, garantindo eficiência e agilidade na erradicação dos focos.&nbsp;

Outro ponto importante, segundo ele, é a exigência de responsável técnico (RT) em todos novos projetos, mesmo que sejam de pequenos produtores ou chacareiros para garantir melhor controle com assistência técnica. “Reconhecemos o importante trabalho feito pela Agrodefesa, através de sua Gerência Vegetal, mas também precisamos alertar os produtores que o trabalho técnico tem que ter o apoio deles, junto com estratégias para enfrentar o problema”, diz o citricultor.&nbsp;

Ele lembra que, em oito anos, metade dos pomares de São Paulo foram contaminados e perderam o controle da praga, o que não será diferente em Goiás se as ações necessárias não forem tomadas com rapidez. Isso se torna mais importante num cenário de oportunidades para Goiás. Leandro Fukuda confirma que grandes indústrias de suco estão procurando áreas de escape para implantação de novos pomares, de preferência sem pressão da doença, por conta da inviabilização de plantios em São Paulo.

Pomares goianos entram em alerta para combater praga

Economia

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Matéria - Economia

Citricultura

Uma dos principais cautelas para evitar a infestação pelo greening é tomar cuidado com material genético vindo de outros lugares, principalmente mudas, e manter monitoramento constante do inseto e pulverizar com certa regularidade. O segundo ponto, segundo o engenheiro agrônomo e consultor Leandro Fukuda, seria a vistoria de pomares a cada três meses, pelo menos. Além disso, é preciso erradicar as plantas sintomáticas imediatamente.&nbsp;

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Ele lembra que o setor público também deve criar regras rígidas para o cuidados com os pomares, mas isso pode ser feito enquanto ainda houver poucas plantas doentes no campo. “Depois, não há mais como fazer isto. O combate da doenças é um tripé, que começa com mudas sadias, controle do vetor e erradicação de plantas contaminadas. Se não tivermos plantas doentes no campo, teremos o psilídeo mas sem transmitir a doença”, alerta o agrônomo.

A Agrodefesa realizou um monitoramento em 64 propriedades, de 51 municípios, e 10 viveiros de mudas, localizados na capital e entorno em 2024. A medida buscou atualizar o status fitossanitário das pragas no estado. A gerente de Sanidade Vegetal da Agrodefesa, Daniela Rézio, reconhece que a doença é preocupante, mas garante que a agência está em constante alerta e monitorando as áreas.&nbsp;

O primeiro foco, numa propriedade comercial de Quirinópolis, já foi erradicado. Em Campo Limpo, três propriedades tiveram 500 plantas erradicadas. Daniela afirma que o inseto infectado pela bactéria transmite a doença para a planta, que chega em mudas de viveiros não registrados e não inspecionados. “Por isso, o maior risco é a compra de mudas clandestinas, vendidas em caminhões, que podem estar contaminadas. Foi o caso da transmissão em Campo Limpo”, adverte.&nbsp;

Como a praga já causou destruição em outros estados, Goiás se tornou local promissor para a produção e a gerente da Agrodefesa garante que o serviço de defesa sanitária está atuante. Mas se sociedade não colaborar, a praga se alastra e a única forma é erradicação é eliminando o pomar. “Nos municípios e Campo Limpo e Anápolis, são pequenos produtores que têm dificuldade de aceitar a erradicação, por conta do prejuízo. Outra propriedade, em Anápolis, com 100 plantas, está em fase de erradicação das plantas”, conta.&nbsp;

Erradicações

Cerca de 1,8 mil plantas já foram erradicadas no estado. Por isso, ela diz que é preciso alertar a sociedade a não adquirir mudas que não sejam de viveiros registrados para evitar a proliferação. O trabalho, agora, é visitar as propriedades e, onde a praga for constatada, determinar a destruição. “Os produtores precisam se unir para adoção das medidas e ajudar a alertar a sociedade”, diz Daniela Rézio.

O presidente da Agrodefesa, José Ricardo Caixeta Ramos, reforça que Goiás está em processo de criação de um fundo emergencial e indenizatório, que atenderá os produtores afetados. Segundo ele, em breve, a nova lei, que já tem o aval do governador Ronaldo Caiado, irá para a Assembleia Legislativa. “Estamos reforçando nossa estrutura de pessoal, técnica e de equipamentos, como armadilhas para capturar o psilídeo”, informa. O fundo indenizatório será voltado para a defesa de toda agropecuária goiana. Os recursos virão da própria arrecadação da Agrodefesa. Já existe um cronograma de ações e a estimativa é que o fundo seja realidade ainda neste primeiro semestre.&nbsp;

A Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), no Mato Grosso do Sul, também já alertou os produtores rurais e a população geral sobre o perigo da compra de mudas irregulares, que podem trazer graves problemas aos pomares do estado, em função da HLB. A recomendação foi para que sejam feitas as aquisições de mudas de qualidade e combatida a comercialização irregular, como a feita por ambulantes.

“A Iagro emite alerta fitossanitário sobre o risco de comprar e plantar mudas sem origem. Elas não têm garantia de identidade e nem de qualidade para utilização em pomares domésticos ou comerciais e representam um perigo”, alertou Glaucy Ortiz, gerente de inspeção e defesa sanitária vegetal da Iagro.

Em Goiás, 1,8 mil plantas foram erradicadas até agora

O governador Ronaldo Caiado (UB) afirmou que o investimento em inovação e tecnologia é estratégia basilar para impulsionar a produtividade do agronegócio em Goiás. Em um painel do AgroForum, promovido pelo BTG Pactual nesta segunda-feira (4) em São Paulo, O governador ressaltou políticas que sua gestão vem implementando no setor e cobrou que empresários busquem valorizar a capacidade produtiva do Brasil, ao invés de enaltecerem unicamente o que vem do Vale do Silício, nos EUA.

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“Cada vez mais Goiás tem investido fortemente na área da inovação, da tecnologia, mostrando que é por aí que vamos chegar a uma produtividade cada vez maior. É algo que eu, como médico que sou, acredito na ciência”, afirmou. Caiado citou ainda o programa de recuperação do rio Araguaia, em parceria com o Mato Grosso, que já acumula cerca de cinco mil hectares recuperados.

O goiano criticou a desvalorização do agronegócio e da tecnologia brasileira e defendeu a autonomia nacional em produção de alimentos e energia renovável, e falou da importância de promover a capacidade produtiva do Brasil no cenário internacional, comparando o avanço do agronegócio brasileiro ao potencial do Vale do Silício.

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“Nós não demos conta de construir no mundo uma ideia de que o que está acontecendo no Brasil é mais importante do que o que está acontecendo no Vale do Silício. Costumo dizer que o grão de soja tem mais tecnologia do que um smartphone”, ilustrou à plateia repleta de empresários e representantes do setor produtivo.

Nesse sentido, o governador também criticou a tendência de algumas lideranças de seguir narrativas externas que, segundo ele, não favorecem o crescimento do Brasil, principalmente quando o país é uma das poucas nações capazes de produzir até três safras ao ano graças ao clima e ao avanço da irrigação. Ele destacou que, enquanto os americanos e europeus produzem apenas uma safra anual devido a limitações climáticas, o Brasil pode expandir essa capacidade (hoje faz 3 safras ao ano) e se tornar essencial no contexto de crescimento populacional do planeta até 2050.

<h2>Clima e desmatamento</h2>

Ao lado dos governadores do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), e do Piauí, Rafael Fonteles (PT), Caiado mencionou que, para fortalecer o combate ao desmatamento ilegal, o Executivo estadual fez acordos com entidades de classe, incluindo também pequenos agricultores e representantes da agricultura familiar.

Questionado sobre propostas para mitigar os efeitos decorrentes das mudanças climáticas e as queimadas que afetam o estado, o governador disse que a estiagem prolongada este ano agravou os focos de incêndio. “Foi uma seca longa e que junto a isso, tivemos um porcentual muito grande de queimadas, muitas criminosas”, afirmou.

Para combater essas práticas, o governador tem defendido uma legislação mais rigorosa. “Nós tentamos fazer uma modificação na lei, para que quando o cidadão for preso, não pode ser um crime inafiançável, e com isso ele teria que responder na cadeia, afastando aquela continuidade de riscos de incêndios criminosos de nosso estado.”

Com isso, a tecnologia também tem sido um pilar das ações para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, destacou Caiado. Ele mencionou também a instalação de indústrias de bioinsumos no estado, reduzindo o uso de insumos minerais e buscando uma agricultura mais sustentável.

Caiado cita inovação e investimentos e compara setor com o Vale do Silício

Agronegócio

Futuro ferroviário

A operação na Ferrovia Norte-Sul está de vento em popa, principalmente a partir de Rio Verde, que tem a plataforma de granéis, com farelo e fertilizantes, avalia o presidente executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial), Edwal Portilho. “Acho que, brevemente, vão atingir 11 milhões de toneladas de movimentação anual”, prevê.

Ele lembra que também estão sendo construídos terminais de líquidos para operação de combustíveis. “Levaremos biocombustíveis, etanol e biodiesel, e voltaremos com gasolina e diesel”, explica. A estimativa é que isso resulte em 1 bilhão de metros cúbicos por ano de combustíveis, trazendo divisas para o estado.

Portilho diz que teve notícias de que o frete rodoviário na região já barateou, puxado pelo aumento do volume do modal ferroviário. “Empresas como a Comigo e o Grupo Cereal transportam bastante farelo de soja pela ferrovia, a partir de Rio Verde”, destaca o executivo.

Ele ressaltou a importância das audiências públicas para renovação antecipada da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que vai de Anápolis até os portos de Vitória e o Rio de Janeiro e também para o Porto de Santos. O objetivo é pressionar para que os novos investimentos previstos no contrato incluam um ramal de Anápolis até Araguari (MG) para aumentar as opções de transporte pelo modal ferroviário. “Logo, não teremos mais incentivos fiscais e precisamos de logística competitiva e infraestrutura de primeiro mundo”, alerta.

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O secretário de Estado da Infraestrutura, Pedro Sales, garante que o estado está investindo em obras para melhorar o escoamento rodoviário da produção, com os recursos do Fundeinfra. Ele confirmou que também há uma batalha com a VLI para concessão da FCA, durante a rodada de sessões públicas para discutir a renovação do contrato por mais 30 anos, que devem gerar investimentos de cerca de R$ 24 bilhões na ferrovia.

“Estamos reivindicando que o contrato de renovação preveja o investimento na construção do trecho entre Anápolis e Araguari”, informa o secretário. Ele explica que isso ampliaria a utilização dos Portos de Vitória e Açu, no Rio de Janeiro, que são novas rotas de exportação, por conta da saturação do Porto de Santos, no litoral paulista, abrindo novas possibilidades para o escoamento dos produtos goianos. “Chegando a Araguari, é possível abrir uma rota direto para os portos, abrindo novas possibilidades.”

Espinha dorsal

Para Célio Eustáquio de Moura, presidente do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Federação da Indústria do Estado de Goiás (Fieg), a Ferrovia Norte-Sul não é apenas grande e importante, mas se tornou a espinha dorsal do sistema logístico do Brasil. Ele prevê que quando as futuras ferrovias FIOL e FICO estiverem operando e conectadas à Norte-Sul, haverá uma evolução ainda mais significativa do sistema ferroviário em Goiás, que vai potencializar o escoamento da produção para todas as direções no País.

Célio Eustáquio avalia que o terminal da Rumo, em Rio Verde, é muito moderno e eficiente e tem atendido muitas carências do setor produtivo, como do setor de fertilizantes. Ele acredita que a indústria foi contemplada de forma importante pela Norte-Sul, mas lembra que ainda há demandas a serem sanadas, como o fato das empresas do setor mineral do estado ainda não estarem contempladas com terminais e estrutura rodoviária adequados.

Para o presidente do Coinfra da Fieg também é importante olhar para a importância da FCA, que requer muitos investimentos em Goiás. “Ela está ultrapassada, com velocidade bastante reduzida em muitos pontos, a geometria não é adequada, com muitas curvas, e precisa de muitas adequações nos trechos urbanos”, avalia. Segundo ele, a futura integração da Norte-Sul com as ferrovias FICO e FIOL possibilitará um grande incremento das cargas transportadas para mais lugares, que deve baratear o frete ferroviário.

Atualmente, a exportação via Porto de Açu é feita 100% pelo modal rodoviário. “Nosso plano é sermos a principal via de escoamento e com o melhor custo-benefício para a produção de grãos e fertilizantes de Goiás. Hoje, já movimentamos milho, soja e concentrado de cobre produzidos no estado”, informou o diretor comercial e de Terminais do Porto do Açu, João Braz. Segundo ele, a infraestrutura do terminal oferece uma plataforma completa para Goiás, com capacidade para o estado reduzir custos do agronegócio, ao equilibrar o sistema portuário brasileiro. “Queremos solucionar a questão da estocagem da produção agrícola em Goiás”, disse.

Conexão com duas ferrovias deve reduzir frete para novas direções

Logística

Desde a conclusão do trecho goiano da Ferrovia Norte-Sul, em setembro do ano passado, o número de contêineres transportados pela Brado, empresa de logística multimodal que opera na ferrovia, triplicou. Foram mais de mil contêineres no período, o equivalente a 28,5 mil toneladas de produtos. Para empresas instaladas em Goiás, que utilizam os trilhos da Norte-Sul para transportar seus produtos, sem a ferrovia Goiás não conseguiria mais transportar tudo que produz pelo modal rodoviário e não poderia mais continuar elevando sua produção.

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A Ferrovia Norte-Sul está sob concessão da Rumo no trecho que liga Tocantins, Goiás, Minas Gerais, o Leste de Mato Grosso e São Paulo ao Porto de Santos (SP). São 1.537 km entre as cidades de Estrela D’Oeste (SP) e Porto Nacional (TO). A Rumo concluiu todas as obras da ferrovia em junho de 2023, neste trecho batizado como Malha Central. Em 2021, a concessionária inaugurou um complexo de farelo de soja na cidade de São Simão, em parceria com a Caramuru Alimentos, e um terminal para movimentação de grãos em Rio Verde.

Em agosto de 2022, ela implantou uma unidade de fertilizantes na cidade de Rio Verde, em parceria com a Andali, no mesmo complexo onde já se movimentavam grãos. No segundo trimestre de 2024, as exportações de grãos pela Rumo em Goiás aumentaram 12% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Com isso, a concessionária elevou sua participação no mercado de Goiás de 22,1% para 25,1%.

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Desde o final de abril, a Brado transporta bens de consumo das indústrias paulistas para os mercados consumidores de Goiás, Distrito Federal, oeste de Minas Gerais e sul de Tocantins pela Norte-Sul. Os principais produtos transportados são pluma de algodão, insumos agrícolas e bens de consumo (higiene e limpeza, bebidas e alimentos). O trecho operado pela Brado vai de Anápolis (GO) e segue até o município de Estrela D’Oeste (SP). De lá, a operação segue via Malha Paulista passando por Sumaré e chegando até o Porto de Santos.

No total, 24 empresas utilizam os serviços da Brado na Ferrovia Norte-Sul, nos fluxos de exportação, importação e mercado interno, num total de 40 produtos transportados. Entre os produtos produzidos em Goiás e transportados nos contêineres da Brado, estão algodão, açúcar, minérios e carnes.

<h2>Maior volume</h2>

“Com o início das operações de mercado interno em direção a Goiás, os números vêm numa crescente e o mês de julho de 2024 registrou o maior volume até então, com 189 contêineres transportados”, conta Daniel Salcedo, diretor comercial da Brado. Para ele, o fluxo é promissor e deve gerar resultados significativos em curto prazo. “A região, além de populosa, vem se destacando em crescimento econômico nos últimos anos. A renda das famílias também vem aumentando”, diz.

A Brado atende nesta rota empresas como Ypê, Heineken, Colgate, Ajinomoto e Syngenta. A head de Logística da Syngenta, Alessandra Gamero, conta que a empresa iniciou suas operações pela Ferrovia Norte-Sul com a inauguração do trecho, em 2023, e que transporta, principalmente, insumos agrícolas pelos trilhos, como herbicidas, inseticidas e fungicidas. “Em 2024, transportamos cerca de 1000 contêineres, sendo 2 milhões de quilos direcionados para regiões estratégicas do agronegócio pela ferrovia, como os nossos centros de distribuição em Goiás e na Bahia”, explica.

Segundo Gamero, desde o início das operações, houve um crescimento significativo nos volumes transportados: neste ano, mais de 10% do volume transportado para abastecer os centros de distribuição foram realizados por meio da ferrovia. No ano passado, esse número foi inferior a 2%. “Estamos com grande foco em aumento de volume e expansão do modal nesta linha férrea”, avisa.

<h3>Logística favorecida</h3>

Para a executiva da Syngenta, a Norte-Sul viabilizou diversas vantagens para as operações da empresa, incluindo a redução de custos logísticos, aumento da capacidade de carga e maior segurança, além do modal ferroviário proporcionar um processo logístico mais sustentável e contribuir para a redução da pegada de carbono. “Essa é uma das metas previstas nas prioridades de sustentabilidade da Syngenta e que evidenciam nosso compromisso com a evolução da agenda de ESG.”

De acordo com a Rumo, o crescimento do transporte de grãos pela ferrovia mostra a eficiência da Malha Central e a capacidade da empresa de competir com outras soluções logísticas menos eficientes.

O Grupo Cereal utiliza a Ferrovia Norte-Sul em suas operações desde junho de 2021, quando o terminal ferroviário de Rio Verde começou a funcionar.

A empresa embarca cerca de 30 mil toneladas de farelo de soja todos os meses, que são levadas até o Porto de Santos, de onde embarcam em navios para a Europa, Oriente Médio e países da Ásia. “Fomos o primeiro cliente a desembarcar uma carga lá no terminal, que fica a cerca de 20 quilômetros da indústria”, conta o presidente do Grupo Cereal, Adriano Barauna.

Segundo ele, a empresa conta com nove caminhões que levam cerca de 1,2 mil toneladas farelo de soja até a ferrovia todos os dias. Para Barauna, a maior vantagem da ferrovia é a garantia de estabilidade do frete. “Com caminhões, sempre há uma mudança significativa de valores. Além disso, há momentos em que faltam caminhões para atender a demanda”, destaca. Já com a ferrovia, há mais segurança logística de que o produto chegará ao destino.

Isso é importante, principalmente, quando a empresa não tem capacidade estática, ou seja, não tem como armazenar uma grande quantidade de produto por muito tempo, necessitando de escoamento constante. “Nosso espaço físico permite apenas um dia sem carregar. A ferrovia funciona como uma esteira que vai daqui até o porto”, diz o empresário. Mas ele acredita que a ferrovia já teve uma competitividade maior com o modal rodoviário. “Hoje, o custo é mais próximo, mas com estrutura mais confiável”, avalia.

Para ele, o maior problema é a falta de concorrência, já que a Rumo Logística é a única operadora deste trecho no Sudoeste Goiano, o que impede uma maior vantagem competitiva em relação ao modal rodoviário. Mesmo assim, Barauna acredita que a ferrovia já ajudou a baixar o custo do frete, ao ser mais uma opção de logística. “Se ela não existisse, com certeza os preços do transporte seriam maiores”, prevê.

Outra vantagem, segundo ele, é o fluxo constante do transporte ferroviário. A estimativa é que, sem a ferrovia, a produção goiana de 20 milhões de toneladas não poderia continuar crescendo, sob o risco de não poder ser totalmente escoada.