Na última Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a 2018, sequer constava alguma produção de camarão em Goiás. Do total produzido no País naquele ano, 45,76 mil toneladas, 99,4% tinha como origem o Nordeste. O total produzido no Centro-Oeste não chegava a 4 toneladas, sendo que todo esse volume se concentrava apenas no Distrito Federal. Porém, no que depender de famílias como a Xavier, de Águas Lindas de Goiás, o Estado não ficará com a lacuna de produção do crustáceo vazia na próxima PPM. A projeção inicial para a propriedade deles é de 3 toneladas do camarão-da-malásia, que é de água doce, num primeiro período de despescas. O projeto da família Xavier, batizado de Camarão do Cerrado, é apontado como pioneiro naquela região a buscar auxílio da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) para produção de camarão de água doce, segundo informa o técnico em agropecuária da Emater/unidade local Águas Lindas de Goiás, Daniel Pereira dos Santos.Um dos membros da família que atua diretamente no projeto, o produtor Charles Xavier conta que tudo começou após um curso que uma cunhada fez para especializar na produção de peixes. Nesse curso ela teria ouvido falar sobre cultivo de camarão e ficou interessada. Repassou a informação para o marido, que fez a proposta dessa produção para a família. “Todo mundo comprou a ideia”, diz Charles.Ele conta que a família toda foi fazer curso no Rio de Janeiro com um produtor tradicional de camarão-da-malásia. “O curso foi interessantíssimo, foi esclarecedor”. Um dos desafios para colocar o projeto em prática, diz, foi lidar com o clima goiano, diferente do fluminense. “A gente costuma brincar que cria a água, o camarão vem de lucro”, cita Charles. Ele diz que a temperatura ideal da água para a criação é entre 28 e 31 graus. “E nossa região é quente, nossa água é quente. Mas conseguimos ajustar.” Charles conta que já buscaram a Emater quando o projeto ainda estava só no papel. “A gente queria começar uma coisa mais tecnificada e profissional.” O técnico agropecuário Daniel diz que tomou conhecimento do projeto há cerca de um ano e meio. No período, diz que a Emater ainda não trabalhava nessa área e ele foi fazer o curso em fazenda especializada, em Silva Jardim (RJ). Segundo ele, o trabalho da agência passa pela escavação, dimensionamento e preparo dos tanques, análises do solo e de tudo relacionado à água, como pH e temperatura. Foi da propriedade do RJ, que a família Xavier iniciou a produção com a compra de juvenil (camarão com 30 dias) “Mandam de avião para Brasília”, relata Daniel. Hoje, a criação na propriedade de Águas Lindas de Goiás ocorre em três tanques de cerca de 1.400 metros quadrados com oito a dez camarões por metro quadrado. E a intenção inicial é de despescar 3 mil quilos ao longo de no máximo oito meses. Charles diz que até o momento realizaram duas despescas, uma para teste e outra oficial, no primeiro semestre deste ano. Outra despesca é prevista para o mês de agosto. O produtor conta que cinco pessoas da família cuidam do negócio no dia-a-dia e na despesca contratam profissionais por diária para ajudá-los.Mercado Segundo Charles, o sonho da família é montar um laboratório para realizar também o processo de reprodução. “E expandir o camarão-da-malásia no Centro-Oeste e abolir a ideia de que camarão só tem na beira da praia.” Já Daniel diz que a produção de camarão em água doce tem se mostrado positiva no Estado. “É outra forma de ganho para o pequeno produtor rural e uma coisa diferente no mercado”. Em relação a criação de peixe, diz que a vantagem do cultivo do camarão está no custo benefício e rapidez que fica pronto para venda. “Para fazer um quilo de tilápia demora em torno de sete a oito meses, vende a R$ 10 a R$ 12 o quilo e do camarão consegue em quatro meses, vende a R$ 50 o quilo”. Além disso, o gasto com ração para camarão é menor.A produção de camarão de água doce será tema de palestra a ser ministrada por Daniel na quarta-feira (22), das 15h às 15h45, como parte da programação da Semana da Agricultura Familiar em Goiás. Realizado pelo governo do Estado, o evento começa hoje e vai até sexta-feira (24), com programação digital, em razão do coronavírus.