O empréstimo do nome continua sendo uma das principais causas de inadimplência no Brasil. Entre os brasileiros que conseguiram sair da lista de inadimplentes nos últimos 12 meses, 24% emprestaram o próprio nome a terceiros, segundo um levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço Brasileiro de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Mais da metade destas pessoas fizeram isso com a intenção de ajudar um parente ou amigo, enquanto 16% tiveram vergonha de dizer não.O problema é que, em 53% desses casos, no final a pessoa que fez o favor teve que arcar sozinha com a dívida. O resultado foi que em 94% destes casos, além do prejuízo financeiro, a amizade ficou abalada. De acordo com a pesquisa da CNDL e SPC Brasil, a proximidade acaba facilitando esse tipo de abordagem: em 27% dos casos, o pedido partiu de amigos. Em segundo lugar, ficaram os pais e filhos, com 14% cada, em terceiro, os cônjuges, com 13%, e em quarto os colegas de trabalho, com 12%.O educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, alerta que emprestar o nome para amigos ou conhecidos é uma atitude solidária, mas que pode acabar em transtorno. O problema, segundo ele, é que a pessoa que pede este tipo de favor, geralmente, já tem o próprio nome com restrição ou está com a vida financeira desorganizada. “Então, o risco de não receber o valor é alto. Não se deve emprestar o nome sem antes refletir sobre as consequências”, adverte.Vignoli lembra que, do ponto de vista legal, quem assina pela dívida é sempre o responsável por ela. A comerciante Márcia Serrana dos Santos fez um empréstimo em seu nome para uma amiga numa financeira, mas a beneficiada só pagou algumas prestações. Ela conta que, na época, chegou a vender uma moto para pagar a dívida e retirar seu nome da lista de inadimplentes. “Mas, quando cheguei lá com o dinheiro, eles tinham colocado tantos juros que a dívida tinha ficado gigantesca. A moto não cobria. Fiquei negativada”, lembra.Mas, apesar dos transtornos, Márcia admite que voltou a fazer este tipo de favor, emprestando, por exemplo, seu cartão de crédito, e geralmente tem problemas. Aliás, a pesquisa da CNDL e SPC mostrou que o cartão de crédito é o tipo mais comum de empréstimo do nome, com 35% dos casos. “É a dificuldade que a gente tem para falar não”, justifica. O levantamento também revelou que 45% dos entrevistados que foram vítimas do problema voltaram a fazer este favor, principalmente quando o pedido vem de alguém muito próximo.O mesmo aconteceu com o empresário Elias Felipe por duas vezes, num intervalo de 10 anos, com um mesmo amigo, que pediu o favor por duas vezes. Na primeira, ele emprestou um cheque, mas essa pessoa não conseguiu cobrir o documento na data. O resultado é que Elias se viu obrigado a pagar o cheque para não ter seu nome comprometido. Na segunda vez, ele lembra que foi fiador desta mesma pessoa e também acabou sendo obrigado a pagar o valor, só conseguindo receber dois anos depois. “Mesmo assim, a amizade continua”, garante.A gerente administrativa e financeira da CDL Goiânia, Hélia Gonçalves, ressalta que esta prática também acaba colocando os lojistas em risco, pois, muitas vezes, a pessoa que emprestou o nome se recusa a pagar a conta do terceiro. Alguns chegam a dizer que não reconhecem a dívida junto à operadora do cartão e pedem o estorno. “O ideal é nunca emprestar, mesmo que seja para pessoas muito próximas. Se quiser ajudar, é melhor doar. Senão, você corre o risco de ter que pagar a conta e ainda perde o amigo”, alerta. Hélia lembra que também são muitos os casos de pessoas que acabam pagando a dívida da outra para ter seu nome limpo. “Alguns emprestam o cartão, por exemplo, sem nem saber o que a pessoa vai comprar e quanto irá gastar”, destaca. Por conta do risco iminente, algumas empresas já se recusam a abrir o crediário para uma pessoa quando percebem que ela está comprando para uma outra pagar.-Imagem (1.1822053)