Sem atendimentos presenciais em função das medidas para o enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia do coronavírus, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) informa que ainda não foram divulgados “números novos” da fila de espera por benefícios no Estado. A última atualização repassada, referente a meados de janeiro, apontava 34.731 requerimentos sem análise pelo instituto há mais de 45 dias em Goiás. Segurados, por sua vez, continuam a contar o tempo em que aguardam e o impacto da ausência do beneficio pretendido.Vilmar Meia Ribeiro dos Santos, de 60 anos, espera uma resposta há mais de seis meses para o pedido de retomada do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Ele foi ouvido pela reportagem pela primeira vez em 4 de março, quando estava em agência do instituto no Setor Universitário em busca de alguma informação sobre sua solicitação. Ele contou, em matéria publicada pelo POPULAR no último dia 7, que o benefício foi cancelado no meio do ano passado por problemas na documentação, mas que, na sequência, a repassou. Desde então, aguarda um posicionamento para aquele que, segundo cita, era a única renda que ele e sua mulher, a dona de casa Osmarina Cândida dos Santos, de 58 anos, possuíam. Ele sofre de leucemia e câncer de pele, e em razão da doença, diz que não consegue mais atuar na sua profissão: pedreiro.Na véspera da publicação da reportagem no POPULAR, no início de março, o INSS afirmou que o BPC de Vilmar foi cessado em 31 de julho de 2019 porque ele não compareceu à convocação feita pelo instituto e que o processo estava em fase de análise da defesa do segurado e aguardava decisão. Quase um mês depois, Vilmar relata que a última vez que foi até uma agência em busca de informação, na terceira semana de março, pouco antes da suspensão dos atendimentos nas unidades, também foi informado que o processo estava em análise. “Com esse negócio, que não gosto nem de falar o nome (coronavírus), fiquei quieto, mas vou ter que ligar pra ver.”Enquanto a resposta não sai, ante ao cenário de pandemia e recomendações de isolamento social para frear a disseminação da doença, Vilmar conta que, de vez em quando, alguém ainda ajuda o casal com doações de alimentos, mas relata que algumas pessoas que os ajudavam temem ir até a casa deles. “Por que não quer ficar andando”, diz. “Mas a gente fica aqui, esperando.”Também continuam à espera por respostas do INSS o impressor serigráfico Wesley Ferreira dos Santos, 38 anos, e o engenheiro eletricista José Otniel Garcia de Oliveira, 30 anos. Ambos falaram com a reportagem inicialmente em 4 de março, enquanto aguardavam atendimento na unidade do INSS em Aparecida de Goiânia.José Otniel, no início de março, estava na agência em busca de resposta para o pedido de auxílio doença. Ele contou que havia passado por cirurgia no joelho em 12 de dezembro e teria três meses de licença médica. Afirma que passou por perícia médica no dia 6 de janeiro, mas até a terça-feira (31), quando o POPULAR voltou a falar com ele, o benefício ainda não havia sido liberado. “Ontem (segunda-feira, 30), tentei ligar, esperei quase meia hora na linha e desligou a ligação (sem atender). Não tentei mais”, conta. O engenheiro eletricista cita que também tem acompanhado o requerimento pelo aplicativo Meu INSS. “Mas lá (até início da semana) fala que não tem nenhum resultado da perícia.”Ele também disse que procurou a ouvidoria do INSS, e como resposta ouviu que os requerimentos feitos depois de 11 de novembro dependiam ainda da mudança do sistema com as novas regras da Previdência. Por ora, José Otniel segue sem renda e conta que a mulher, que é autônoma, está sem trabalhar esses dias em decorrência da paralisação de algumas atividades para evitar a disseminação do coronavírus. A previsão, diz, é que ela volte a trabalhar na próxima semana. “Esse mês, Deus proverá. A esperança é que o INSS libere (o auxílio)”, diz.Questionado se o sistema da Previdência já foi atualizado com as novas regras, o INSS, via assessoria de comunicação, informou que, no momento, estão habilitados para operação os sistemas para concessão de salário maternidade, auxílio doença, auxílio reclusão, benefícios de prestação continuada ao idoso e à pessoa com deficiência, pensão por morte e aposentadoria rural no valor do salário mínimo e a pensão especial destinada a crianças com microcefalia decorrente do Zika Vírus. “Os demais sistemas estão em fase avançada de atualização.” Acrescentou ainda que sistema para análise de aposentadorias deve ser liberado pela Dataprev “ainda nesse mês”.Mesmo com o sistema para concessão de auxílio doença habilitado para operação, Wesley dos Santos, também segue aguardando a resposta para esse pedido há cerca de cinco meses. Ele afirma que fez o requerimento em outubro de 2019, após sofrer um acidente cerebral vascular (AVC). Em fevereiro deste ano, conta que recebeu pedido de informação complementar e realizou a entrega dessa documentação no dia 4 de março, data em que a reportagem o encontrou na agência do INSS.Na terça-feira (31), ele informou ao POPULAR que perícia médica chegou a ser marcada para o dia 25 de março. “Mas aí me ligaram e cancelaram por conta do coronavírus. Tem que esperar passar essa ‘gripe’ aí.” Enquanto isso, diz que continua tendo que contar com a ajuda das pessoas. “De vez em quando, o pessoal da igreja vem aqui (para doar alimentos).” Ele mora com a mulher, que é dona de casa, e os três filhos do casal.respostasEntre as novas medidas anunciadas em função da pandemia do coronavírus, o INSS informou, em 19 de março, a previsão de, em conjunto com a Perícia Médica Federal, dispensar o segurado da necessidade de comparecer em agência para a perícia presencial. A ideia é que os segurados que fizerem requerimentos de auxílio doença e BPC para pessoa com deficiência enviem o atestado médico pelo Meu INSS. A mesma recomendação seria válida para quem já fez o pedido, como Wesley. Após receber o documento via internet, a perícia médica poderá fazer as devidas verificações, podendo assim dar continuidade ao processo. Até quinta-feira (2), porém, a Subsecretaria de Perícia Médica Federal informou que ainda aguardavam amparo legal para as mudanças, mas informou que “nenhum segurado será prejudicado e que ninguém vai deixar de receber o benefício neste momento”.Já a comunicação do INSS em Goiás informou que, no caso de Wesley, o requerimento é de BPC e “encontra-se aguardando o cumprimento de exigência por parte do seu representante legal”. Quanto à situação do pedido de José Otniel, informou que, por ter sido apresentado após a reforma da Previdência, “encontra-se aguardando pela total readequação dos sistemas para o seu processamento”.No caso de Vilmar dos Santos, disse que o benefício foi suspenso por falta de atualização junto ao Cadastro Único, e, diferente do que foi informado à reportagem em 6 de março, o instituto afirmou, desta vez, que “não houve a atualização cadastral e o benefício foi cessado e desde então não foi solicitada a reativação junto ao INSS”.