O Vale do Araguaia é a nova fronteira de desenvolvimento agrícola do estado de Goiás. O motivo é o grande avanço de lavouras na região, feito por meio da recuperação de áreas degradadas, contribuindo para a sustentabilidade ambiental. A produção na região cresce mais de 37% ao ano, sete vezes mais que a média no estado. Um estudo sobre o potencial produtivo na região, feito pelo Instituto Mauro Borges (IMB), será apresentado neste sábado (27), durante a Abertura Estadual do Plantio da Soja, na Fazenda Tamburi, em Nova Crixás.Na safra 2024-2025, Goiás colheu 20,7 milhões de toneladas de soja, um recorde histórico. De acordo com o IMB, o Vale do Araguaia possui um papel estratégico para o desenvolvimento de Goiás, se configurando como uma das mais importantes fronteiras agrícolas do Estado, com uma produção de grãos, principalmente de milho e soja, de 415 mil toneladas em 2024. Uma análise do potencial produtivo da região indica que ela pode aumentar sua área agricultável, no médio prazo, em pelo menos 50%, gerando um impacto adicional de mais 150 mil toneladas anuais na safra goiana.Para o diretor executivo do IMB, Erik Figueiredo, um dos aspectos mais relevantes é que o Vale do Araguaia tem concentrado sua produção em áreas degradadas, contribuindo para a maior preservação do meio ambiente. Ele lembra que, diante da exigência de comprovação deste cuidado ambiental por parte dos grandes blocos econômicos, a produção de grãos do Vale do Araguaia respeita o código ambiental e recupera áreas degradas e mananciais, aumentando a captura de carbono.Com base em estudos internacionais, a estimativa é que a recuperação das áreas degradadas no Vale do Araguaia pode gerar mais de R$ 2 bilhões em créditos de carbono. De acordo com o estudo do IMB, o Vale conta com cerca de 295 mil hectares de áreas degradadas e sua recuperação custaria algo em torno de R$ 3 bilhões em cinco anos. “Contudo, só a venda de créditos de carbono gerados nos primeiros dois anos dessa recuperação cobriria esse custo, além da valorização das terras”, destaca Figueiredo. Um hectare de terra degradada tende a valorizar mais de 150% após a recuperação da área e o incremento da produção da fazenda. O objetivo é criar um selo ambiental para a região, valorizando o produto final no mercado internacional. “Enxergamos o vale como a nova fronteira produtiva de Goiás pela disponibilidade de terras e o plantio em áreas com elevado grau de degradação, que são recuperadas para a produção”, afirma o diretor do IMB. Segundo ele, estas características de respeito ao meio ambiente geram um alto valor para o grão. “O mundo está cada vez mais exigente em relação a aspectos como rastreabilidade e isso pode gerar muito valor”, ressalta.Com regiões já praticamente saturadas no estado, essa capacidade de crescimento no Vale do Araguaia se tornou muito importante. “Cada hectare de área degradada recuperada tem capacidade de gerar de 140 a 200 créditos por ano. É um impacto ambiental muito expressivo”, ressalta Figueiredo. Ele lembra que esta produção pode ser direcionada a mercados mais exigentes em relação ao meio ambiente, como Japão e União Europeia. Terminal logísticoO Vale do Araguaia quer atrair investimentos como o Terminal Logístico de Grãos, que comporá a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico). Estimativas indicam que a expansão da malha logística no vale pode gerar um crescimento médio de 9,6% no PIB do setor agropecuário, o que corresponde a um incremento de R$ 132,6 milhões. Isso gera um potencial de criação de 10,8 mil postos de trabalhos formais na região.Para o diretor do IMB, são desafios e oportunidades para a região, que tem terras mais baratas em relação a outras e com alta capacidade de valorização. Para atrair a atenção de investidores para esta oportunidade, está sendo elaborado um plano de desenvolvimento para o Vale do Araguaia, focado em infraestrutura e inserção internacional. “A Índia, um mercado gigantesco, dá uma grande importância para os grãos e o feijão pode ser nossa nova soja produzida na região. O grande atrativo é a qualidade e a capacidade de crescimento na região”, diz ele. De acordo com a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), a escolha de Nova Crixás para sediar essa edição da Abertura Estadual do Plantio de Soja visa reconhecer o trabalho e a dedicação dos agricultores locais e também mostrar como a produção do Vale do Araguaia goiano pode consolidar Goiás como o 3º maior produtor de grãos do Brasil. “Nosso primeiro objetivo é prestigiar os produtores, que, há alguns anos, resolveram investir no cultivo de soja nesta região e saudar aqueles que têm ido para o Vale do Araguaia a cada safra”, ressalta o presidente da Aprosoja-GO, Clodoaldo Calegari.Para ele, essa é uma região estratégica para a expansão da soja em Goiás. De acordo com a Aprosoja, cerca de 10% da soja e 15% do milho produzidos em Goiás vêm do Vale do Araguaia, considerada a nova fronteira agrícola de Goiás e do Centro-Oeste. A região tem potencial para converter mais de 2 milhões de hectares de pastagens degradadas em áreas produtivas para a primeira safra. Em todo o estado, segundo Calegari, a percepção é de que o aumento de área será modesto, pois os custos de produção estão muito elevados, e os resultados dependerão do desempenho do clima.