A pequena Eloá viveu apenas oito dias antes de estar na mira de uma pistola 9 mm, arma de grosso calibre de uso restrito das Forças Armadas. A bebê foi atingida por quatro dos 30 tiros desferidos em sua mãe, Laura Catrine da Conceição Alves, 21 anos, que abraçou a filha recém-nascida na tentativa de protegê-la. Nesta quinta-feira (25), em Anápolis, caixões de mãe e filha lado a lado, eram não apenas o retrato da dor e da desolação. A cena impactante levou muitas pessoas que estiveram no velório a questionar até onde pode alcançar a crueldade humana.Mãe e filha foram mortas na tarde de quarta-feira por um homem que teria pulado o muro alto da casa onde elas viviam com os pais e o irmão de Laura no Residencial Las Palmas, Norte de Anápolis. Com a ajuda de câmeras de monitoramento da vizinhança, a polícia já sabe que um veículo com três pessoas rondou a rua horas antes. O carro chegou a parar diante da casa e alguém gritou o nome de Laura, mas ela não abriu o portão. No interior do veículo, segundo vizinhos, estavam uma mulher e dois homens. Um deles teria pulado o muro e executado Laura e Eloá.Ainda de resguardo e amamentando, Laura estava sozinha em casa cuidando da filha. Os pais e o irmão se encontravam no trabalho quando foram avisados da tragédia. “Quem fez isso estudou a nossa rotina. Ele sabia que a Laura estava sozinha em casa com a bebê”, afirmou o único irmão, Pedro Vinícius, 22 anos. O instinto maternal levou a mãe a abraçar a criança, mas a violência foi tamanha que o algoz não poupou nem mesmo a criança de oito dias. Mãe e filha morreram abraçadas. CrimeO crime chocou a cidade de Anápolis. No velório, realizado num templo da Igreja do Evangelho Quadrangular próximo à residência da família, muitos pareciam chocados com a extensão da tragédia. “Ela vinha sendo ameaçada, não poderia ter ficado sozinha em casa”, disse uma vizinha que conhecia Laura. Além da tristeza, a tensão também pairava no ambiente. A maior parte de familiares e amigos preferiu se calar sobre as razões que motivaram o duplo homicídio. Os corpos de mãe e filha foram sepultados no final do dia no Cemitério São Miguel, de Anápolis. Suspeito fugiu de presídio“Já descartamos latrocínio porque nada foi levado da casa”, comentou o delegado Renato Rodrigues Oliveira, do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) de Anápolis, à frente das investigações. Nas redes sociais e entre familiares as suspeitas pairam sobre Roberto Augusto Rodrigues Mendes, 25 anos, foragido do presídio de Jaraguá desde o dia 23 de dezembro. O delegado confirmou ao POPULAR que ele está sendo investigado porque teria feito ameaças a Laura, com quem tinha se relacionado. “Mas, por enquanto, é apenas um suspeito”, enfatizou. Roberto e o comparsa Ariel Pedroso da Silva, 23 anos, foram presos na BR-070 no dia 15 de dezembro de 2017 pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) depois de um bloqueio em Jaraguá. Eles estavam em um veículo que levava uma carga de drogas avaliada em R$ 2 milhões. Levados para a cadeia de Jaraguá, os dois foram resgatados por dois homens encapuzados, armados de fuzis, numa ação registrada por câmeras de segurança. Ao abrir as celas, os dois homens possibilitaram a fuga de 15 detentos. “Eu nunca vi esse cara, mas ele e Laura tiveram um relacionamento”, contou Pedro Vinícius. Muito abalado, ele revelou que há cerca de um ano, ameaçada por Roberto, a irmã passou uma temporada em Goiânia temendo pela própria vida. A recém-nascida Eloá não era filha dele, mas de um jovem chamado Rafael, com quem Laura teve um relacionamento fugaz. Ele vinha prestando total assistência à família, conforme Pedro Vinícius. “Depois que esse Roberto fugiu da cadeia a Laura passou a ter medo de qualquer coisa”, disse o irmão.O primeiro filho de Laura nasceu há três anos. O garoto, Thiago Filho, perdeu o pai, ainda na barriga da mãe. Ele também foi assassinado. Há cerca de dez dias o menino se mudou para a casa dos avós paternos, providência que o pode ter livrado de ser uma terceira vítima de um assassino que porta, com grande facilidade, uma arma militar.