Um grupo de cientistas brasileiros conseguiu detectar o RNA do vírus da febre amarela - isto é, seu material genético - na urina e no sêmen de um paciente com a doença. De acordo com os autores da nova pesquisa, a descoberta poderá ser útil para aprimorar os testes diagnósticos da doença.#mc_embed_signup{background:#fff; clear:left; font:14px Helvetica,Arial,sans-serif; } /* Add your own MailChimp form style overrides in your site stylesheet or in this style block. We recommend moving this block and the preceding CSS link to the HEAD of your HTML file. */Newsletter O POPULAR - Receba no seu e-mail informação de confiança* preenchimento obrigatórioNome * Email * O RNA do vírus é normalmente detectado no sangue de pacientes infectados, mas até agora não havia sido observado no sêmen e na urina. A nova pesquisa teve seus resultados publicados na "Infectious Diseases", revista científica dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) do governo dos Estados Unidos."Nossos resultados sugerem que o sêmen pode ser um material clínico útil para o diagnóstico da febre amarela e indica a necessidade de realizar testes de urina e coletar amostras de sêmen de pacientes com a doença em estágio avançado", diz o artigo.Esses testes poderão aprimorar os diagnósticos, reduzir os resultados falsos negativos e reforçar a confiabilidade dos dados epidemiológicos durante a atual e as futuras epidemias", escreveram os cientistas.De acordo com o coordenador do estudo, Paolo Zanotto, pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP), embora a descoberta também levante alguma preocupação - por mostrar que o vírus permanece no organismo por mais tempo do que se pensava - o seu impacto é predominantemente positivo."É uma boa notícia, porque com a presença do RNA do vírus na urina podemos ter acesso a uma nova ferramenta diagnóstica. Outro aspecto positivo é que aumentamos nosso conhecimento sobre a biologia do vírus. O vírus da febre amarela já é estudado há quase 100 anos e ainda não se sabia que ele podia ser detectado na urina e no sêmen", disse Zanotto.Os cientistas ainda não sabem quais as implicações da descoberta para a transmissão do vírus, mas Zanotto considera improvável que a presença do RNA no sêmen permita a transmissão sexual da febre amarela."Se houvesse um mecanismo de transmissão sexual, já teríamos percebido, porque esse vírus é muito ativo na África e nunca surgiu nenhuma evidência. A transmissão sexual é muito fácil de constatar, porque quando ela acontecem aparecem muitos pares concordantes - isto é, casais que aparecem com a doença ao mesmo tempo. Nos ciclos urbanos do vírus na África não apareceram pares concordantes", explicou o cientista.Segundo Zanotto, para que febre amarela seja transmitida a humanos, é preciso que o mosquito inocule o vírus na corrente sanguínea e que ele chegue ao sistema endotelial da pessoa. "Constatamos que o vírus é excretado pela urina, mas não há evidências de que ele possa chegar ao sistema endotelial por via sexual - o mosquito é capaz de fazer isso com muito mais facilidade", afirmou Zanotto.Embora o RNA do vírus tenha sido encontrado também no sêmen, o cientista diz que ainda não é possível saber se o vírus é realmente excretado pelo sêmen, ou se a detecção ocorreu porque a uretra do paciente estava contaminada com o vírus excretado na urina.Vírus persistentePara realizar o estudo, os cientistas acompanharam um paciente de 65 anos de idade, que havia sido contaminado, mas não havia entrado na fase tóxica da doença. O paciente, morador de São Paulo, havia viajado para Januária (MG), no dia 28 de dezembro de 2016 e depois para uma área rural no norte da capital paulista, no dia 3 de janeiro de 2017.Três dias depois, no dia 6 de janeiro do ano passado, o paciente começou a apresentar sintomas: febre, calafrios, dor corporal e náuseas. Os sintomas se agravaram durante mais três dias, com febre de até 40°C, dores de cabeça, prostração, vômitos, tontura, anorexia, urina escura e gosto amargo na boca.As amostras de urina e sêmen do paciente apresentavam o RNA do vírus em quantidade considerável, 15 dias e 25 dias após os primeiros sintomas de febre amarela. "Esperávamos que o vírus só pudesse ser detectado no organismo no máximo uma semana após o início da manifestação da doença", disse Zanotto.Segundo o pesquisador, o caso estudado indica que o período de transmissibilidade do vírus é maior do que se pensava. Atualmente aceita-se que esse período tem início entre 24 horas e 48 horas antes do aparecimento dos sintomas e se estenderia por mais um período de no máximo uma semana após o início dos sintomas.A confirmação clínica da infecção por febre amarela se baseia atualmente na detecção de RNA do vírus no sangue por sorologia, pela técnica de PCR de transcrição reversa (RT-PCR) ou pelo ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA, na sigla em inglês) - um teste que permite a detecção no plasma sanguíneo de anticorpos específicos, como a imunoglobulina M (IgM e IgG), que o organismo produz quando entra em contato com algum tipo de microrganismo invasor."Quando uma pessoa com suspeita de infecção chega a um hospital, se a viremia (presença do vírus no sangue) já acabou, fazemos a sorologia para saber se ele foi infectado. Mas seria muito melhor ter a confirmação por meio de um teste de urina, porque não haveria risco de falsos negativos. Isso produziria diagnósticos mais precisos, mais rápidos e mais seguros, além de nos fornecer estatísticas melhores para compreender e combater a doença", disse Zanotto.Além de Zanotto, participaram do estudo Carla Barbosa, Edison Durigon, Nicholas Di Paola, Marielton Cunha, Mônica Rodrigues-Jesus, Danielle Araújo, Vanessa Silveira, Fabyano Leal, Flávio Mesquita e Danielle Oliveira - todos da USP -, Viviane Botosso, do Instituto Butantan e Marcos Silva, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e da PUC-SP.