O responsável pela pesquisa realizada pela Fundação Lemann sobre a qualidade do ensino (veja mais na página anterior), Ernesto Martins Faria, entende que os dados são preocupantes, já que percebe que o sistema educacional não está conseguindo promover equidade no ensino. Após o estudo, também disse que percebeu que os alunos que mais precisam estão em escolas piores - quando se trata de estrutura e apoio - e isso contribui com as desigualdades. Ele diz, no entanto, que é possível perceber esforços dos gestores para garantir o básico, mas afirma que são necessários empenho de mais recursos para que mais alunos tenham interesse nos estudos e permaneçam nas salas de aula.Professor e especialista em educação pública, Leonardo Carvalho defende que o ensino, especialmente nas periferias, precisa atenção especial por diversos motivos. “Cada região, em cada cidade, tem uma realidade e, na maioria dos casos, são observadas separadamente pelas secretarias na hora de fazer o planejamento. Mas para atrair o aluno, é necessário que haja incentivo e inovação.” Superintendente de inteligência pedagógica da Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce), Marcelo Jerônimo aponta que a realidade goiana é diferente da observada na pesquisa. “Sob o ponto de vista socioeconômico, não percebemos que a localidade seja determinante na permanência do professor ou do aluno, mas o engajamento dos envolvidos.” Ele explica que a distância percorrida pelo professor, por exemplo, não impacta de maneira drástica nas salas de aula, como em cidades maiores, a exemplo de São Paulo. As dificuldades de contratação, segundo o superintendente, são relacionadas principalmente às disciplinas. Isso motivou a Seduce a organizar um concurso, a ser lançado, apenas para as áreas de disciplinas exatas. “Matemática, física e química são as que mais enfrentamos problemas para seleção.” Ele diz que por causa da distância, encontra dificuldade apenas em situações extremas, como no caso das unidades de ensino nas áreas rurais e comunidades mais distantes, como os quilombolas ou indígenas.Professor em escolas de periferia, Renato Regis entende que a rotatividade de professores em Goiás ocorre, principalmente, pela falta de professores efetivos. “Percebo que muitos professores nas escolas mais distantes são contratados. Esse fato contribui para que eles desistam mais facilmente, já que os salários são baixos e não existem muitas garantias. Quando começam as dificuldades, eles desistem. Ou deixam as salas de aula quando encontram qualquer oportunidade que pague mais, mesmo não sendo na área.”Além da falta de professores que estejam empenhados e engajados, conforme relatou o superintendente da Seduce, Renato Regis vincula a falta de interesse dos alunos aos hábitos familiares. “São regiões em que muitos pais não fizeram nem o ensino médio, ou não tem o costume da leitura ou do estudo.”