Em entrevista ao programa De Frente com Jarbas na redação do POPULAR, o vice-governador José Eliton (PSDB) disse que não teme uma mudança nos números de homicídios nas estatísticas da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) após auditoria que vai reclassificar as mortes consideradas como “a esclarecer”. Ele foi gestor da Pasta entre 2016 e este ano, período em que aumentaram os óbitos classificados como sem elucidação, ao mesmo tempo em que caíram os assassinatos. Reportagem do último domingo revelou que há casos de homicídio classificados dessa maneira.“Alguns, inclusive, no passado, faziam muito esse movimento de ampliar os números de mortes a esclarecer para mascarar (as estatísticas). Não é o caso de Goiás” - José Eliton“Alguns, inclusive, no passado, faziam muito esse movimento de ampliar os números de mortes a esclarecer para mascarar (as estatísticas). Não é o caso de Goiás”, ressaltou o ex-secretário, que diz acreditar que as classificações de homicídios de forma imprecisa são erros pontuais.Além de uma auditoria das mortes a esclarecer no período de abril de 2016 até junho deste ano, a SSPAP excluiu essa natureza de suas estatísticas por conta de sua utilização imprecisa. José Eliton criticou essa mudança e disse que a considera um equívoco.“Vai mudar o apelido, mas vai ser a mesma coisa”, afirmou. Sem a natureza morte a esclarecer, agora óbitos devem ser classificados em tipos penais, suicídio, morte natural ou encontro de cadáver ou ossada, podendo ser retificados conforme as investigações avancem.Por nota, o secretário de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, reconheceu que a questão da morte a esclarecer gera muita polêmica com a comunidade científica e que ela poderia continuar nas estatísticas, desde que “multi-cercada de cuidados”No entanto, ele defendeu que excluir essa natureza foi uma opção por um “caminho mais radicalmente clarificador” e que é uma maneira de aumentar o rigor das estatísticas criminais do Estado.Balestreri pontuou que será agendada com o vice-governador uma apresentação das mudanças na metodologia da parte de estatísticas da pasta.O sociólogo Dijaci David de Oliveira, do Núcleo de Estudos sobre a Violência e Criminalidade (Necrivi), disse que o grupo está avaliando e não tem ainda uma posição sobre o impacto do fim da classificação “morte a esclarecer”. Entretanto, considera que jogar homicídios de forma errônea nessa natureza é uma estratégia para a redução dos índices de criminalidade.4 perguntas para José ElitonPara vice-governador e ex-secretário de Segurança Pública, problemas em estatísticas durante sua gestão são questões pontuais. 1 - As falhas que permitem a classificação errada de um homicídio em morte a esclarecer são erros ou uma orientação?Eu não posso crer que seja algo de má fé. Acho que é muito mais um equívoco, uma situação isolada, um ponto fora da curva. Eu acho que não pode nunca ser uma situação orientada, eu não acredito nisso nem no passado, nem agora. Mesmo porque os profissionais que estão lá são de carreira. Eventualmente há um ou outro equívoco, seja do policial militar ou civil, aquele que está alimentando o banco de dados.2 - Então pode ter tido erro no treinamento dos policiais?Não. Nós temos muitos cursos. O RAI (Registro de Atendimento Integrado) é muito complexo. É a ferramenta mais moderna do País. Nós temos um conjunto de ferramentas lá que dificultam muitos erros. Claro que erros podem acontecer, mas elas dificultam muitos. 3 - Por que houve um aumento de mortes a esclarecer após sua entrada na SSPAP?Mas se você voltar mais no tempo vai observar que há uma diminuição significativa delas (a partir de 2010). O doutor Joaquim Mesquita (ex-secretário) inclusive atuou com muita firmeza nisso. Ele sofreu inclusive, porque aparentemente os indicadores de homicídio em Goiás estavam em crescimento, mas na verdade eles estavam racionalizando as estatísticas. Não sei se você se recorda de matérias sobre São Paulo. O então secretário de Segurança, Alexandre de Moraes (atual ministro do STF), apresentou melhoras significativas e o acusavam de estar fazendo manipulação de dados.4 - Para o senhor o caso do Alexandre de Moraes (que o jornal Estado de S. Paulo diz que colocava homicídios em mortes a esclarecer) não foi um equívoco dele?Não foi. De jeito nenhum, tanto é que depois ele mostrou que não tinha nada a ver. A questão é que todo mundo quer achar fantasma ao meio dia. Está vendo estatísticas e quer questionar, mas sem elementos para fazer esse questionamento.