Embora para 57% dos cursos da UFG, o ponto de corte do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) tenha subido na chamada regular em 2018, na comparação com o ano passado, quando o foco se volta às graduações que envolvem licenciatura, a situação é diferente. Em 32 dos 45 cursos oferecidos, as notas de corte caíram, o equivalente a 71%, conforme levantamento feito pelo POPULAR.Especialistas afirmam que este é mais um indício do desestímulo que os jovens têm vivenciado em atuar em salas de aula da Educação Básica. Os principais fatores que têm contribuído para a debandada, segundo os entrevistados, é a desvalorização da carreira docente, da figura do professor pela sociedade e a formação deficitária que, consequentemente, influenciará no desenvolvimento dos estudantes nos próximos anos. Assim, a busca por cursos que podem proporcionar um retorno financeiro mais atrativo acaba sendo a primeira escolha.“Os jovens estão sem perspectiva no modelo de carreira. É preocupante. Eu também dou aulas no ensino médio e sempre pergunto para as minhas turmas quem deseja se tornar professor. Quando muito, um aluno levanta a mão de uma turma cheia. Nisso o jovem que tem vocação escolhe outra carreira e se torna um profissional frustrado. Vivemos um processo de precarização do curso docente, no qual nem mesmo o piso nacional é respeitado”, afirma o presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro Goiás), Raílton Nascimento Souza.O gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa, ressalta que as políticas educacionais adotadas em outros países “nos mostram que é possível alcançar qualidade de ensino quando o corpo docente é qualificado. O professor não é herói ou vítima. Ele é um profissional e precisa de qualificação e condições de trabalho para alcançar um bom resultado.”Nessa linha de raciocínio também segue a coordenadora de projetos da Fundação Lemann, Roberta Loboda Biondi Nastari. Ela cita exemplos na Cingapura e na Inglaterra que chamaram atenção nos últimos anos. “Nesses países houve um incentivo forte à carreira docente, com a valorização da carreira como um todo, que também envolve a questão salarial, com um plano de carreira consolidado. Na Cingapura, por exemplo, eles conseguiram apanhar 30% dos melhores alunos do ensino médio para a carreira de professor”, diz. “Aqui no Brasil o próprio Ministério da Educação já mostrou que o perfil do aluno que busca a licenciatura, em sua maioria, é com um rendimento escolar mais baixo e advindo de condições econômicas desfavoráveis”, completa.Para o presidente do Conselho Estadual de Educação de Goiás (CEE), Marcos Elias Moreira, outro ponto que deve ser debatido é a formação do professor. “Precisamos repensar o modelo de licenciatura com formação mais voltada para o exercício da profissão e não apenas focar em discussões conceituais”, defende Moreira.Seguindo um sonhoQuem luta contra esse cenário é a estudante Giselly de Souza Carvalho, de 18 anos, que se diz ansiosa para começar as aulas na UFG depois de checar que foi aprovada na chamada regular para licenciatura em Geografia para estudar em Goiânia. Ela conta que ser professora sempre foi o seu sonho. “Sempre sonhei em ser professora. Ainda mais depois que eu estudei no Ensino Médio em escola de período integral, em Campinas, eu fiquei muito próxima dos meus professores, que eram bem capacitados. Essa influência foi positiva”, relata.A estudante conta que a maior incentivadora para que ela tentasse uma vaga na federal foi a mãe, Francinete de Souza Carvalho. “Ela ficava no meu pé para que eu fosse treinando desde o primeiro ano no Enem”, lembra.-Imagem (Image_1.1453472)