A dívida do Estado com organizações sociais (OSs) da saúde é atualmente de 131,6 milhões e a maioria dos repasses está em atraso há mais de dois meses. A demora dos recursos financeiros provoca problemas no atendimento à população, como o aumento da dívida das OSs com fornecedores e a redução do número de médicos por plantão, e já causou a rescisão de um contrato com um laboratório que fazia exames de pacientes internados no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), em Goiânia.O valor da dívida é divulgado no site da Secretaria Estadual de Saúde (SES). O Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa), gerido pelo Instituto de Gestão e Humanização (IGH), vai reduzir de dois para um o número de médicos clínicos gerais por plantão, a partir de janeiro. Profissionais que trabalham na unidade afirmam que a medida é reflexo do atraso nos repasses. No entanto, a diretora regional do instituto, Rita Leal, diz que a decisão foi tomada após uma “redução de 50% na busca espontânea” por clínicos gerais no Huapa, considerando os últimos três meses.Rita atribui a queda dos atendimentos no hospital, especializado em casos de média e alta complexidade, à inauguração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Aparecida de Goiânia, que só atende a pacientes de baixa e média complexidade. A UPA foi inaugurada em julho de 2015. A diretora não informou o mês em que começou a queda de atendimentos.A demora no repasse de recursos também preocupa médicos do HDT, que atende a pessoas com doenças infecciosas e dermatológicas. Um laboratório particular, que realizava exames de pacientes internados na unidade de saúde, teve de rescindir o contrato, em 30 de novembro, por causa da falta de pagamento em dia. Profissionais contam que a demora no diagnóstico aumentou depois de parte dos exames passar a ser feita só fora do hospital.O POPULAR apurou que outro laboratório assumiu a realização dos exames no último dia 16. A diretoria do HDT se negou a conceder entrevista. A reportagem solicitou informações sobre os contratos, os valores, a quantidade e os tipos de exames, mas não obteve respostas do Instituto Sócrates Guanaes (ISG), OS que gerencia a unidade. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que “a relação entre fornecedores e as organizações sociais seguem trâmites de mercado” e que, portanto, não informaria o valor que já foi pago e quanto restaria pagar para o laboratório. “Embora não seja sigilosa, é de caráter reservado”, conclui a nota. A SES diz ainda que em nenhum momento o HDT ficou sem laboratório. Em nota, o ISG informa que a troca de laboratórios é “uma ação administrativa rotineira” e, conforme acrescenta, a medida não afetou o tratamento dos pacientes. A nota também destaca que “a mudança de prestador de serviço não alterou em nada a quantidade e os tipos de exames, além da qualidade do serviço”. No entanto, um dos profissionais da unidade de saúde contesta a informação. “Os exames ainda não foram totalmente normalizados no HDT”, afirma.O impacto do descontrole nos repasses também se estende para fora dos hospitais geridos pelas organizações sociais. Alguns fornecedores já suspenderam os serviços e não entregam mais às OSs materiais básicos de trabalho, como seringas, luvas, máscaras e toucas. “A gente fornece com prazo de 30 dias, mas eles atrasam, em média, até 100 dias ou 150 dias”, afirma um representante de fornecedora responsável por abastecer três OSs em Goiânia.Outros fornecedores dizem que só vão retomar a entrega dos produtos após a dívida ser quitada.