O clima tenso na segurança pública em Anápolis fez com que três vigilantes penitenciários temporários pedissem dispensa nesta quarta-feira (03), além de um agente de carreira que solicitou exoneração. Depois do assassinato de dois servidores do sistema prisional na terça-feira (2), a cadeia do município foi alvo de disparos de arma de fogo na madrugada e um detento foi morto a facadas dentro da unidade na tarde desta quarta. Presidente do sindicato dos servidores do sistema prisional, Maxsuell Miranda das Neves visitou a unidade nesta quarta e disse que os agentes também estão sem munição e possuem pouco armamento. “É uma situação grave, muito séria. Apenas 12 agentes no plantão e falta munição para reposição, caso as disponíveis sejam utilizadas. Temos denunciado essa situação e é preciso que algo seja feito. Caso contrário, teremos mais tragédias e mais servidores deixando o sistema”, alertou.Do lado de fora, familiares de presos reclamam da falta de informações e falam do medo de mais tragédias ocorrerem na cadeia da cidade. Uma mulher, que preferiu não ter o nome divulgado, disse que ficou sabendo da morte do detento por mensagens de celular. “Temos medo de ocorrer o que aconteceu em Goiânia, com tantos mortos, mutilados. Aqui está muito complicado. A gente recebe informação pelo celular de que a cadeia pode virar, que pode acontecer alguma coisa pior”, afirmou. A reportagem chegou à unidade e não conseguiu falar com o diretor. O corpo do detento Sandoval de Jesus, preso há sete anos por crime de estupro e homicídio da mulher, ainda não havia sido retirado. O preso Pedro Antônio de Lima se apresentou como autor do homicídio, alegando que já haviam dividido a cela e tinha contas para acertar com a vítima. A Polícia Civil foi acionada para investigar o caso.O trabalho da perícia precisou ser feito com rapidez para garantia da segurança, apesar dos presos já estarem recolhidos. O perito criminal Wigney Gustavo Costa atendeu a ocorrência e disse que o corpo apresentava muitas marcas de golpes de faca, especialmente no tronco e no pescoço. O corpo foi deixado em um saguão e, segundo o perito, pode ter sido levado por outros detentos depois que foi morto em outro local. Uma faca sem cabo que teria sido usada no crime foi recolhida.A Polícia Civil informou que os disparos contra a unidade ocorreram na madrugada desta quarta e o Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) acompanha o caso. Titular do grupo, Renato Rodrigues disse que os agentes que estavam de plantão notaram o barulho que foi direcionado para a guarita da unidade. Eles saíram para verificar, mas não conseguiram identificar o autor dos disparos, mas sabem que foram feitos a uma distância média de 200 metros. Ninguém ficou ferido.MortesNa terça-feira, um vigilante temporário e um servidor de carreira afastado foram mortos. Eduardo Barbosa dos Santos foi morto com mais de 30 disparos quando chegava em casa depois de um plantão. Já o ex-supervisor do presídio de Anápolis, o agente Ednaldo Monteiro, morreu quando saía da floricultura da família, em frente ao cemitério, para ir ao velório de Eduardo. Ednaldo foi executado na frente dos familiares. O titular do GIH informou ainda que uma força tarefa foi criada com o apoio da Polícia Civil de Goiânia para investigar as mortes. Reunião na 3ª Delegacia Regional da Polícia Civil de Anápolis, nesta quarta, discutiu a linha de trabalho da força-tarefa. Uma das execuções, a de Ednaldo, foi gravada por câmeras de segurança, que poderão ajudar na investigação. As imagens mostram quando um carro chega, três pessoas armadas descem e começam a disparar contra o veículo do ex-supervisor.