-Imagem (1.1568583)Em 2016, quando assumiu a Vara de Família, Sucessões, Infância e Juventude e 1º Cível da Comarca de Cidade Ocidental, o juiz André Rodrigues Nacagami, 35 anos, carregava uma frustração pessoal. Em 2015, embora tivesse determinado medidas protetivas para a auxiliar de limpeza Vanda Mota do Nascimento Silva, que vinha sendo ameaçada por Antônio Moreira dos Santos por não querer se relacionar com ele, o magistrado, então à frente da comarca de Itapuranga, não conseguiu evitar que a mulher fosse assassinada dentro do fórum local, onde ela trabalhava. O autor dos disparos atirou contra a própria cabeça em seguida.Esta semana, durante uma audiência de adoção, André Nacagami relembrou o caso e falou do quanto se sentiu impotente. Aquele episódio contribuiu para que o magistrado optasse pela transferência. Em Cidade Ocidental, no entorno do Distrito Federal, ele encontrou um campo fértil para se colocar à prova. Dois anos depois o juiz é elogiado por membros da rede de proteção à infância e juventude do município pelas decisões céleres que promovem mudanças substanciais na vida de crianças que são encaminhadas para abrigos não somente pela orfandade, mas essencialmente pela degradação da estrutura familiar.O magistrado chamou de emblemático o caso que presidia e pelo qual muito se empenhou. Aos presentes - representantes da Defensoria Pública, do Ministério Público, do Conselho Tutelar, do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e do abrigo da cidade -, falou de sua satisfação de assinar a adoção definitiva de Mariana, a nove dias do aniversário de 18 anos dela. Após esse período a adolescente teria de abandonar o abrigo sem nenhuma referência exterior, já que foi retirada dos pais biológicos aos 2 anos.“Sem a adesão de diversos atores seria impossível fazer esse trabalho”. Sua equipe tem como regra não demorar mais do que 24 horas para definir processos relacionados à infância e juventude, mas a média geral de sua vara não ultrapassa 17 horas. Desde que assumiu a comarca, André Nacagami encontrou destino para os mais de cem abrigados do único orfanato da cidade, Casa Lar Rebecca Jenkins. Esta semana apenas quatro crianças, que chegaram há 15 dias, estavam no abrigo. O esforço, entretanto, tem suscitado comentários sobre uma possível “ociosidade” do orfanato. “Abrigo não é depósito de crianças, mas uma casa de passagem. Antes as crianças ficavam esquecidas”, defende a assistente social da casa, Janildes Macedo de Santana. O Rebecca Jenkins é uma das obras sociais da organização não governamental Associação Brasileira de Ação Social Cristã (Abasc), vinculada à Igreja de Deus, mas depende de doações e de R$ 10 mil da prefeitura para funcionar. Caso seja fechado, crianças vítimas de mazelas sociais seriam encaminhadas para abrigos abarrotados de municípios vizinhos, tirando de um resoluto magistrado a sua atribuição sobre elas.