Apesar do acidente de motocicleta, na segunda-feira, o entregador Bruno Henrique Mendonça Viana estava, de 17 anos (à reportagem ele havia afirmado ter 19 anos), estava bem quando a reportagem do POPULAR o encontrou no corredor do Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Campinas, durante uma reportagem sobre falta de raios X na rede municipal. Bem humorado, fez brincadeiras durante a entrevista, arrancando risadas da mãe, a comerciante Cléia Carneiro de Mendonça, de 55, sentada na cadeira ao lado da maca onde o filho estava. “Não preocupa não. Isso foi coisa à toa. Moto tem esses contratempos mesmo”, dizia o rapaz. Ao posar para a fotografia que estampou a capa do jornal no dia seguinte, ele fez um pedido: “Não quero sair feio, viu. Por favor, me deixe bonito na foto”.A notícia da morte de Bruno Henrique, ocorrida no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), deixou a equipe de reportagem chocada. Como podia aquele rapaz forte, otimista e brincalhão, ter morrido por conta da fratura na perna?No segundo encontro com Bruno Henrique, na tarde de ontem, ele era velado no Cemitério Parque Memorial. Como no Cais, Cléia estava sentada em uma cadeira ao lado do filho, mas só chorava. Quando se aproximou das 17 horas, momento do enterro, a mãe se relutou em fechar o caixão. Abraçada à urna onde estava o caçula de cinco filhos, ela dizia: “Te amo tanto meu filho, vou sentir muito a sua falta”.Além da tristeza natural da perda de um ente querido, o sentimento entre os parentes de Bruno era de revolta. “É difícil para a gente aceitar, porque foi um acidente banal. Se fizessem os procedimentos rapidamente, talvez ele ainda estivesse vivo”, disse a irmã, Flávia Mendonça Alves, de 27.Para a mãe, a morte de Bruno não foi uma fatalidade, mas o resultado de uma sequência de omissão e desrespeito. “Ficamos com o menino para lá e para cá até chegar ao Hugo. O pessoal fala que lá é hospital de referência, só se for referência de morte. Ficamos lá mais de 24 horas e nenhum médico foi ver meu filho. Apenas enfermeiras”, reclama.EntregadorBruno sofreu um acidente enquanto trabalhava de entregador de farmácia, por volta das 12 horas de segunda-feira, no Parque Atheneu. Com suspeita de fratura na coxa direita, ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Cais Campinas, onde deveria conseguir um exame de raios X. Mas nesse dia, radiologistas da empresa que presta o serviço de diagnóstico por imagem haviam feito uma paralisação, e o rapaz precisou aguardar por horas até que chegasse outra ambulância, às 18h30, para transferi-lo ao Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof).No Crof, a radiografia confirmou a fratura no fêmur direito. Segundo o coordenador-geral da unidade, Eduardo Abrão da Silva, a fratura no fêmur necessitava de tratamento cirúrgico. Por isso, o sistema de regulação foi acionado e Bruno acabou transferido para o Hugo. “O paciente foi medicado com analgésico e saiu daqui normal, lúcido e sem dor”, disse o coordenador.Levado para o Hugo por volta das 22 horas, o rapaz esperou cerca de duas horas em uma maca no corredor, até conseguir um leito na enfermaria. A mãe conta que deixou o rapaz dormindo, durante a madrugada, e a irmã, Flávia, chegou para acompanhá-lo na manhã seguinte. A principal reclamação da família é com a ausência de médicos. “As enfermeiras apareceram lá, por duas vezes, para dar uma medicação dizendo que havia sido prescrita por um médico. Mas que médico é esse que nem foi vê-lo?”, questiona Flávia.Segundo a família, a primeira medicação foi dada por volta das 13 horas. Até o fim da tarde de terça-feira, o rapaz estava bem, mas começou a reclamar de secura na boca e sentia muita sede. Após receber um segundo medicamento, por volta das 19 horas, o jovem apresentou uma piora brusca no quadro de saúde. De acordo com a irmã, por volta das 20 horas ele começou a vomitar “sangue vivo”.A mãe reclama que, mesmo com o filho escarrando sangue, as enfermeiras do Hugo demoraram a atendê-lo. “Ele ficou agonizando por 40 minutos e eu chamando a enfermeira”, diz. Quando as enfermeiras chegaram, segundo Cléia, levaram Bruno para a sala de reanimação e disseram que fariam exames. Logo depois, uma funcionária do hospital pediu que ela tirasse as coisas do rapaz da enfermaria e aguardasse na recepção.“Passei a noite inteira na recepção e ninguém dava informação sobre o meu filho”, relata Cléia. Por volta das 6h40, a família foi avisada da morte do rapaz. “O médico disse que ele teve duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.”Entenda Embolia pulmonar é um entupimento de vasos sanguíneos por gordura, ar, coágulo de sangue e até fragmento de ossos.É como se fosse um “infarto do pulmão” após o entupimento de um vaso sanguíneo.Em fraturas, como a de um fêmur, são comuns casos de embolia. Por isso o mais correto é entrar com o anticoagulante de imediato. Ela é grave, mas nem sempre fatal.Esmagamento ou fraturas múltiplas são casos mais graves, em que pode ocorrer a embolia.SintomasFalta de arSangramento exterioriza a emboliaFonte: pneumologista Ricardo Ozório Dourado -Imagem (Image_1.657321)-Imagem (Image_1.657319)