Na sala de aula, livros, cadernos e canetas cedem lugar a computadores portáteis e um monitor de dezenas de polegadas substitui o antigo quadro negro, ou uma lousa digital com tela touch screen. Tecnicamente, este modelo de educação é totalmente possível e já existe em algumas poucas escolas. Mas, na maioria, não passa de um cenário do futuro.A implantação de tecnologia digital nas escolas envolve diversos elementos: aquisição dos equipamentos, elaboração de conteúdo virtual, preparação dos professores e adaptação dos alunos. Nisso não há dificuldade. As crianças e jovens em idade escolar têm acesso a essa tecnologia desde que nasceram, seja por meio dos jogos de videogame, dos celulares ou de computadores domésticos. Já a escola, que se presume detentora de todo conhecimento, não conseguiu acompanhar a evolução tecnológica, criando com os alunos dessa era digital um anacronismo de décadas.“Se voltarmos aos anos 20 veríamos a mesma estrutura da escola de hoje, nada mudou”, observa Flávio Roberto de Castro, diretor pedagógico do Colégio Prevest.Isso está mudando, mas muito lentamente. De acordo com Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras (TIC Educação 2013), produzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, quase todas as escolas brasileiras têm computador e acesso à internet, mas o uso ainda é voltado para as atividades administrativas. Em 90% das escolas públicas, a máquina fica na sala do diretor ou do coordenador pedagógico. Os alunos só têm acesso ao equipamento no laboratório de informática.É assim também na maioria das escolas particulares. No Colégio Prevest, por exemplo, apenas algumas aulas são ministradas no laboratório de informática. A escola, que ministra aulas do 6º ano do ensino fundamental ao 3ª ano do ensino médio, conta com duas salas com computadores para atender todos os alunos. Além do laboratório, a única tecnologia utilizada em sala de aula é o projetor multimídia conhecido como data show.“São instrumentos mais prazerosos de informação”, observa Castro. A maior preocupação da escola no momento não é com o uso da tecnologia, mas com o mau uso dela. Segundo o diretor pedagógico, não há como controlar o que chega aos alunos por meio do celular. “Essa é a parte negativa da tecnologia.”No colégio, o principal avanço tecnológico não se deu na sala de aula, conta o diretor. Mas na relação com os pais, que passaram a ter acesso à frequência, nota e informações sobre o desempenho dos filhos via portal da escola na internet. Eles também são informados por meio de mensagem de celular quando o aluno entra e sai da escola.Foi também por meio do celular que um professor revolucionou o ensino de filosofia em uma escola pública de Nerópolis, a 35 quilômetros de Goiânia, como mostrou O POPULAR. Junto com os alunos, Gilberto Ramos Ribeiro criou uma plataforma virtual pela qual os estudantes recebem o conteúdo da disciplina e as atividades. Iniciativas como essa são comuns. No Portal do Professor do Ministério da Educação há vários registros de experiências realizadas por professores com o uso de tecnologia.Todavia, são iniciativas do professor, e não práticas institucionalizadas da escola, observa Rose Mary Almas, professora da Escola de Formação de Professores da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Ela vem desenvolvendo uma pesquisa sobre o uso de tecnologia nas escolas em nove municípios goianos e observou que o professor ainda utiliza a tecnologia de forma muito superficial. “É preciso intensificar a apropriação da tecnologia como elemento cultural e não simples aparato tecnológico.” Não para buscar um filme, mas para produzir um filme por meio de aplicativos, explica.De acordo coma pesquisa TIC Educação, 96% dos professores de escolas públicas e privadas entrevistadas usam a internet na preparação das aulas, todavia 84% deles acessam a internet apenas em busca de ilustrações e imagens, 83% buscavam textos e 79% questões de provas. O que comprova a afirmação da professora Rose Mary: “Os professores não usam a tecnologia para produzir algo, mas apenas de forma instrumental.”O uso por parte dos alunos também não é nada pedagógico. Pesquisa realizada no início de 2014 pelo site Click Jogos em parceria com o Instituto de Pesquisa Catapani e Associados em todo o Brasil mostrou que os sites mais acessados por meninos e meninas de 8 a 14 anos são o Facebook, o YouTube e o Google para jogar, trocar mensagens, ouvir música, ver vídeos e, por último, estudar. A internet é acessada no computador de casa por 98%. A tecnologia é a linguagem básica das pessoas em idade escolar, afirma Rose Mary. “Tornou-se instrumento da nossa cultura.”De acordo com última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2011, sobre o acesso à internet em Goiás, 79,8% dos estudantes de 10 anos ou mais utilizaram internet no período pesquisado contra 47% do total de pessoas e 38,5 % de não estudantes. Entre os estudantes da rede pública, esse percentual é de 74,4% e da rede privada, 95,9%.-Imagem (Image_1.635427)-Imagem (1.635455)