Apesar da legislação já determinar a igualdade salarial entre homens e mulheres que exercerem a mesma função dentro de uma empresa, cuja diferença de tempo de serviço não seja superior a dois anos, isso nem sempre acontece. Quando se fala no mercado de trabalho em geral, mesmo tendo mais escolaridade, as mulheres ainda ganham, em média, quase 25% menos que os homens em Goiás. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em Goiânia, a diferença salarial entre homens e mulheres chega a R$ 750 e, em Goiás, a R$ 611. Elas ganham menos mesmo tendo mais escolaridade que eles, já que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2017) revela que, entre as pessoas com 25 anos ou mais de idade, 17,5% das mulheres brasileiras são diplomadas, contra 13,7% dos homens.Por isto, um grupo de mulheres empreendedoras trabalha para tentar acabar com essa desigualdade, que voltou a ser debatida esta semana, após a entrevista do candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), ao Jornal Nacional.“O fato das mulheres terem mais anos de estudo mostra que não se trata de falta de capacitação. A desigualdade tem bases históricas e culturais”, afirma a especialista em Gestão de Pessoas da Apoio Consultoria de Negócios, diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) e membro do grupo Mulheres do Brasil, Dilze Percílio. Ela lembra que já ficou provado que não existe mais trabalho feito exclusivamente por homens ou mulheres para justificar essa diferença salarial.Mas a grande diferença nos rendimentos é causada, principalmente, pelo maior número de homens em cargos de gestão, que pagam mais que a média geral. Segundo Dilze, a desigualdade ocorre nas organizações desde o processo de seleção, que vedam uma participação igualitária. “As entrevistas geralmente são feitas por homens, que buscam mais características masculinas para os cargos de gestão”, destaca.PreconceitoPara a especialista em Gestão de Pessoas, existe a ideia errada de que a mulher é mais emotiva e tem menos pulso para liderar equipes. Além disso, há um preconceito de que elas têm produtividade menor por também serem responsáveis pelos cuidados com a casa, filhos e idosos, precisando se ausentar mais do trabalho. “Para conseguir se inserir, ela acaba se sujeitando a ganhar menos”, completa.Posição que é corroborada pela diretora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita Lima. Segundo ela, ainda é forte a máxima de que o mercado de trabalho é hostil com as mulheres, principalmente se elas são mães.Um levantamento do Fórum Econômico Mundial, de 2014, identificou que, no ritmo atual, a igualdade de gêneros no mercado de trabalho só seria alcançada em 80 anos. Por isso, uma das bandeiras do movimento Mulheres do Brasil é o projeto “80 anos em 8”, que busca, entre várias ações, acelerar a igualdade de homens e mulheres em cargos de gestão. Uma das primeiras lutas é para aprovação de uma lei em tramitação no Congresso Nacional que prevê a adoção de cotas para mulheres em cargos de gestão. A empresária Helena Ribeiro, CEO do Grupo Empreza e presidente do Núcleo Mulheres do Brasil em Goiás, prevê que, se nada for feito, a desigualdade ainda deve permanecer por bem mais que 80 anos. “Já está provado que, se acelerarmos a participação das mulheres na economia, temos muito a ganhar. Elas são o maior mercado emergente no mundo e, nos próximos 10 anos, terão uma enorme influência”, prevê, enfatizando não ser mais possível esperar tanto pela equidade de condições e renda.Não por acaso, o Mulheres do Brasil, que começou com 38 membros, conta com mais de 20 mil mulheres dentro e fora do País. Segundo Helena, o grupo apartidário trabalha ações junto ao governo e empresas visando aumentar o protagonismo feminino e o seu empoderamento. “Hoje, a mulher estuda e se capacita mais que o homem, por isso tem até mais capacidade e mais facilidade para o trabalho em equipe”, acredita a executiva. Daí, a necessidade de igualdade na concorrência.