Além de abraçar causas nobres e potencializar discursos pertinentes, como a fabricação ecologicamente responsável, o engajamento social e a importância do chamado slow fashion - conceito que defende a produção sem pressa ou pressão de seguir tendências - a moda autoral goiana vem se destacando por seu trabalho coletivo. Seguindo à risca a máxima “juntos somos mais fortes”, estilistas e designers reúnem esforços para divulgar as marcas e a originalidade das peças - um dos grande diferenciais do segmento. Na falta de espaços físicos os traços personalizados serviram de fio condutor para a criação de uma espécie de rede colaborativa no Instagram. É quase impossível que a foto postada no perfil de uma marca local, não leve o consumidor a centenas de outras. Em uma espécie de costura, a pessoa vai sendo direcionada e passa a conhecer marcas goianas, que fabricam, de forma artesanal e consciente, roupas, acessórios, sapatos e até lingeries. À frente da Novelo, a estilista Milleide Lopes enxerga esse movimento de aproximação como grande responsável pela sobrevivência da moda autoral. “Principalmente em um cenário no qual a mídia tradicional é mais forte e abrangente do que a linguagem de consumo utilizada por nós, que prezamos pela qualidade e não pela quantidade”, defende. A estilista, que acaba de lançar sua nova coleção, Reconstrução, chama atenção também para o fato de que na moda autoral cada peça é feita como se fosse única, em detalhes, cortes e acabamentos. “Minha modelagem é muito simples, o que me dá mais tempo para pensar as particularidades”, conta. Hoje ela vende as peças pela internet, mas também atende, com hora marcada, em seu ateliê - uma espécie de tendência no segmento. Além deles, a cidade vem, aos poucos, sendo ocupada com eventos culturais, feirinhas, e pequenos coletivos que servem de vitrine para a criação de estilistas e designers.A gaúcha Paula Zuchetto também recebe as clientes no ateliê, montado em Goiânia, cidade que acolheu a artista visual e possibilitou que ela tirasse do papel o sonho de ter a própria marca de acessórios. À frente do Atelier da Alberta desde 2015 ela produz séries limitadas de brincos, colares, pulseiras e braceletes. “O projeto surgiu de experimentações e até hoje posso dizer que a marca tem um pouco disso. Misturo materiais, uso conceitos de reutilização criativa, me inspiro em diferentes tipos de mulheres e acabo alcançado resultados variados.”Paula, que diz não ter vontade de transformar Atelier da Alberta em uma marca de produção atacadista, classifica a atual fase do mercado de moda em Goiás como especial e importante. “Estamos produzindo bem e com uma qualidade que não perde em nada para o que é feito nas cidades do eixo Rio-São Paulo. As coisas estão acontecendo, mesmo que em um ritmo mais lento e esse nosso trabalho, feito a várias mãos, vai, com certeza, nos render bons frutos. Há 15 anos, por exemplo, não falávamos em engajamento. Eu não teria a oportunidade de estar em contato com um público que entende o significado de uma peça exclusiva, que sabe o valor do conceito da marca e da produção autoral”, acredita. OportunidadesEngajamento é a palavra de ordem para a estudante de Moda Laura Brandão. Há dois anos a mente pensante e mão produtora da marca vegana Laguil, marca autoral de mochilas, carteiras e pochetes, garante ter encontrado seu lugar. “A maioria das pessoas tem uma visão muito crua do mercado de moda. Ele é grande e tem diversas áreas de atuação. O que o pessoal da mercado autoral precisa fazer é se posicionar estrategicamente, de um jeito honesto e autêntico”, defende. A marca nasceu de um projeto da faculdade e hoje reina absoluta nos planos profissionais da futura designer de moda. As peças, cuja modelagem são desenhadas pela própria Laura, são feitas de tecido e algumas ainda trazem na composição retalhos que seriam descartados. Hoje a marca possui três modelos de mochila (a bakarra, a média e a mini-mochila), além de carteiras e pochetes. Feitas sob medida elas são costuradas com a ajuda de três profissionais. “O restante dos processos, como modelagem, corte, compra de tecido e desenvolvimento de protótipos ficam exclusivamente comigo”, conta a designer que hoje tem um novo xodó, o DoeGuil, projeto social de trocar cupons de desconto por mochilas usadas, peças que são reformadas e doadas para crianças carentes. -Imagem (Image_1.1579397)-Imagem (Image_1.1579399)