A premiada, e nacionalmente reconhecida, cineasta radicada em Goiás Rosa Berardo lança nesta terça-feira seus mais recentes curtas-metragens. Marcas da Ditadura na Vida de um Ator e Alarme Falso acabam de ser finalizados e serão exibidos, a partir das 19 horas, no Lumière Bougainville. As produções integram a Mostra Rosa Berardo - Acaso, Ditadura e Memórias, que tem entrada franca e traz ainda o resgate do filme André Louco, gravado há quase 30 anos e que foi remasterizado e digitalizado. As produções têm como ponto-chave a relação dos personagens com o outro, consigo mesmo e com acontecimentos do cotidiano, que podem modificar impressões sobre o ordenado, a ordem e a desordem.Finalizado em abril deste ano, o curta Marcas da Ditadura na vida de um ator registra uma fase mais moderna da diretora. A história é contada de forma híbrida e mescla cenas gravadas com quadrinhos, estilo HQs, em preto e branco. No documentário, Rosa conta a experiência do ator goiano Almir de Amorim com a ditadura militar brasileira e propõe uma reflexão sobre o tema, abordando o período no qual ele ficou internado em um hospital psiquiátrico por ser contrário ao regime militar. “É muito importante dar luz à discussão sobre a forma como a psiquiatria foi usada para desacreditar as pessoas e justificar violências na ditadura militar. Homens e mulheres eram retirados da sociedade com o pretexto de que não se encaixavam nos parâmetros de comportamento.”Para ajudar na composição do curta, que conta com a participação do ator Sérgio Mamberti, Rosa ingressou em uma pesquisa histórica e profunda sobre os hospitais psiquiátricos Adalto Botelho, em Goiânia, e Franco da Rocha, em São Paulo. “Reconstruir a história do Almir em um momento no qual as pessoas pedem uma intervenção militar foi muito emocionante. Eu precisei entrevistá-lo mais de cinco vezes, durante um ano, fazendo as mesmas perguntas para que conseguíssemos falar sobre o assunto. Além disso, me emocionei demais pois meu pai foi um preso político e eu vivi na pele os reflexos desse estado de violência e opressão.”Já no curta-metragem Alarme Falso, a trama gira em torno de como as decisões e escolhas transformam o destino de maneira irreparável. Com texto de Carlos Moreli, o filme conta com os atores Bela Carrijo e Gustavo Duque.louco é quem me dizA temática da loucura também aparece na versão remasterizada e digitalizada do filme André Louco, uma adaptação da obra do goiano Bernardo Élis que marcou a retomada do cinema goiano no início dos anos 90. “O filme, que tinha uma única cópia e foi feito em película 35 milímetros, ficou no Cine Cultura durante muito tempo e nada foi feito para resgatar o material. A película já estava em estado de deterioração quando recebi uma proposta do Canadá para patrocinar a restauração do filme. É um legado que fica para Goiás.”A história foca o ponto de vista da cidade em relação à normalidade e à insanidade, diante de um jovem considerado desequilibrado. “O louco do Bernardo, que tem uma obra extremamente atual, é uma pessoa que incomoda a sociedade por ter padrões de comportamento diferentes. Trata-se de um arquétipo universal do que seriam a normalidade e a loucura.”Ao final das exibições dos curtas-metragens, Rosa participa de uma mesa-redonda na qual cineastas e professores da área discutem a representação do equilíbrio e desequilíbrio na cena audiovisual. Entre os debatedores estarão Tânia Montoro, doutora em Cinema pela Universidade de Barcelona e professora de Cinema na UnB; e Maria Luiza Mendonça, professora de Cinema e Comunicação da UFG. A mediação será feita pelo artista e professor da UFG, Edgar Franco.PerfilNascida em São Paulo, Rosa Maria Berardo se considera goiana. Famosa por se dedicar a temas como identidade cultural, alteridade, gêneros e etnias, a roteirista e cineasta tem trabalhos premiados no Brasil e no exterior. Doutora em Cinema pela Universidade de Sorbonne, na França, e pós-doutora pela Université du Québec à Montreal, Rosa produz filmes e ministra cursos na Casa do Cinema. Como fotógrafa, realizou uma série de exposições nacionais e internacionais e foi reconhecida como uma das artistas brasileiras que mais se destacaram nas artes nos últimos anos. Atualmente, Rosa trabalha no seu primeiro longa, que deve ser gravado, a partir de 2018, na cidade de Goiás.-Imagem (Image_1.1404077)-Imagem (Image_1.1404078)