Documentos das investigações da Operação Decantação, do Ministério Público Federal (MPF-GO) e da Polícia Federal (PF) apontam para suspeitas sobre o uso político da estatal goiana Saneago. Eles fazem referência a recursos públicos que teriam sido usados para montagem de comitês de campanha eleitoral, voos cedidos ao vice-governador José Eliton (PSDB) por empresário, pagamentos a políticos e partidos, caixa 2, mesadas, trocas de favores e compras de presentes.O POPULAR teve acesso ao inteiro teor do material da operação, deflagrada em agosto de 2016. O conjunto de depoimentos, gravações telefônicas, mensagens do WhatsApp e análise parcial do material recolhido em apreensões expõe indícios de influências e favorecimentos políticos. No dia 11, O POPULAR noticiou que o MPF apresentou à Justiça Federal nova denúncia do caso e o pedido de prisão de quatro envolvidos.As investigações ouviram pelo menos dez funcionários de carreira da Saneago, fora aqueles que ocuparam a direção. Um deles comenta que os servidores comemoram a deflagração da operação em 2016 porque tinham conhecimento de irregularidades e suspeitas de corrupção. “Após a Operação Decantação, diz que ouviu comentários de colegas nos corredores de ‘alívio e satisfação’”, diz o termo do depoimento do servidor, que tem quase 40 anos na empresa.Parte dos funcionários cita como o empresário Carlos Eduardo Pereira da Costa, da Sanefer - recordista em valores de contratos com a estatal na lista de denunciados - circulava à vontade na sede da Saneago, tanto nas diretorias como participando de reuniões internas.De acordo com mensagens no celular do empresário, ele era influente também em outras áreas do governo. Os contatos mostram que ele cedia voos para o vice-governador - na época também secretário de Segurança Pública - participar de eventos políticos no interior, em 2016, ano de sucessão municipal, e para o então chefe de Gabinete do governador Marconi Perillo (PSDB) Luiz Alberto de Oliveira, conhecido como Bambu (veja quadro). Relatórios também apontam suspeitas de privilégio em pagamentos para a Sanefer e repasses de caixa 2 a candidatos.O próprio Carlos Eduardo admitiu em depoimento à PF que cedeu voos para a campanha do PSDB ao governo, em 2014, e que acredita que isso esteja declarado na prestação de contas das campanhas, mas não abordou os episódios de 2016.Em outros dois depoimentos de servidores, uma ex-superintendente e um ex-gerente, há relatos de que a Saneago bancou a montagem do comitê central da campanha de Marconi em 2014, na BR-153. Marconi e José Eliton negam uso político da Saneago.ContinuidadeNem todo o material a que a reportagem teve acesso consta na nova denúncia, protocolada na 11ª Vara Federal em 13 de dezembro. Há detalhes no pedido de prisão e em relatórios sobre depoimentos e recolhimento de material, feitos pela PF. O MPF informou que algumas suspeitas já provocaram pedido de abertura de novos inquéritos.Também houve envio de dados a outras instâncias nos casos de citações a políticos que têm foro privilegiado. O Supremo Tribunal Federal já havia determinado o desmembramento do processo justamente porque a primeira denúncia, de setembro de 2016, citava o nome do deputado federal Giuseppe Vecci (PSDB). Coube ao MPF em Goiás apurar apenas o envolvimento dos demais nomes. O processo sobre Vecci fica com o Supremo e fatos relacionados ao governador foram encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça.