Se o discurso público do governador José Eliton (PSDB) estava, desde o primeiro turno, focado na conclusão de seu mandato e na transição de governo, a proximidade do segundo turno da eleição presidencial gerou inquietação. Do gabinete em que ficará até o final do ano, ele admitiu voto no petista Fernando Haddad (PT), manifestou preocupação com declarações de Jair Bolsonaro (PSL) e deu sua avaliação a respeito da derrocada eleitoral do seu partido, fruto, acredita, do estigma de “ficar em cima do muro”. “Você tem que ter posição. Vou votar no Haddad. Não porque acredito que ele é o melhor pro Brasil, tanto é que votei no Geraldo Alckmin no primeiro turno, mas porque eu acho que ele defende algumas questões que são mais importantes: as questões relacionadas à democracia, a valores, a respeitar a opinião de todos e as instituições”, defendeu o tucano. “Com todos os defeitos que nós temos enquanto nação, avançamos muito. Então, vejo isso como, às vezes, um sentimento de que o discurso fácil está muito aflorado.”Para ele, Bolsonaro representa “um risco para alguns valores importantes”, especialmente para a democracia. “Quando você vê um filho dele, ainda que ‘de brincadeira’, falar que um guarda e um cabo fecham o Supremo, o candidato a vice propor uma constituinte feita por ‘notáveis’ para substituir uma Assembleia Constituinte, quer dizer que, se eu ficar com raiva de uma decisão judicial, eu vou fechar o Judiciário? Se eu ficar com raiva de uma lei que foi aprovada pelo Parlamento, eu vou lá fechar o Parlamento? São sinais delicados”, questionou.José Eliton também criticou a decisão do PSDB de liberar sua militância e lideranças para votarem como quiserem no segundo turno. “Acho um erro. Em eleição você não anula voto. Você expõe sua posição, ao meu ver. É por isso que eu falo: o PSDB não pode ficar em cima do muro.”Este deve ser, agora, o maior desafio dos tucanos, acredita José Eliton: “Via de regra, do ponto de vista de resultados, o PSDB fez boas gestões nos Estados em que esteve à frente. Mas do ponto de vista político, o enfrentamento de alguns temas me parece que é a discussão do PSDB. O Brasil vive um momento delicado, com um movimento conservador muito forte.”DesgasteO governador comentou ainda a postura da cúpula tucana no que diz respeito às denúncias envolvendo correligionários - em Goiás, por exemplo, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) foi acusado de receber R$ 12 milhões da Odebrecht a poucos dias da eleição. Apesar de admitir que a falta de um posicionamento mais enérgico possa ter tido algum impacto negativo na percepção do eleitor, ele defendeu que “as pessoas não sejam condenadas antes de findados os processos contra elas”. “Acho uma tristeza o que ocorre no Brasil: a condenação de véspera, em alguns casos, sem sequer existir processo. É um negócio que violenta as condições estruturais elementares de uma democracia”, diz. “Você nunca me viu levantar temas dessa natureza em relação a adversários políticos, mesmo porque eu acho que essas questões têm que ser dirimidas no âmbito adequado.”