O paulista Rafael Cotta foi um privilegiado na Copa do Mundo de 2018, na Rússia. À época, era analista de desempenho do Atlético-GO e foi um dos escolhidos pelo Centro de Pesquisa e Análise (CPA) da CBF para dissecar, antes e durante o torneio, uma das seleções daquele Mundial. Por coincidência, a França, que foi campeã da competição disputada há quatro anos, foi responsabilidade de Cotta.O Brasil ficou a um jogo de fazer a semifinal na Rússia diante dos franceses, mas foi eliminado pela Bélgica nas quartas de final. Na sequência, os belgas caíram na semifinal diante dos Bleus.Agora, passados quatro anos, Rafael Cotta permanece no Atlético-GO, mas ocupa outra função, a de coordenador técnico. Apesar do pouco tempo para poder acompanhar os selecionados que disputarão o Mundial no Catar, Cotta aponta o Brasil como favorito ao título, respeitando uma condição que a equipe nacional sempre ostenta às vésperas de uma Copa do Mundo.“O Brasil sempre vai ser favorito, independentemente do momento que viva”, resumiu o coordenador técnico do Dragão. Na visão dele, a renovação promovida na seleção brasileira por Tite e auxiliares elevou o nível da equipe. O trabalho de levantamento de dados desempenhado pelos assistentes de Tite é elogiado pelo ajudante na análise de desempenho da CBF em 2018. Afinal, daquele ano até novembro de 2022, houve a transição na composição da seleção nacional.Nomes como Miranda, Fagner, Marcelo, Filipe Luís, Paulinho, Renato Augusto, Willian, Fernandinho, Douglas Costa e Roberto Firmino deram lugar às caras novas como Alex Sandro, Alex Telles, Éder Militão e as novidades do meio para frente, como Lucas Paquetá, Fabinho, Bruno Guimarães e Everton Ribeiro. O ataque tem particular fôlego. O setor terá inovações com Raphinha, Pedro, Antony, Richarlison, Rodrygo, Vinícius Júnior e Gabriel Martinelli. É verdade que o treinador aposta em veteranos como Thiago Silva e Daniel Alves, que se aproximam dos 40 anos.Cotta aprova as mudanças processadas por Tite, que vai para a segunda copa seguida pelo Brasil, o que não ocorria com um treinador desde Telê Santana, em 1982 e 1986 - Zagallo foi aos torneios de 1970 e 1974, voltou em 1994 como coordenador e foi técnico em 1998.“A seleção brasileira, com caras novas do meio para frente, acho bem interessante. São jogadores que a comissão técnica da seleção vem fazendo bom trabalho de monitoramento, de várias formas. Principalmente a parte física, através do acompanhamento que o preparador físico Fábio (Mahseredjian) fez, a relação que ele manteve com os clubes dos atletas, com os dados. Isso tudo é interessante”, avalia Cotta. Através da triagem, Tite foi encontrando as opções, testadas nos amistosos, em duas edições da Copa América e Eliminatórias.Um dos argumentos contrários no segundo ciclo da era Tite é a falta de partidas diante das potências europeias, como a França dissecada por Cotta em 2018. O auxiliar relativiza a situação, pois, nos últimos anos, as seleções da Europa passaram a usar as datas Fifa para a disputa de um novo torneio no Velho Continente, a Liga das Nações da Uefa. Os amistosos do Brasil com equipes europeias, cada vez mais raros, ficaram praticamente inviáveis. A percepção é que isso atrapalha um pouco, mas o calendário tem de ser usado de forma a testar novas opções e trabalhar as ideias de jogo.“A falta de jogos contra os europeus faz cair um pouco o nível dos amistosos porque é interessante que se tenha jogos de bom nível para se preparar bem para a Copa, mas também tem de se fazer partidas de níveis diferentes em momentos diferentes”, explica Cotta. “Não adianta qualquer tipo de jogo, pegar um time forte também, pois você acaba não conseguindo implantar algumas coisas. Então, tudo isso se encaixa dentro de um planejamento feito.”O Mundial do Catar apresenta novidades, como ser a primeira edição do torneio no mundo árabe e o período de disputa, no final do ano, que difere das copas na metade da temporada. O novo período de jogos em solo catari, que obrigou a CBF a ajustar o calendário brasileiro, é bem visto por Cotta. Tanto que o Brasileirão teve de terminar um pouco mais cedo, enquanto na Europa os torneios nacionais e continentais serão interrompidos neste fim de ano, mas retomados a seguir.“Acho legal (calendário da Copa no Catar). É diferente, mas é interessante este calendário no final do ano. Você não precisa parar o ano (de jogos oficiais) aqui no Brasil. Terminar a temporada, mesmo que corrida para todo mundo, antes da Copa foi interessante”, disse o coordenador técnico do Atlético-GO e analista de desempenho em 2018.O nível técnico do principal torneio mundial pode seguir tendência das disputas nacionais, sem prejuízo aos interesses de cada nação. “Sabemos que as seleções têm os jogadores disputando competições de bom nível pelo mundo todo. Então, imaginamos que, com os treinadores bons que essas equipes têm, consigam fazer bons jogos e mostrar uma competição de muita qualidade, como sempre é a Copa do Mundo.”Os últimos dias antes do início da Copa foram de contusões e cortes de nomes importantes no Mundial, com um desapontamento entre treinadores e comissão técnica dos atingidos. Para Cotta, as lesões de atletas chegaram em momento crucial, que torna mais difícil administrar o problema.A França não terá os volantes Kanté e Pogba, carregadores do piano e cortados pelo técnico Didier Deschamps. Em 2018, Cotta já os apontava como essenciais ao sistema tático preparado pelo treinador francês. Além deles, apontava nos relatórios que Mbappé poderia ser um jogador decisivo, como realmente foi, apesar de jovem. Outras baixas foram Kimpembe e, por último, Benzema.Outras equipes também tiveram cortes e os treinadores têm lidado com o tempo curto para convocar e preparar outros atletas. Argentina, Alemanha e Senegal têm desfalques consideráveis.Leia também:+ "Estamos mortos", diz Messi ao lamentar golpe sofrido com derrota na estreia+ Classificação dos grupos e tabela de jogos da Copa do Catar