A cada temporada que começa, abre-se não só a janela de transferência de jogadores, mas as portas para garotos que buscam a realização de um sonho, dentro e fora de campo. Neste ano, o Atlético deu, a dez talentos do time sub-20, a oportunidade de iniciar a temporada no elenco profissional. O clube manteve sua espinha dorsal que o catapultou da 2ª Divisão do Goiano para a Série A há cinco anos e tem olhos voltados para a necessária renovação.Dos dez jogadores que subiram para o profissional, dois foram emprestados ao Goianésia para a disputa do Estadual: volante Adriel e zagueiro Guilherme Favoni. Os demais são: o goleiro Magner, o zagueiro Thiago Lemes, o lateral-esquerdo Samuel, o lateral-direito Carlinhos, o volante Maurinho, os meias Lucas e João Guilherme, além do atacante Watthimen."Não gosto de falar sobre a qualidade de um atleta em específico. São todos bons jogadores e que têm potencial para crescer. O sucesso de cada um vai depender das oportunidades que aparecerem na vida deles e como vão aproveitá-las", pondera Coutinho, técnico da equipe sub-20 atleticana.PROMESSAWatthimen, atacante de 20 anos e 1,67 metro, se configura em uma das grandes promessas do clube ao lado do meia João Guilherme, de 19 anos. Isso mesmo, Watthimen! Na verdade Watthimen Ranney Lúcio Patrocínio é o retrato fiel do jogador brasileiro em busca de reconhecimento. O nome incomum, segundo ele, vem de um livro que sua avó lia antes de seu nascimento. "Meu pai queria dar um nome deferente para os filhos. Sou Watthimen Ranney, que tem a ver com fogo; meu irmão se chama Wotson Saney, ligado à água; e minha irmã, Sephora Ranna, nome de uma princesa do livro da minha avó", explica.O atacante de nome estiloso teve vida difícil até chegar no Atlético. Nascido em Nova Era (MG), começou a jogar bola aos 4 anos em uma escolinha daquela cidade. Com 7 anos, viveu a separação dos pais e foi morar com a mãe, Graça, em Alto Horizonte, a 350 quilômetros de Goiânia. Vida dura, dinheiro contado e o sonho de se realizar no futebol e retribuir o carinho da mãe, professora.Depois de atuações bem-sucedidas por clubes amadores e uma curta passagem pelo Anápolis, aos 16 anos, Watthimen foi indicado ao técnico Coutinho. No teste com a equipe atleticana, o atacante rápido, ágil e habilidoso marcou dois gols nos dez minutos que ficou em campo.Desde então, o mineirinho vem comendo pelas beiradas e viu sua vida começar a mudar. Watthimen assinou seu primeiro contrato profissional em janeiro do ano passado e já teve renovação até 10 de julho de 2013. No Campeonato Goiano Sub-20, foi artilheiro, com 13 gols. No começo de 2010, ele ganhava um salário mínimo. Depois da renovação, no meio daquele ano, sua remuneração subiu para estratosféricos 800 reais, dos quais manda 300 reais para a sua mãe, faz as suas despesas pessoais e ainda sobram 100 reais para "gastar como quiser".As coisas melhoraram mas nem tanto. Desde que chegou ao Atlético, Watthimen vive de favor em uma casa de apoio no Setor Sul mantida pela prefeitura de Alto Horizonte. O transporte é por sua conta. Até o fim de 2010, treinava no CT Sussumo Taia, na saída para Inhumas. Eram quatro horas por dia de ônibus, ida e volta. A carona do amigo Daniel, com quem dividia o gramado e a gasolina, deu uma ajuda. O atacante, que estudava à noite até o fim do ano, passou no vestibular para o curso de Educação Física, o qual espera dividir sua atenção com o futebol neste ano."São muitas dificuldades, mas a maior delas é ficar longe da família. Mas são provas que a gente tem de passar para realizar um sonho", se ressente o atacante, que há três anos não vê seu pai, Valdeci, que mora em Nova Era. No Réveillon, o jogador pode matar a saudade de sua mãe e dos irmãos, os quais não via há quase um ano.Watthimen espera pela iniciativa do Atlético em lhe dar moradia e alimentação no Centro de Concentração e Treinamento do Dragão, no Setor Urias Magalhães.CHANCEA intenção do técnico René Simões de poupar titulares nas primeiras rodadas do Campeonato Goiano, que começa domingo, acendeu ainda mais as esperanças de Watthimen, que vê a grande chance de sua ainda breve carreira. "Espero conquistar meu espaço no elenco, jogar e a partir daí, fazer minha vida", ressalta. "Meu sonho agora é ser artilheiro de um grande campeonato como o Goiano ou o Brasileiro e jogar em grandes clubes pelo mundo", revela. CT para a base deve sair em 2 anosÉ tradição no Atlético ter uma categoria de base forte. Mesmo com todas as dificuldades com as quais o clube se arrastou até 2005, os rubronegros podem se orgulhar de terem formado jogadores renomados que atuaram em grandes times e até mesmo na seleção como Baltazar (ex-Grêmio, Palmeiras, Flamengo, Atlético de Madrid/ESP e seleção brasileira), Valdeir The Flash (ex-Botafogo, Bordeaux/FRA e seleção), além de Júlio César Imperador (ex-Flamengo), Lindomar e Romerito (ex-Corinthians), Célio Gaúcho (ex-Cruzeiro) e Marçal (campeão mundial de juniores em 1985 pela seleção).O clube volta a se dedicar às categorias de base com determinação. Há um projeto para os próximos dois anos de construir um centro de treinamento para as categorias de base, em Aparecida de Goiânia. "Já temos o projeto aprovado. O Ministério do Trabalho já nos autorizou a captar junto a empresas, por meio de incentivo fiscal, o valor de R$ 5 milhões para executar a primeira etapa da obra", revela o presidente do clube, Valdivino de Oliveira. "Já vamos entrar com o projeto para a segunda etapa (orçada em outros R$ 5 milhões) e a gente espera que em dois anos possamos concluir este CT", estima.Na atual safra de jogadores que estão treinando com os profissionais, além de Watthimen, há outras promessas. O diretor de futebol Adson Batista não gosta de tecer comentários sobre a qualidade individual dos garotos para não melindrá-los, mas sabe do potencial que tem no elenco. Já o diretor das categorias de base do clube, Jozélio Dias, não poupa elogios ao meia João Guilherme, de 19 anos, outro a ser observado pela torcida rubronegra. "É um meia destro, inteligente, com bom passe, chuta bem de fora da área e é habilidoso. Temos também o Mauro (volante) e o Watthimen, que podem ser grandes revelações. Vamos ver se estes jogadores confirmam nossa aposta neles", finaliza.COPA SÃO PAULOO Atlético venceu ontem, no Estádio Santa Cruz, em Ribeirão Preto (SP), o Rondonópolis (MT), por 2 a 1, pelo Grupo N da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Os gols do Dragão foram de Jefferson e Rodrigo (pênalti). Dieguinho descontou para o time do Mato Grosso. O Dragãozinho tenta a vaga na 2ª fase, quarta-feira, às 16 horas, contra o Olé Brasil (SP). (Sérgio Lessa e Jânio José da Silva)