Na periferia de Aparecida de Goiânia, a equipe Chinelinho está perto de completar dez anos. O projeto, que visa dar oportunidades para jovens em situações precárias através do esporte e da educação, vem conquistando resultados dentro e fora dos ginásios, com a entrada na universidade como um dos principais objetivos.

No último final de semana de setembro, a Chinelinho foi a campeã da categoria masculina no Campeonato Goiano Sub-16 de Atletismo, que reuniu cerca de 80 competidores. Ao todo, os atletas da equipe conquistaram 19 medalhas, sendo seis de ouro, seis de prata e sete de bronze.

Em 2016, inspirado pela Jesus Menino, uma ONG com mais de 30 anos de história, o projeto Chinelinho surgiu. O principal idealizador é João Paulo Rosa, de 29 anos, nascido e criado em Aparecida de Goiânia. Professor de Educação Física e técnico de atletismo, ele viu no esporte a chance de abrir portas na comunidade.

“Eu via que as crianças precisavam gastar a energia delas. Sempre via muitas delas literalmente correndo, então pensei em levar para um patamar profissional. Começamos com três atletas, disputamos os Jogos Escolares, preparamos. Agregamos outros atletas, apareceram crianças que viram as medalhas deles, começamos a agregar esses meninos. A maioria usava chinelo, falava que não tinha tênis, e assim nasceu a ideia do nome. O chinelo é muito representativo nas comunidades mais carentes. Quando falavam que só tinham chinelo para correr, falei que era só isso que precisávamos”, contou.

O próprio João Paulo praticou atletismo na escola e disputou Jogos Escolares, correndo 100m e participando do arremesso de peso. Ele migrou para as corridas de rua.

O principal ponto de encontro da Chinelinho é o bairro Independência Mansões, em Aparecida de Goiânia, mas a equipe também tem projetos no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia, e no Setor Continental, em Aparecida. Neste último, João Paulo contou que não há água tratada, asfalto e uma rede pública que olhe por eles. Às 10 horas, muitas crianças sequer tomaram café da manhã e procuram o time também como uma forma de se alimentar.

No Independência Mansões, o local em que a equipe treina é uma praça sem nome e com terreno irregular. Os treinos da Chinelinho acontecem cinco vezes na semana, nos diferentes pontos de encontro, mas nem todos conseguem se deslocar para o Setor Pedro Ludovico, por exemplo. No projeto, há alunos de Goiânia, Aparecida e Avelinópolis.

Atualmente, a Chinelinho tem 84 alunos federados pela Confederação Brasileira de Atletismo, a partir dos 13 anos de idade até os 25. O projeto também acolhe crianças mais jovens, sendo que a mais nova tem quatro anos de idade. No total, são cerca de 120 alunos. Não há restrição e é tudo gratuito, mas a “exigência” está na parte da educação.

“Começamos a falar para as crianças que elas fazem parte do projeto, nunca cobramos nada, mas precisamos que elas tirem boas notas, vão para a escola, participem das aulas. E assim criamos uma parceria com as escolas. Tenho o contato das diretoras, professores, virou uma corrente do bem. Além do esporte, os professores veem os alunos melhorando, mais disciplinados”, explicou João Paulo.

A organização da Chinelinho está nas mãos de João Paulo e de Nilton Marcos, diretor financeiro da equipe. Juntos, eles fazem o projeto continuar e sobreviver, muito por causa de uma rede de apoio independente.

“Hoje não recebemos apoio do poder público, a maior parte é de doações. Algumas empresas colaboram com o projeto para ele funcionar com essa quantidade de crianças. Gastamos com lanche, material, uniforme, mas é sempre bem precário. Precisamos principalmente de uma área para treinar. Todos os locais em que treinamos são na rua, não tem um local minimamente adequado para treinar. Treinamos na rua, passam carros, correm perigo. Treinamos em campos abandonados, com cacos de vidro, não tem banheiro, água. Falta apoio para trabalharmos melhor com essa garotada.”

Além da parte esportiva, o exemplo da Chinelinho inspira os demais alunos a dar sequência às boas ações. A equipe já chegou a mandar sapatilhas de corrida para alunos de outras cidades, como São Paulo, após entrarem em contato nas redes sociais. Quem tiver interesse de doar para o projeto, inclusive, pode conversar diretamente com os organizadores nas plataformas digitais.

Atualmente, 16 alunos diferentes conseguiram ingressar em uma faculdade (três deles em universidades federais) depois de se desenvolverem com a ajuda da Chinelinho. João Paulo acompanha as notas dos alunos na escola, suas taxas de frequência e de participação nas aulas.

Antes, segundo João Paulo, eles usavam pessoas de fora como exemplo de que é possível prosperar mesmo na periferia, mas hoje conseguem usar pessoas de dentro como fonte de inspiração. E, com isso, tanto os meninos quanto as meninas conseguem ser incluídos.

“Hoje temos um grupo de 30, 40, 50 meninas que fazem parte do projeto. Aqui no Independência Mansões víamos que tinha muito time de futebol, que não agregava as meninas. A gente via meninas grávidas, com 12, 13 anos, e sabíamos que não tinham oportunidades. Os meninos tinham no futebol, basquete, vôlei, mas as meninas não”, concluiu o treinador.

De conhecer a praia à Olimpíada, sonhos&nbsp;são o que movem atletas da Chinelinho

Alunos do projeto Chinelinho, Tharles Moreira, de 18 anos, Gustavo de Araújo, de 21, e Larissa Gonzaga, de 22, contam que estar na equipe de atletismo foi o que os salvou de um destino mais imprevisível em meio a um contexto social desafiador.

Larissa, natural de Imperatriz-MA e que veio para o estado de Goiás quando criança em busca de melhores condições, conheceu o treinador João Paulo e o projeto Chinelinho através da escola. Ela tinha um colega que fazia atletismo e que a convidou para participar. Na época, Larissa tinha 13 anos.

A partir dali, a jovem recebeu o incentivo de se concentrar na educação e, depois que se formou na escola, conseguiu ingressar na faculdade. Atualmente, está perto de se formar em Educação Física e trabalha como estagiária de João Paulo. Desde então, já viajou para vários estados diferentes e expandiu seus horizontes.

“O João virou o pai que eu não tive presente. Se não fosse através dele, não sei o que seria de mim. Não estaria finalizando a faculdade. Querendo ou não, foi um instrumento real na minha vida, que me conduziu. Eu queria fazer a diferença na minha casa. Minha mãe tem seis filhos, mãe solteira sustentando uma casa sozinha. O que eu passava dentro de casa não era o que eu queria para a minha vida, e o projeto me conduziu até onde estou hoje”, comentou.

Larissa corre 100m e 200m, mas sua especialidade é o salto em distância. Nos mais recentes Jogos Abertos, ela ficou em 1º lugar na modalidade. Além de se destacar no esporte, ela estabeleceu a meta de fazer uma pós-graduação e comprar uma casa e um carro. “Eu não tinha sonhos. A partir do momento em que entrei na equipe, os sonhos começaram a ser semeados”, admitiu Larissa.

Tharles, que nasceu em Niquelândia, entrou no projeto em 2021 e foi fazendo um pouco de cada modalidade para saber em qual se encaixava. Por causa de seu tamanho e força, encaixou-se no arremesso de peso e rapidamente começou a se destacar.

“Eu conheci (o projeto) em uma clínica de reabilitação, onde eu estava em um momento muito difícil da minha vida, envolvido com drogas, pessoas erradas, crime. Decidi ir para uma clínica, e lá eu tive a oportunidade de conhecer a Chinelinho. Fui me aprofundando mais nos objetivos, no que eu tinha de fazer.”

Entre suas principais conquistas, Tharles quebrou o recorde estadual ao arremessar mais de 14m com 6 kg, algo que ele tinha estabelecido como vontade pessoal. Agora, a missão é bater os 18m e 19m, seguir no esporte e futuramente fazer faculdade para ser professor de Educação Física e abrir um projeto social para ajudar pessoas carentes.

“Eu tinha tudo para dar errado. Tive a oportunidade de conhecer essa equipe maravilhosa, minha vida com meus familiares não foi muito boa, não foi do jeito que eu queria. Enquanto isso, pude conhecer lugares maravilhosos, aprender a falar, perder um pouco da vergonha. Fui desenvolvendo e estou aprendendo essa parte, passei por muitas coisas ruins. Hoje, tenho pessoas com quem conversar e falar o que sinto e estou passando, para eu poder alcançar o que quero ser um dia, campeão das Olimpíadas”, projetou.

Gustavo também teve uma trajetória turbulenta. Em Aparecida de Goiânia, sua cidade-natal, conheceu a Chinelinho pelas redes sociais em 2023. Ele sempre teve o sonho de ir à praia, e foi isso que o atraiu para o projeto.

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Gustavo de Araújo, de 21 anos, e Larissa Gonzaga, de 22, são corredores e fazem da pista o local ideal para realização de sonhos (Diomício Gomes / O Popular)

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“Eu vi um menino da equipe na praia, e então mandei mensagem para o treinador, perguntando como eu conseguiria correr e ir para a praia. O meu sonho é conhecer a praia. Comecei a treinar, me dedicar. Temos altos e baixos na vida, mas o esporte já me salvou bastante, passei muita necessidade. Tinha época que minha geladeira não tinha nada. O treinador me ajudou. salvou a minha vida. Não fosse pelo esporte, eu poderia estar preso ou morto. Se você não tiver um caminho certo para seguir, vai para o caminho errado. Hoje, as pessoas me veem como um exemplo.”

Gustavo já correu 100m, mas atua mais nos 200m e 400m. Ele quer seguir na Educação Física porque não quer deixar o sonho morrer. Com cinco irmãos, ele busca servir de inspiração para todos ao seu redor. Já conheceu São Paulo, Argentina, Paraguai, viajou de avião várias vezes e percebeu o quanto o mundo é grande.

“A gente está crescendo aqui para evoluir, um dia vamos ficar velhos. Somos a esperança para continuar o negócio. Já pensei em desistir muitas vezes, não é um mundo de maravilhas. Quem vê de fora pensa que é fácil, mas todo dia tem que fazer a mesma rotina. Alimentação, dormir bem, treinar, correr… Com o tempo, você vai crescendo”, complementou.

De acordo com Gustavo, se ele tivesse ouvido todo mundo dizendo que ele não conseguiria chegar aonde chegou, não teria saído do lugar. Por isso, ele treina frequentemente e citou que não é da noite para o dia que vem a evolução. Às vezes, treina cinco meses para melhorar dez milésimos. De qualquer forma, o que vale é não parar, ainda mais para conseguir ir à praia pela primeira vez.

“Ainda não conheci a praia, mas vou conhecer, está nos planos. Na hora que eu conhecer a praia, ‘zerei o game’. Mas agora o game que eu quero zerar é poder dar uma condição melhor para a minha família e para as pessoas ao meu redor. Tenho o sonho de ser atleta olímpico. Nem que eu tenha 40 anos e continue correndo.” 
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Conheça o projeto Chinelinho: equipe de atletismo é oportunidade para jovens

Esporte

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Matéria - Esporte

Esporte e educação

Alison dos Santos, o Piu, conquistou a medalha de bronze nos 400 metros com barreira nos Jogos Olímpicos de Paris. O atleta chegou à segunda medalha olímpica na carreira, após o bronze na modalidade em Tóquio-2020.

No pódio, ele teve a companhia de Rai Benjamin, dos Estados Unidos, que ficou com o ouro, e Karsten Warholm, da Noruega, com a prata.

O brasileiro fez a prova em 47s26, contra 46s46 e 47s06 dos rivais. Os três primeiros colocados são os mesmos de Tóquio, invertendo o primeiro e segundo colocados.

Havia grande expectativa quanto ao que Piu poderia apresentar na final, principalmente após o rendimento na semi. Na ocasião, ele passou em terceiro na bateria e não conquistou a vaga de forma direta - vão os dois primeiros. Teve de esperar o fim da prova para saber se o tempo em que completou a prova permitiria ir à briga por medalha.

O brasileiro chegou a Paris como terceiro colocado do ranking mundial e um dos favoritos na modalidade.

Piu conquista bronze nos 400 m com barreira nas Olimpíadas

Paris-2024

Caio Bonfim chegou lá. O maior nome da história da marcha atlética no Brasil agora é medalhista olímpico. Nesta quinta (1º), ele abriu o dia em Paris com a medalha de prata em uma disputa da marcha atlética 20km ditada por ele, que arriscou desde a largada e foi recompensado pela coragem.

No fim, disputou ouro, prata e bronze com um equatoriano e um espanhol, sendo o único com duas punições no quadro. Mais uma e teria que fazer uma parada. Sem margem para arriscar, ficou com a prata.

Braian Pintado foi ouro pelo Equador. Alvaro Martin, bronze para a Espanha.

A medalha é a primeira olímpica de Caio e a primeira do Brasil na história olímpica do país na marcha atlética. Mas já havia expectativa por ela desde a Rio-2016, quando o brasiliense vinha de um oitavo lugar no Mundial e terminou os Jogos na quarta posição.

Depois, foi 13º em Tóquio, em uma situação atípica. Uma pessoa com quem ele teve contato testou positivo para Covid e Caio precisou ser isolado. Só foi liberado em cima da hora, e competiu sem a condição adequada.

Neste ciclo olímpico, Caio, que já havia sido bronze no Mundial de 2017, se manteve regularmente entre os melhores do mundo. Foi sexto no Mundial de 2022 e bronze no de 2023. Este ano, teria sido campeão da prova de revezamento, a principal do torneio, se não fosse uma punição a Viviane Lyra na reta final.

Em Paris, ele tem nova chance de medalha no revezamento, em que ele e Viviane percorrerão, cada um, pouco mais de 20km. Essa prova acontece na quarta-feira da semana que vem, dia 7. Antes, daqui a pouco, Viviane e Erica Sena estão entre as favoritas no feminino, especialmente a primeira.

A prova

Caio começou a prova com uma estratégia bastante agressiva, buscando se deslocar do pelotão, assumindo o risco de marchar sozinho. Depois de uma volta abrindo 0s06 do grupo, o brasileiro foi punido com o primeiro cartão amarelo, o que significa que o árbitro entendeu que ele estava tão rápido por não estar marchando dentro das regras.

Pendurado, baixou o ritmo e entrou no pelotão, permanecendo oito quilômetros na metade de trás do grupo que chegou a ter mais de 40 atletas. Quando voltou a acelerar, pulou para a liderança na metade da prova, que durou menos do que uma volta de 1km.

A estratégia mudou a partir do 13º quilômetro, quando ele ligou o acelerador e passou a tentar ditar um ritmo mais forte ao pelotão. Chegou à liderança e atraiu um grupo de outros nove atletas que passou a fazer voltas mais rápidas do que o padrão de 4min00s por quilômetro, que vinha sendo mantido, subindo o pace para 3min54s. Daqueles 10 atletas sairiam as três medalhas, e Caio era um dos candidatos.

No 16º quilômetro, novamente Caio arriscou. Saiu de trás e passou a liderar, apostando em um ritmo ainda mais rápido. Dessa vez, só três rivais o acompanharam: o equatoriano Braian Pintado, o italiano Massimo Stano e o espanhol Alvaro Martin. Dos quatro, porém, era o único com punições (duas), enquanto os rivais ainda tinham margem para arriscar.

Caio Bonfim é prata, e Brasil tem sua primeira medalha na marcha atlética

Olimpíadas

Os quenianos dominaram a disputa da 98ª Corrida de São Silvestre, tradicional prova de rua disputada no último dia do ano passado, em São Paulo, mas um goiano se destacou ao terminar a prova em 14º lugar. Ronan Moraes da Silva, de 24 anos, é de Jataí, no sudoeste do Estado, e integrante de família ligada ao atletismo. O corredor fez o 6º melhor tempo entre os brasileiros no percurso de 15km. Detalhe: foi a estreia dele na concorrida prova.

Este é mais um dos bons resultados do jovem atleta do interior de Goiás que desponta no cenário nacional, traça planos para alavancar a carreira e melhorar o desempenho. Ronan sonha com a participação em provas internacionais e planeja se tornar maratonista numa etapa futura, já um pouco mais maduro e experiente.

Na São Silvestre, ele avalia que obteve o “resultado mais expressivo da carreira”, por causa do apelo da corrida. Porém, não alcançou a meta, que era fechar a prova entre os dez primeiros. Ousado, espera conseguir esse resultado no final deste ano (dezembro de 2024).

Por enquanto, Ronan vai correr as provas mais curtas, dos 5 km até as disputas de meia maratona (21km). O goiano planeja cultivar o próprio espaço no universo dos corredores, nos cenários nacional e internacional. O próximo desafio será a Corrida de Reis, no próximo domingo (14), nas ruas de Cuiabá.

No calendário de 2024, Ronan pretende disputar no mínimo 15 provas de rua, no interior do País, e outras mais pesadas, como as meias maratonas do Rio e de São Paulo. O atleta articula uma preparação especial na altitude da Colômbia, em Paipa, a 2,8 mil metros acima do nível do mar.

Ronan nunca saiu do País nem disputou provas no exterior. É uma das metas traçadas para o futuro, quando espera carimbar o passaporte de atleta internacional e “subir o sarrafo”, pois tem consciência de que terá de se aventurar por outros centros em que o grau de disputa e a relevância das competições estão num nível elevado.

Ronan treina em “casa”, nos arredores de Jataí, em uma academia da cidade e na pista de atletismo do Estádio Arapucão, onde faz tiros curtos para aperfeiçoar o arranque, nas tardes de terça e sexta-feira.

Na cidade, é chamado de Ronanzinho. Durante dois dias da semana (quarta e sexta-feira), corre 10 km na manhã. Há também a preparação mais forte e longa, de 15km a 18km, às terças e quintas. Esse trabalho é feito nas estradas de terra da zona rural de Jataí. Simples, básico e que é o caminho em que alguns campeões, entre eles os próprios quenianos, costumam se exercitar.

No domingo, quando não há prova, é dia do chamado “longão”, geralmente acima dos 25km para Ronan. Vida de corredor é assim mesmo e ainda há na planilha a malhação numa academia, para ganhar força, na segunda-feira. Nestes treinos, como nas estradas, Ronan tem a companhia da mãe, Sueli Pereira Silva, que vai festejar 47 anos na próxima quinta-feira (11).

A rotina de disputa do atleta jataiense começou em 2014. A largada se deu numa prova da Copa do Brasil de Cross Country, em Timbó-SC, em que ficou entre os 20 melhores nos 6km. Após o batismo e ainda neste período, venceu provas de ruas na cidade natal, obteve bons resultados em outras corridas de rua e foi calejando os pés como atleta em potencial. Foi campeão goiano sub-23 dos 10 mil metros em 2019, passou parte da pandemia treinando e amealhou bons resultados na sequência.

Ronan corre atrás dos sonhos, das provas e na disputa direta contra os adversários. Ano passado, teve uma temporada vitoriosa. Segundo ele, foram 13 vitórias entre corridas de rua, como na Unimed Meia Maratona de Goiânia (21 km), no dia 22 de outubro, e de pistas, geralmente as que são homologadas pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) para a formação do ranking nacional dos atletas.

É aí que entra a corrida particular de Ronan para se manter como atleta. Ele calcula que, para se manter na ativa, gasta em torno de R$ 3 mil, que consomem material esportivo, viagens, alimentação e outros itens. Assim, precisa disputar provas, nas quais aposta no pódio e nas premiações, que o ajudam a se sustentar. Ronanzinho tem uma filha de 5 anos, Alice. Segundo ele, ela já “gosta de correr e ir para as pistas.” É o DNA.

Além dos prêmios em dinheiro, Ronan ganhou uma bolsa de estudos da Unievangélica, de Anápolis. Está no 4º período do curso de Educação Física na modalidade ensino à distância (EaD). Também é contemplado pelo programa Pró-Atleta, do Governo de Goiás. A Corrida de São Silvestre, segundo ele, está abrindo espaço para um patrocínio de uma empresa de advocacia de Cuiabá. Agora, corre para conseguir patrocínio e parcerias em Jataí.

Os recursos (bolsas e patrocínios) foram essenciais para deixá-lo voltado mais especificamente para a preparação e as provas. Um pouco antes, Ronan se tornou entregador de aplicativos, em que usava uma motocicleta para faturar um extra. Ficou cerca de um ano na atividade, teve uma pequena queda, “ralou o corpo”, mas nada sério. O corredor se recuperou a tempo de disputar uma prova. Nesta fase, precisou conciliar trabalho e treinos.

Superação do doping na família

Ronan faz parte de uma família ligada ao atletismo. É filho da atleta Sueli Pereira Silva e do ex-técnico Ronaldo Quirino (ambos separados) e irmão do ex-corredor de rua Ronald Moraes, além de ser primo de Wanderson Alves da Silva, que em Jataí tenta trilhar o caminho das pistas nas provas de 800m, 1,5 mil metros e 5 mil metros. O DNA inspira Ronanzinho e, ao mesmo tempo, serve como aprendizado para ele continuar e se aperfeiçoar no atletismo.

O doping interrompeu as carreiras de Sueli Pereira e do filho, Ronald, além de resultar no banimento para Ronaldo Quirino.

As lições foram duras para todos. Sueli Pereira conquistou o 4º lugar na São Silvestre de 2015, o melhor resultado de uma brasileira naquele ano. O pódio em São Paulo foi um dos resultados expressivos da atleta, que obteve índice para disputar em 2016 os Jogos Olímpicos do Rio. Só que ela e Ronald Mores foram flagrados no exame antidoping, no início daquele ano.

Julgados pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do atletismo, foram suspensos por quatro anos por causa do uso da substância Eritropoietina (Epo). Ronaldo Quirino foi banido à época das atividades.

Naquele período, Ronan estava dando as primeiras passadas no esporte. “Para mim, é um aprendizado. Vi de perto o que estava acontecendo. Não podemos ultrapassar os limites (legais). Vejo pelo lado da superação”, comentou o atleta de Jataí.

Sueli Pereira, após a suspensão, voltou a competir em algumas provas. Ano passado, enquanto o filho Ronan venceu a Unimed Meia Maratona de Goiânia, nos 21km, ela terminou em 2º lugar nos 16km.

“Ela (Sueli Pereira da Silva) venceu três provas em Cuiabá (após a suspensão). Agora, está se preparando para voltar às corridas”, disse Ronan, sobre a mãe e companheira de treinos nas trilhas de Jataí. Mesmo com a mãe se aproximando dos 47 anos, Ronan afirma que ela tem muito potencial para disputar as corridas. O pai, por sua vez, apenas repassa ao filho as planilhas de treinamentos. O irmão Ronald Moraes deixou o atletismo.

Ronan afirma que tem muito respeito pelos pais e os têm na mais alta consideração. Tanto que se prepara ao lado da mãe e é orientado, em Jataí, pelo pai. Nas provas, o corredor é vinculado à Associação de Corredores de Porangatu (Acop) e tem Marcos Antônio Lopes como treinador.

Após ser 6º brasileiro na São Silvestre, goiano se prepara para deslanchar em 2024

Corrida de rua

A tradicional Corrida de São Silvestre chega a sua 98ª edição neste ano, mas será a grande novidade do calendário para duas corredoras goianas que vão realizar o sonho de disputar a prova nas ruas de São Paulo, no próximo domingo (31). As duas estão há pouco tempo neste esporte e fizeram da pandemia da Covid-19 o ponto de partida para uma vida mais saudável.

A São Silvestre, com percurso de 15km com largada e chegada na Avenida Paulista, está no imaginário de muitos brasileiros, pois faz parte da programação de fim de ano. A prova também é objeto de desejo para os corredores de rua, tanto profissionais quanto amadores. Para quem começa a correr, um objetivo comum é a participação na tradicional prova.

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Bruna Oliveira, de 29 anos, vai participar pela primeira vez. A corredora trabalha como secretária e deu os primeiros passos no esporte em novembro de 2018, quando começou a caminhar com um grupo de amigas na pista do Lago das Rosas. Em 2019, ela participou da primeira corrida, o Circuito Mulher.

O ritmo de evolução de Bruna foi interrompido com a pandemia da Covid-19. Ela contraiu a doença e só conseguiu voltar a correr com força máxima recentemente, neste ano de 2023. “Acabei tendo Covid-19 em um estágio bem elevado, o que desencadeou algumas restrições. Em 2022, retornei bem devagar, quase não pratiquei. Mas este ano retornei com tudo”, contou Bruna.

A corredora, que chegou a participar da Meia Maratona do Rio, disse que correr a São Silvestre sempre pareceu um sonho inalcançável. “Via na TV aquela multidão de pessoas correndo e achava bacana. Foi aí que essa chama mágica veio e ficou em meu coração. Porém, sempre achei que nunca conseguiria participar, chegar ao nível dos atletas que participam. Os anos foram se passando e essa chama nunca se apagou”, disse Bruna, que colocou a corrida como meta após passar dias internada em uma unidade de terapia intensiva (UTI) por causa de complicações da Covid-19.

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Bruna Oliveira passou por complicações da Covid-19 nos últimos anos e voltou a correr com força total em 2023 (Fábio Lima / O Popular)

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O sonho começou a se tornar realidade de forma despretensiosa. Bruna publicou em sua rede social que sonhava participar da São Silvestre. O mesmo grupo de amigas, formado por Rayssa, Priscilla, Fabiana, Nathália e Joara, a presenteou com a inscrição na prova. “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir mais longe, vá acompanhado”, recitou a corredora, que treina forte para realizar uma boa prova no domingo (31) e fazer valer o esforço das amigas para concretizar o sonho.

A biomédica goiana Adriene Café, de 44 anos, também vai realizar a meta de correr a São Silvestre pela primeira vez e vai aproveitar para soprar as velinhas na linha de chegada. A corredora completa 45 anos no dia 1º de janeiro e vai curtir o aniversário fazendo uma das coisas que mais ama: correr.

A corredora começou a praticar o esporte durante a pandemia da Covid-19. Grávida do segundo filho, encontrou no esporte uma forma de equilibrar a saúde mental em um momento crítico. “Comecei a correr no ápice da pandemia, quando tive meu segundo filho, o Álvaro. Treinava na academia e, aos oito meses de gravidez, todas as academias fecharam. Ainda fui afastada do trabalho. Fui fazer caminhada na pracinha para não ‘enlouquecer’”, contou Adriene.

Um mês após o nascimento de Álvaro, Adriene colocou novamente os tênis e voltou a fazer caminhadas na pracinha. Com o passar do tempo, começaria a correr e adotar a corrida de rua como esporte favorito.

“É um caminho sem volta. Você começa na pracinha, depois vê que consegue fazer 5km, aí vai só aumentando as distâncias”, contou Adriene, que já participou da Meia Maratona de Goiânia e já disputou outras provas de 10 e 15 km.

O objetivo de Adriene é não parar por aí. Ela planeja disputar sua primeira maratona ainda em 2024. “O objetivo era correr antes dos 50, mas, depois que fiz a meia maratona, sem assessoria, percebi que poderia ir mais longe. E ano que vem, ao final do ano, pretendo alcançar esse feito”, projetou a corredora.

Apesar do plano ousado para percorrer distâncias maiores, Adriene nunca deixou de sonhar com a participação na São Silvestre. A corrida para ela tem um significado especial, pois o dia 1º de janeiro, um dia depois, é seu aniversário.

“A São Silvestre virou um sonho. Desde mais jovem, eu a via pela TV e tinha a imaginação de que seria algo muito grande. De um tempo pra cá, tem se tornado meu objetivo principal. Estou muito feliz por estar indo realizar esse sonho e correr com o mundo”, salientou Adriene, que terá à sua espera na linha de chegada o marido Adiles Augusto e os filhos Lara e o pequeno Álvaro Augusto.

Álvaro estava no ventre da mãe quando ela deu os primeiros passos no esporte e parece que gostou desde sempre. Aos 3 anos, o pequeno já participou de corridas kids e coleciona cinco medalhas, segundo Adriene.

A biomédica faz do esporte uma paixão, mas faz questão de estar sempre com a família. Prova disso é que realiza normalmente seus treinos durante as duas horas de almoço que tem no trabalho e também aos sábados, bem cedinho, quando os familiares ainda não estão dormindo.

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