Para quem trabalha em empregos noturnos com plantões de 12 horas e busca praticar corridas, é necessário estar atento às recomendações de saúde, conforme explicam um médico e um nutricionista.De acordo com o médico Gabriel Severino, de 24 anos, natural de Ji-Paraná (RO) e que mora em Goiânia desde 2019, as corridas, classificadas dentro das atividades aeróbicas, podem variar na intensidade dependendo da velocidade, distância, além de outros parâmetros.“Quando esses parâmetros demandam um esforço cardiovascular moderado a intenso, podemos dizer que uma boa recomendação é a prática de 150 minutos por semana. Para quem faz jornadas de 12 horas de trabalho, podemos dividir esses 150 minutos de forma que pelo menos 30 minutos diários sejam dedicados ao esporte”, contou.Em relação a qual é o melhor período para praticar esportes em uma situação de plantões de 12 horas, se antes ou depois do expediente, Gabriel afirmou que é mais recomendado que isso seja feito no pré-plantão, mas ressaltou que não há uma regra estabelecida.“Em relação a praticar antes ou depois, pode-se considerar o benefício trazido pelas atividades aeróbicas, como a liberação de endorfinas que regulam o humor e estresse positivamente. Sendo assim, se o esforço empregado não causar limitação funcional, há a recomendação da prática antes do plantão”, disse.O nutricionista esportivo e clínico Guilherme Diniz, de 38 anos, natural de Goiatuba, afirmou que pessoas que trabalham em escalas de 12 horas seguidas convivem com um cenário fisiológico e mental desafiador, com privação de sono, estresse metabólico e sobrecarga emocional.Segundo ele, quando esse contexto se soma à prática da corrida, a nutrição deixa de ser apenas uma questão estética ou de emagrecimento. Ela passa a ser uma estratégia integrada de proteção da saúde física, equilíbrio mental e sustentação da rotina. “A prática regular de atividade física, aliada a uma nutrição bem ajustada, contribui para a liberação de neurotransmissores como serotonina e endorfina, diretamente relacionados à sensação de prazer, bem-estar e controle do estresse. Para quem vive em turnos longos, isso não é detalhe, é parte do tratamento”, explicou Guilherme.O nutricionista detalhou que a privação de sono provoca um estado inflamatório no cérebro e afeta diretamente o funcionamento cerebral e maior ativação de áreas relacionadas à recompensa. Na prática, isso explica por que, após noites mal dormidas ou plantões prolongados, é comum surgir aumento do desejo por alimentos mais calóricos e palatáveis, maior busca por gordura e carboidratos refinados e dificuldade de controle da ansiedade alimentar.Segundo Guilherme, após um plantão prolongado de trabalho, o organismo costuma apresentar desidratação relativa, aumento da liberação de cortisol, redução dos estoques de glicogênio muscular (energia) e um maior risco de lesões e queda da imunidade. Por isso, não é recomendado treinar em jejum ou sem estratégia nutricional.Estratégias simples - como o uso planejado de alimentos ricos em ômega-3, triptofano e até pequenas inclusões conscientes, como chocolate meio-amargo - fazem parte de um cuidado e bem estar.“Antes da corrida, de 30 a 60 minutos, são recomendados uma fonte rápida de carboidrato (banana com mel, pão com geleia e frutas) e hidratação com água, isotônico e água de coco. O objetivo aqui não é performance máxima, mas manter o treino seguro, sustentável e alinhado ao estado fisiológico e mental do indivíduo”, afirmou Guilherme.De acordo com o nutricionista, para quem vem de um plantão de 12 horas, o pós-treino é o momento mais crítico do processo. Nos primeiros 30 a 60 minutos depois da corrida, a estratégia deve priorizar carboidratos para reposição de glicogênio, proteínas para recuperação muscular e líquidos e eletrólitos para restaurar o equilíbrio hídrico.Os exemplos práticos são fruta com whey protein, pão com ovo e fruta, sanduíche simples mais suco ou água de coco e uma refeição leve (arroz, feijão, carne magra, legumes e salada).“Esse cuidado reduz o impacto do estresse fisiológico acumulado e contribui não apenas para a recuperação física, mas também para melhor qualidade do sono e estabilidade emocional. Quando bem ajustada, a nutrição transforma a corrida de mais um fator de estresse em uma ferramenta de saúde, equilíbrio mental e qualidade de vida”, concluiu Guilherme.