O fortalecimento muscular vem ganhando popularidade entre os corredores. Na série especial Corre que Dá, do POPULAR, a reportagem conversou com profissionais de Educação Física e atletas para entender a importância do processo para prevenção de lesões e aumento do rendimento esportivo.De acordo com o personal trainer Leandro Carlos, de 43 anos, que trabalha com fortalecimento muscular desde 2009 e tem pós-graduação em musculação e treinamento funcional, o processo de fortalecimento é importante para todos os tipos de pessoas, mas se torna ainda mais relevante para quem pratica corridas.“Já começamos a desmistificar. Quem faz força ou treina na academia vai ficar lento para correr? Na verdade, não. Você precisa da musculatura para suportar a carga da corrida. Em asfalto, é uma superfície mais rígida, tem o impacto ao atingir o chão. A estrutura adequada para receber essa carga é a musculatura. Se ela não estiver preparada, outro lugar vai assumir esse papel. Articulações e tendões são onde a maioria começa a sentir dor e ter lesões”, contou o profissional.Isso vai ao encontro ao relato da advogada Eduarda Raineri, de 30 anos, que corre desde 2018. Ela faz fortalecimento desde adolescente, mas somente há um ano começou a ser mais constante no treinamento.Atualmente, a corredora faz fortalecimento muscular três vezes por semana e só altera a rotina de treinamentos uma semana antes de competir, quando diminui a carga e muda alguns exercícios para não sobrecarregar o corpo.“Neste último ano, mudou bastante coisa. Eu decidi, de fato, ser mais constante (no fortalecimento muscular) porque tive diversas lesões por causa da corrida, em 2023 e 2024. Acabei me lesionando por estresse, lesão por repetição, e todos os fisioterapeutas e ortopedistas falavam que eu precisava de fortalecimento muscular. Não do jeito que eu fazia. Eu aparecia na academia, depois ficava três semanas sem ir”, revelou.Segundo ela, essa mudança tem dado certo. Antes, foram dois anos seguidos se lesionando e, desde que começou o fortalecimento, não se lesionou mais. A advogada declarou que se sente muito mais forte, consegue entregar treinos melhores, viu mudanças estéticas e atingiu uma porcentagem de massa magra e gordura que nunca tinha atingido antes. “Estou em minha melhor forma desde que comecei a pegar o fortalecimento”, disse.Leandro Carlos explica que, quanto mais rápida e mais coordenada a pessoa é, mais impacto o corpo vai receber durante uma corrida. Na biomecânica da corrida, se usa o corpo todo, mas panturrilha, quadril e abdômen são algumas das principais regiões trabalhadas. Segundo ele, em corridas longas, pessoas que não têm as partes superiores, como as costas, fortalecidas, também sofrem muito. Leandro complementa que o fortalecimento varia com idade, dia a dia da profissão e a rotina do indivíduo. Os treinos para quem trabalha em escritório, por exemplo, são diferentes de quem trabalha em pé.“Podemos partir da base. Força, capacidade do músculo de gerar tensão para realizar uma tarefa, puxar, empurrar ou suportar alguma carga. O fortalecimento pode ser trabalhado não só em um ambiente de academia, pode ser em parques ou em outras modalidades sem ser dentro de uma sala. Seu corpo é uma academia”, continuou.A personal trainer Drielly Sousa, de 35 anos, é especialista em treinos voltados para a melhora da performance na corrida de rua e emagrecimento. Ela trabalha com corridas de rua desde 2015 e conta atualmente com 70 alunos assistidos presencialmente e online. A profissional também esclarece que o fortalecimento varia de caso a caso.“O fortalecimento muscular não é um só para todo mundo. Ele precisa ser ajustado ao perfil do aluno, respeitando sua idade, seu gênero, seus objetivos e, principalmente, seu corpo. Esse olhar individualizado é o que garante segurança, evolução e longevidade na corrida”, afirmou.A profissional contou que músculos mais fortes contribuem para uma corrida mais eficiente, melhora o tempo de contato com o solo, favorece a propulsão e reduz o gasto energético em cada passada.“Desequilíbrios musculares são comuns em corredores, especialmente entre os músculos estabilizadores do quadril, tronco e tornozelo. Fortalecer essas áreas ajuda a corrigir padrões de movimento ineficientes, evitando sobrecargas repetitivas e assimetrias que prejudicam o rendimento e a saúde do corredor”, prosseguiu.Jacqueline Barros, executiva de vendas de 38 anos, pratica corrida desde 2018 e, aos poucos, buscou melhorar a performance esportiva. Sempre fez musculação e fortalecimento, mas, em 2019, se viu na necessidade de melhorar por ter tido uma lesão por estresse.Enquanto estava treinando para competir na Maratona do Rio, teve uma fratura na fíbula e, desde então, prioriza o fortalecimento, que é feito três vezes por semana. A corredora comentou que o fortalecimento ajuda a melhorar o condicionamento físico e, com isso, há uma melhora significativa de força e na respiração.“Eu falo que toda prova é dolorida, mas, com os fortalecimentos em dia, a recuperação é mais rápida e menos dolorosa. Ajuda até no dia a dia no cuidado com meu filho, tenho uma criança de 2 anos que exige cuidados, atenção e o principal, que é disposição para brincar e aproveitar o dia. Então, preciso de força”, brincou Jacqueline.Sobre os múltiplos benefícios do fortalecimento, Drielly acrescentou que o processo ajuda também na correção de desequilíbrios musculares e de postura, aumento da resistência muscular localizada e mais rapidez na recuperação, funcionando como uma ferramenta complementar em processos de reabilitação de lesões já existentes.“O fortalecimento não apenas ajuda na força máxima, mas também na resistência muscular localizada, ajudando a manter a técnica de corrida durante trechos mais longos, sem que a fadiga muscular comprometa a biomecânica. Músculos mais preparados se recuperam mais rápido após treinos e provas”, concluiu.