Depois de dois anos usando a camisa do Vila Nova, o argentino Frontini se despediu do clube na semana passada. Seus gols ajudaram o Tigre a subir da Série B para a C em 2013 e 2015, além de levar o clube aos títulos da Série C e da Divisão de Acesso em 2015. Na atual temporada, o centroavante perdeu espaço e chegou a ser afastado por cerca de 50 dias pelo então presidente Guto Veronez, o qual fez duras críticas. Ainda assim, o atleta foi artilheiro da equipe na temporada ao lado de Moisés (9 gols cada). Fã de Goiânia, Frontini gostaria de permanecer no futebol goiano, podendo acertar com Anápolis ou Aparecidense. Mais perto do fim da carreira, o atacante começou a fazer curso superior – Gestão Financeira – há seis meses e espera se tornar dirigente após sua aposentadoria.Qual a diferença entre 2015 e 2016 no Vila Nova? As competições disputadas neste ano (Goianão, Série B do Brasileiro e Copa Verde) exigiram mais que as do ano passado (Divisão de Acesso e Série C). Em 2015, houve uma espécie de reconstrução, retomada do clube. Agora, o caminho era a consolidação. Mas, mesmo sofrendo com essa troca de presidente (eleição de Ecival Martins após renúncia de Guto), a cada dia que passa, vejo o clube tentando se organizar mais.Como vê o futuro do Vila?Difícil dizer por causa das dificuldades que o Ecival assumiu quando foi eleito. Mas ele me parece uma pessoa séria, com planejamento e que pode levar o clube a uma grande evolução nos próximos anos.O Vila Nova foi o clube em que você jogou por mais tempo. O que o colorado significou em sua vida?Foi muito gostoso jogar no Vila, por isso fiquei dois anos e gostaria de ter ficado para o ano que vem. O clube dá uma visibilidade muito boa e mais gente ficou me conhecendo. Foi muito importante para mim. No momento em que mais precisei, o clube me ajudou e, quando o Vila precisou, também ajudei bastante dentro de campo. Foi uma boa parceria.Como você define sua relação com a torcida, que chegou a te apelidar de Frontimito?O carinho da torcida por mim sempre foi muito grande. Fui criticado e cobrado por alguns, mas sempre compreendi e ponderei com os torcedores, o que fez a torcida ter um pouco mais de paciência comigo.A perda de espaço que você teve na equipe em 2016 teve a ver com questões técnicas ou políticas?No começo do Brasileiro, o Guto interferiu bastante, mas com o Guilherme (Alves) não houve isso. Mas tive oportunidades, mesmo entrando no decorrer dos jogos. Sou o jogador que entra no segundo tempo e que mais fez gol na Série B (5 gols). Fui o jogador que, por minuto em campo, mais fez gols, o que mostra que poderia ter um desempenho ainda melhor se tivesse jogado mais tempo. Terminei o ano como artilheiro da equipe ao lado do Moisés (9 gols).Quais as dificuldades de entrar no decorrer do jogo em relação a ser titular?Não estava acostumado a essa situação. Eu sempre começava jogando. Então, tive de me adaptar. Os jogadores estão em um ritmo, você entra e tem de dar conta do recado. Dificilmente, você entra quando o time está ganhando, o que dificulta mais. Mas serviu como aprendizado para outras situações semelhantes no futuro.Você ganhava um salário tão alto que justificasse a pressão por sua saída?Eu não ganhava R$ 40 mil por mês no Vila, como disseram por aí. Era menos que esse valor e tenho como provar. Talvez o que ele (Guto) pegou do clube tenha sido muito mais do que me pagava, até porque não me pagou como deveria e saiu de uma forma covarde. E, se eu ganhasse R$ 40 mil, seria porque ele (Guto) fez o contrato comigo. Ele tem de ser responsável na hora de fazer um contrato e saber se terá condições de cumprir. Deveria ter resolvido de uma outra forma, internamente, mas não teve maturidade para fazer isso. O Guto expôs a situação e, no final, todos viram quem falou a verdade. Eu não fugi, fiquei até o último dia do meu contrato.Qual seu conceito sobre o Guto?Não entendo como uma pessoa consegue mentir tanto. Ele sabe o que fez de errado e mais coisas vão acabar sendo provadas contra ele. Eu continuei, trabalhei todos os dias e não procurei a Justiça (Trabalhista), mesmo com cinco meses de salários atrasados. Tentei resolver da forma mais tranquila possível. Tenho família e trabalhei para receber.O Guto chegou a te propor redução salarial?Não tem como. Em 2013, eu recebia muito menos que outros jogadores do elenco, fiz os gols do acesso e, nem por isso, pedi para ganhar mais por fazer gols. Agora, não foi porque não estava em um bom momento que tenho de ganhar menos. O salário foi subindo de acordo com os objetivos alcançados e tudo previsto em contrato. Ele tentou ganhar no cansaço e viu que não conseguiria. Eu não poderia me acovardar e sair antes do término do meu contrato. Eu tinha de trabalhar trabalhando e foi o que fiz.A atitude do Guto com o goleiro Edson e o volante Robston foi semelhante à que teve com você?Com o Edson e com o Robston foi bem parecido. Ele (Guto) também não pagou, mas a diferença é que eles saíram antes.O elenco esperava renúncia do presidente na mesma semana do clássico?Ninguém esperava que o Guto (Veronez, ex-presidente) deixaria o clube da forma como foi (renunciou à presidência em 10 de outubro sob suspeitas do Conselhelho Deliberativo de irregularidades). Ele falou que saiu deixando o clube sem dívidas e, na verdade, deixou o Vila quebrado. Eu, por exemplo, fiquei com cinco meses de salários atrasados. Ele foi um total irresponsável. Não pensou no clube antes de fazer as coisas. E sobrou tudo para quem assumiu agora (Ecival Martins). Ele inventou aquela reforma do OBA, em que se gastou um dinheirão e deixou alguns jogadores e funcionários sem receber.Durante a Série B, foram os jogadores que pediram para não jogar no OBA, porque o campo é ruim?Não teve nada disso. A gente treina lá todo dia. É um gramado mais pesado, não é como o do Serra Dourada, mas isso não é desculpa, senão teríamos vencido os jogos no Serra. Gosto muito de jogar no OBA e não sei qual o real motivo de parar de jogar lá.Por que a equipe venceu muitos jogos como visitante, mas não conseguiu bom rendimento em casa?Pela maneira que o Guilherme (Alves, técnico) gosta de jogar, com jogadores leves na frente, explorando os contra-ataques em velocidade. Quando joga fora de casa, o adversário tem de propor o jogo e sobra espaço para contra-atacar. Nos jogos em casa, a gente tinha de propor o jogo e encontrava maior dificuldade.Você havia passado alegrias e problemas tão grandes como passou no Vila?Não. Aqui, todas as emoções são muito grandes. Pelo calor da torcida, que está acompanhando de perto, isso é normal. Os problemas foram muito maiores, mas o importante é a forma de administrá-los. Mas, com certeza, tive muito mais alegrias que tristezas no Vila.O Guilherme Alves, ao sair do Vila, insistiu que o que precisa acabar no clube para que seja grande é a briga política e a abertura exagerada do clube. Você concorda?A maioria dos clubes têm problemas. Mas o Vila tinha mesmo que se blindar mais. É uma empresa, que precisa de mais privacidade para os trabalhadores. Muita coisa poderia ser resolvida internamente, mas acaba saindo e tomando proporções maiores do que deveria. Procuro não me envolver com a questão política, mas se puder melhorar seria importante.O Guilherme falou que dois ou três jogadores derrubaram o Leandro Niehues e que tinha alguns que queriam dar preleção no lugar do técnico. Isso realmente aconteceu?Posso falar por mim. Sempre fui claro e transparente. Quando alguém pedia minha opinião eu dava. Se não pedia, eu ficava quieto. Tenho de respeitar os treinadores. Enquanto eu for jogador, não posso dar esse tipo de opinião, só os dirigentes. Eu sabia que jogaria mais com uns técnicos e com outros não. Não tive problema com nenhum.O Guilherme Alves elogiou muito o seu caráter e disse que você foi o único que não jogou nele a responsabilidade pela saída do clube. O que tem a dizer sobre isso?Não poderia ser injusto com o Guilherme e me aproveitar da situação para jogar a responsabilidade sobre o treinador e me beneficiar. Seria mais fácil, mas não o correto a se fazer.Qual o momento mais feliz para você no Vila?Foram os acessos contra o Treze (PB) e contra a Portuguesa, além do título da Série C. Foram momentos fantásticos.Quando receber os atrasados, vai a pé para Trindade como fez após os acessos à Série B?(Risos) Não. As promessas são para conquistas.Você já pensou o que gostaria de fazer quando encerrar a carreira?Eu queria muito ser treinador, porque gosto do dia a dia no campo. Mas isso já foi descartado, porque tem de mudar muito de cidade, pois não há segurança no trabalho e respeito com os treinadores. Foi o que aconteceu com o Leandro (Niehues) aqui. Mandaram o treinador embora após 15 dias de trabalho. Isso é um desrespeito com o profissional. O próximo passo seria me tornar diretor de futebol. Mas ainda estou me preparando.Poderia voltar ao Vila em outra oportunidade?Entendo que minha carreira está mais perto do fim. Acredito que fica mais difícil voltar para jogar, apesar de me sentir muito bem fisicamente hoje. Espero voltar sim, como dirigente ou auxiliar fixo, mas tenho de estar preparado, seja no Vila ou outro clube. Estou focado em jogar e me preparar financeiramente para isso. A preparação é importante, porque a gente é cobrado por isso.Você se sente em condições de jogar em alto nível nos próximos anos?Todo jogador tem altos e baixos em campo. Muitas vezes, o torcedor pensa que, se o jogador está bem na temporada, ele serve para continuar, mas, se não faz gols, tem de encerrar a carreira. A condição física e o histórico de lesões têm de ser levados em consideração. Eu me sinto muito bem fisicamente e praticamente não tive lesão nos últimos três anos, o que é muito bom para um jogador na minha idade.Você é torcedor de qual clube?Quando eu era criança, torcia pelo Boca Juniors, time do meu pai, e Corinthias, mas fui perdendo o gosto. Hoje, torço pelo Vila, que é o clube com o qual mais me identifiquei, e pelo Grêmio Catanduvense (SP), que é da cidade da minha mãe, e foi o primeiro clube que foi no Estádio.Você pensa como será enfrentar, como dirigente, os salários atrasados e empresários tentando acordo para que você contrate alguma indicação dele, entre outras situações questionáveis?Quero fazer logística e planejamento da temporada. Todo lugar tem problema e tem de ser transparente. Se perceber que as coisas não são certas, eu saio. Não vou me sujeitar a fazer coisas erradas. Dá para conseguir dinheiro honestamente.Que impressão Goiânia te deixou nos dois anos e meio que jogou no Vila?Goiânia é uma cidade maravilhosa. Gosto muito daqui e agradeço muito aos goianienses pela recepção. Meus vizinhos são ótimos e minha família foi bem acolhida. Gostaria de voltar a morar aqui.Que mensagem você deixa para a torcida vilanovense?Agradeço muito à torcida pelo carinho e respeito que sempre me tratou. Não é porque saí que vou deixar de torcer pelo clube e para ser vencedor. Entrego o time em condições mais privilegiadas do que encontrei na primeira vez que estive aqui. Quando puder, vou levar os meus filhos para verem jogos do Vila.