Há dez anos, Wendell Lira marcou um dos poucos gols que fez como atleta profissional - foram 12, ao todo, entre 2007 e 2016. Mal sabia que a linda meia-bicicleta que acertou na vitória de 2 a 1 do Goianésia sobre o Atlético-GO, pela 9ª rodada, do Campeonato Goiano, no dia 11 de março de 2015, mudaria completamente a sua vida.

O golaço, que está na história de 50 anos do Serra Dourada, rendeu ao goiano, o prêmio Puskás, por ter marcado o gol mais bonito da temporada de 2015. Na disputa, ele levou a melhor contra Messi, na época jogador do Barcelona, e Florenzi, que atuava pela Roma. Dez anos depois, Wendell Lira, aos 36 anos, está em outro momento, aposentado dos gramados e focado na rotina de streamer (pessoa que transmite ao vivo conteúdos pela internet) e empresário.

Wendell Lira reconhece, em entrevista ao POPULAR, que o gol marcado por ele em 2015 foi importante para a construção da vida que tem atualmente.

O goiano, que foi criado no bairro Goiânia Viva e começou a jogar futebol no terrão antes de ser revelado pelo Goiás, hoje vive no interior de São Paulo. Mora em Vinhedo, cidade da região metropolitana de Campinas, conhecida pelos diversos condomínios de luxo e vinícolas.

“Minha vida hoje é indescritível. Sou outra pessoa. Física, mental e financeiramente. Sou palestrante, streamer e tenho um podcast (modocarreira.podcast). Sou uma pessoa feliz. Quando estava no Goianésia (em 2015), tinha um contrato de três meses, com salário de R$ 1,5 mil. Hoje, tenho uma renda que nunca pensei ter, potencializada pelas lives e partidas de Fifa (atual EA FC). Sou feliz e realizado”, comenta Wendell Lira.

O gol histórico de Wendell Lira, que completa 10 anos nesta terça-feira (11), ocorreu no primeiro tempo do jogo entre Goianésia e Atlético-GO, no Serra Dourada - um dos mais bonitos do estádio, que fez 50 anos no último domingo (9). O tento abriu o placar da vitória de 2 a 1 do Azulão do Vale.

No lance, Wendell Lira tabelou com Da Matta, que deu uma assistência por cobertura. O ex-atacante usou a velocidade para ultrapassar a linha da bola e se virou com uma meia-bicicleta para marcar o golaço que rendeu a ele o gol mais bonito de 2015.

O gol Puskás marcado no Goianão de 2015 não mudou a vida de Wendell Lira instantaneamente. A premiação ocorreu no ano seguinte, no dia 11 de janeiro de 2016, dez meses após o goiano marcar o gol, e ele não ganhou dinheiro pela eleição do gol. Antes disso, o ex-jogador encarou período difícil.

“A pior fase não foi até o gol, foi depois (de marcá-lo). Fiquei oito meses desempregado, sem dinheiro para comprar leite e fralda para minha filha (Marcela). Foram os oito piores meses da minha vida. Só depois do prêmio, de verdade quando ouvi meu nome, que minha vida se transformou. Eu tinha cerca de 5 mil seguidores no Instagram e, quando voltei para o Brasil, tinha 200, 300 mil seguidores. Minha vida não parou mais com oportunidade de trabalhos”, acrescenta Wendell Lira, que recebeu a premiação em uma cerimônia em Zurique.

Em 2015, o ex-atacante já convivia com problemas por causa de sérias lesões no ligamento cruzado anterior do joelho direito. Foram três cirurgias antes dele marcar o gol que rendeu o prêmio Puskás.

A primeira lesão ocorreu aos 17 anos, a segunda foi aos 21 anos e a terceira com 26 anos, meses antes do gol marcado no dia 11 de março de 2015. Wendell Lira ainda teve de passar por uma quarta, em 2024, depois da aposentadoria.

“Minha vida no futebol, costumo dizer que foi dividida em três partes: a primeira cirurgia, o prêmio Puskás e a aposentadoria. Eu era feliz até sofrer a primeira lesão. Tinha alegria de correr e jogar. Depois, as coisas não deram certo para mim até o prêmio. Eu me machucava muito, sentia muitas dores”, descreve.

Para Wendell Lira, o gol marcado pelo Goianésia foi importante por ter rendido o prêmio Puskás, mas foi uma partida virtual de Fifa durante o prêmio que mudou sua vida.

O ex-atacante já jogava videogame com frequência, era até então um dos seus hobbys favoritos. Na premiação, em Zurique, Wendell Lira foi convidado para jogar uma partida contra o então campeão mundial da modalidade, o saudita Abdulaziz Alshehri, e venceu por 6 a 1.

“A galera não compreende direito, mas o que mudou a minha vida foi ter ido para o Puskás, jogar a partida de Fifa e ganhar do campeão mundial. Foi ali que surgiu o projeto. Eu não sabia o que ia ser da minha vida depois do prêmio. Talvez jogar alguma divisão do Goiano. O prêmio ajudou, mas foi o Fifa que mudou minha vida”, conta Wendell Lira, que mantém rotina pesada no mundo virtual.

Depois do Puskás, Wendell Lira foi contratado pelo Vila Nova para a disputa da temporada de 2016, mas jogou pouco. Foram nove partidas, por Goianão e Copa Verde, e mais lesões. Ele já tinha compromissos no cenário de e-sports e decidiu focar no esporte virtual a partir de julho do mesmo ano, quando se aposentou do futebol profissional.

Na carreira de streamer, Wendell Lira construiu respeito no cenário do e-sports, ajudou na explosão dos jogos de futebol e mudou sua vida. Já foi contratado pelo Sporting, de Portugal, para atuar no time de Fifa do clube português, assinou contrato com a Nike e, ao longo da carreira, com outras marcas. Também abriu uma empresa de marketing esportivo, em que concentra suas lives e atua como apresentador de podcast.

“Por incrível que pareça, não consigo ter folga direito. As lives são todos os dias, são cerca de 150 horas mensais. Só de live, preciso ficar cinco horas por dia. A família entende. A fama é passageira. O que a gente pode fazer é viver, trabalhar e tentar não sair do holofote. São dez anos do gol, mas fico feliz pelo reconhecimento não ser só do Puskás, mas também pelo menino que faz lives”, afirma.

Nova carreira permitiu maior convívio com família e ver filho mais novo crescer

A vida como atleta de futebol exige tempo e, quase sempre, convívio à distância dos familiares. Atualmente, Wendell Lira valoriza a relação construída com seus filhos: Marcela, de 11 anos, e Lucas, de 4 anos. A esposa é Ludmilla Miranda. O casal está junto há 18 anos, 14 deles como casados.

“Quando eu era jogador, só mudava de um canto para outro. Eu não vi a Marcela crescer. Um sonho que realizei depois do prêmio foi de conviver mais com minha família. Quando o Lucas nasceu, minha vida já era outra. Troquei a primeira fralda dele, levei na escola. Participo de tudo. Essa realização é o maior sonho que conquistei depois do prêmio Puskás”, comenta Wendell Lira, que também realizou desejos profissionais que nasceram por causa do futebol.

“O maior foi jogar com o Ronaldo Fenômeno. Quando machuquei pela primeira vez, aos 17 anos, ele já era meu ídolo e inspiração para voltar a jogar. Conheci Messi e Cristiano Ronaldo, mas nunca fiquei do lado de uma pessoa que tem a aura do Ronaldo. Era o cara que assisti e em quem me inspirei para a vida”, explica o ex-jogador, que conheceu seu ídolo em um evento particular organizado por Ronaldo.

Wendell Lira revelou que seu primeiro sonho ainda não foi realizado: comprar a casa própria. “O que falta para eu zerar a vida é comprar uma casa. Ainda não comprei. Tenho dinheiro para comprar, mas estou fazendo alguns investimentos e devo realizar esse sonho no final do ano. Dez anos atrás, era impossível, hoje tenho vida organizada. Morei de favor, passei dificuldades e agora tenho que dar segurança para meus filhos. Se acontecer algo comigo, eles vão ter onde ficar. Não é só meu, é para minha família”, detalha Wendell Lira.

Gol Puskás de Wendell Lira completa dez anos

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