Uma conquista que completa 20 anos nesta quinta-feira (30) teve Goiânia no aminho. A passagem da seleção pela cidade na trajetória do pentacampeonato, celebrado na Copa do Mundo de 2002, na Coreia do Sul e no Japão, ficou marcada por muita tensão e clamor popular pela convocação de Romário.Classificada para a Copa do Mundo de 2002, a seleção brasileira fez o primeiro amistoso preparativo em Goiânia, em janeiro daquele ano. O público goiano queria ver Romário, que vivia boa fase pelo Vasco e era aclamado por boa parte da torcida brasileira, que sofreu com uma campanha fraca nas Eliminatórias, apesar da classificação, e com vexames nas copas América e das Confederações em 2001.Logo na chegada à capital, o técnico Luiz Felipe Scolari sentiu a pressão que o tiraria do sério durante a passagem por solo goiano. Cerca de cem torcedores foram ao Aeroporto Santa Genoveva para manifestar o desejo de ver o Baixinho de volta à seleção. Não foi diferente no primeiro treino da equipe no Serra Dourada, local que recebeu cerca de 1.500 torcedores na atividade aberta ao público. Cartazes expressavam pedidos por Romário.Leia também- 20 anos do penta: sede dupla em novo eixo e quedas precoces- Brasil celebra 20 anos do penta enquanto Felipão ensaia renascimentoO coro não era apenas dos torcedores. O então presidente da Federação Goiana de Futebol (FGF), responsável pela promoção do amistoso em Goiânia, Wilson da Silveira, se mostrava insatisfeito com a escolha de Felipão, pois acreditava que a presença de Romário entre os convocados levaria, no mínimo, 10 mil torcedores a mais para o Serra Dourada no dia da partida.Nas duas primeiras atividades, no Serra Dourada, os treinos foram abertos aos torcedores que foram ao estádio ver uma seleção convocada sem Romário e cheia de estreantes. Naquela convocação, o técnico Luiz Felipe Scolari chamou apenas jogadores que atuavam em clubes brasileiros. Com os pedidos insistentes pelo vascaíno, a comissão técnica optou por fechar um dos treinos. Na ocasião, Antônio Lopes era o coordenador da seleção brasileira e explicou que o pedido tinha vindo de atletas. No entanto, o último treino voltaria a ter a presença da torcida.O local dos treinos também evidenciou uma disputa de bastidores entre a FGF e o Goiás. O time esmeraldino tinha a expectativa de receber os treinos da seleção brasileira na Serrinha, inclusive havia realizado um investimento de melhoria no campo na ordem de R$ 30 mil. A CBF tinha solicitado o uso do campo do Goiás com aval de Scolari, que treinou o clube em 1988, mas houve troca de local e todos os treinos foram no Serra Dourada, para a irritação de Felipão.Na ocasião, Wilson da Silveira, presidente da FGF, rebateu o treinador da seleção brasileira. O dirigente goiano disse que a escolha do Serra Dourada havia sido feita pela CBF e que ele só tratava com o presidente e com diretores maiores da CBF e não com um “subalterno” como se referiu a Felipão. O intuito da batalha travada teria como pano de fundo a divulgação de Goiás, do Serra Dourada e até mesmo do governo.Funcionário da FGF naquela época, Adalberto Grecco lembra que a vinda da seleção brasileira para Goiânia movimentou um grande esquema de trabalho. “A vinda da seleção brasileira ficava toda por conta da federação, o Wilson (da Silveira) fazia todo um trabalho de colocar as pessoas, designava as tarefas para atendimento da seleção. Era tudo gente nossa, não tinha esse aparato que vemos hoje. Era um trabalho muito bem feito, por sinal”, frisou Grecco.Após dias agitados nos bastidores e nos ânimos da galera goianiense, a seleção brasileira goleou a Bolívia, por 6 a 0, diante de um estádio lotado. Os torcedores que compareceram em peso, inclusive no extinto setor da geral, viram o Brasil ganhar sem sustos e abusar do jogo aéreo - cinco dos seis gols da goleada nasceram de bolas alçadas na área. No fim, tudo virou festa e o primeiro amistoso rumo ao penta terminou com todo mundo satisfeito.AGRESSÃO E RECONCILIAÇÃOEm meio aos pedidos acalorados pela convocação de Romário, um episódio marcou a passagem da seleção por Goiânia. Scolari foi acusado de ter agredido um torcedor “romarista” com um pontapé nas nádegas. Semi Peres, que era assessor parlamentar, estava no mesmo hotel que a seleção e interpelou Felipão pedindo para convocar Romário, ou não chegaria na Copa do Mundo.Com a reação do treinador da seleção brasileira, Semi Peres decidiu registrar queixa contra Felipão no 20º Distrito Policial de Goiânia, orientado pelo advogado Uarian Ferreira.Dois dias depois do episódio, Semi Peres decidiu retirar a queixa contra o treinador da seleção brasileira e se encontrou com Felipão no hotel onde a seleção estava hospedada, pediu e recebeu desculpas, além de conseguir uma camisa autografada pelo treinador.“Fizemos as pazes e depois quando ele voltou a Goiânia, para fazer a romaria até Trindade, recebeu título de cidadão goiano e fui cumprimentá-lo. Ele me abraçou e me deu um beijo na testa. Ficamos amigos”, garantiu Semi Peres, que se recorda aos risos do episódio.FESTA DO PENTACinco meses após a seleção passar com goleada e polêmicas por Goiânia, o time de Felipão, que não levou mesmo Romário para a Copa do Mundo, foi imbatível e venceu as sete partidas que disputou.A última delas foi no dia 30 de junho de 2002, um domingo, quando Ronaldo marcou dois gols sobre a Alemanha e garantiu a conquista da quinta taça do mundo para o Brasil. Distantes milhares de quilômetros do Yokohama Stadium, os goianienses festejaram muito a conquista do título.A partida terminou por volta das 10 horas da manhã. Torcedores vestidos de amarelo e agitando suas bandeiras saíram para as ruas da capital. O ponto de encontro principal era um palco montado em uma área em frente ao Parque Vaca Brava, no Setor Bueno, entre as avenidas T-3 e T-5.Ali, milhares de torcedores comemoraram o título embalados por muita música e show ao vivo. O hit que embalou o pentacampeonato era “Festa”, da cantora baiana Ivete Sangalo, que levantou a poeira vermelha do chão goiano na última grande conquista do futebol nacional.NO INÍCIO DO CICLO, VITÓRIA SOBRE A HOLANDAA primeira passagem da seleção brasileira por Goiânia no ciclo do pentacampeonato foi em junho de 1999. Na ocasião, o Brasil era treinado por Vanderlei Luxemburgo e derrotou a Holanda, por 3 a 1, no Serra Dourada, em amistoso preparativo para a disputa da Copa América.Brasileiros e holandeses fizeram, na capital goiana, o segundo amistoso entre as duas equipes em um curto período. Três dias antes de jogarem em Goiânia, em uma quarta-feira à tarde, as duas seleções empataram, por 2 a 2, em Salvador.A partida não recebeu um grande público. O número não foi divulgado, mas, nas imagens disponíveis da partida, eram nítidos muitos clarões nas arquibancadas do Serra Dourada, sobretudo do lado oposto às cabines de rádio e TV, onde o sol forte castigava. Além dos ingressos considerados caros na época (R$ 40, quando o salário mínimo era de R$ 200), a partida foi disputada em dia útil, à tarde.Em campo, o brilho ficou com o meia Leonardo, que marcou um gol e participou da jogada do gol contra marcado por Frank de Boer. O outro gol brasileiro foi anotado pelo atacante Amoroso.Apesar de se tratar de um jogo amistoso, a partida foi de muito trabalho para o árbitro paraguaio Ubaldo Aquino. Ele precisou expulsar cinco jogadores de campo: Peter van Vossen, André Ooijer e Edgar Davids (Holanda); Rivaldo e Amoroso (Brasil).Um dos maiores nomes do futebol mundial naquele momento, o atacante Ronaldo foi cortado dos amistosos da seleção brasileira contra a Holanda e frustrou os goianos, que queriam ver R9 no gramado do Serra. Ronaldo se recuperava de um estiramento no músculo da coxa e ficou se recuperando com o fisioterapeuta Nilson Petroni, o Filé.-Imagem (1.2482253)