-Imagem (Image_1.2365736)O toque de primeira e por cobertura, sobre o goleiro Glaycon, após passe de Pituca, selou a última participação de Anailson pelo Atlético-GO. Há dez anos (completados neste sábado), no dia 4 de dezembro de 2011, o Baixinho, assim chamado pelos colegas, marcou o golaço na goleada de 5 a 1 sobre o América-MG, no fechamento da participação atleticana na Série A daquele ano, com direito à conquista da vaga inédita à Copa Sul-Americana.Anailson ficou no banco, usou a camisa 16 e entrou em campo para fazer a obra-prima, o último gol dele pelo Dragão. Há dez anos, depois de marcar, ele correu na direção da torcida e festejou o gol antológico, o 27º segundo a estatística do clube nas 176 vezes em que vestiu a camisa do Dragão. Aquele jogo foi uma despedida simbólica do ex-jogador do clube, que saiu do time para entrar na história atleticana.É difícil encontrar, entre ex-jogadores, alguém tão venerado quanto Anailson, hoje com 43 anos, pelos atleticanos. Foram cinco anos ininterruptos (2007 a 2011) no clube. A cada temporada, um título ou conquista importante: três vezes do Goianão (2007, 2010 e 2011), a Série C (2008), o acesso da Série B à Série A (2009), a primeira vaga na Copa Sul-Americana (2011), a semifinal da Copa Brasil (2010), a dura campanha na Série A que evitou o rebaixamento no ano em que o Dragão havia chegado à elite (2010), o gol marcante do título do Estadual de 2007, que tirou da garganta dos sofridos atleticanos o grito de campeão após cerca de 19 anos. Em cada uma destas façanhas, ficou um toque de classe, a marca de Anailson.Por tudo isso, Anailson virou ídolo de uma torcida exigente. Aquele jogador canhoto, franzino, de 1,64m e natural de Estreio-MA ajudou a construir uma nova história do Atlético-GO. De avanços e recuos, mas vitoriosa. Além de ídolo da torcida do Dragão, virou um deles, pois é torcedor confesso do Atlético-GO.Em contato com o POPULAR, Anailson relembrou com carinho do último gol e da partida de despedida no dia 4 de dezembro. Ele havia sido homenageado dois dias antes pelo clube, com placa e entrevista muito concorrida. Chorou nos braços do então diretor e atual presidente, Adson Batista.Anailson poderia ficar fora do jogo naquele domingo (4), mas compareceu em grande estilo. “Quem exigiu a minha presença foram a torcida e a diretoria. Eu tinha de jogar”, explicou. Anailson nunca mais saiu da memória atleticana. Foi uma relação de paixão que tinha tudo para dar errado. Os fatos relatados por ele apontavam numa direção oposta, mas sempre aparecia algo para mudar o rumo da história. A primeira mudança de rota foi a vinda para o futebol goiano, em 2007.“Eu estava fechado com o Guarani. Na época, surgiu a Federação Goiana de Futebol (FGF), que iria me pagar o salário para jogar por um clube. Uma promoção para o Campeonato Goiano. Disseram que era para me colocar no Goiás ou no Vila Nova”, contou o ex-jogador. Mas, segundo ele, na promoção aberta à torcida goiana, foi escolhido pela atleticana.“Pedi para falar com a minha esposa (Divina). O clube (Atlético-GO) estava praticamente desaparecido. Eu conhecia o Goiás, de jogar contra (pelo São Caetano) e sabia um pouco do Vila. Alguém da federação sugeriu que fosse conhecer a estrutura do Atlético-GO. Fui ao CT (do Dragão) e (Estádio) Antonio Accioly na companhia do Adson (Batista) e do Valdivino (de Oliveira, ex-presidente). Eram instalações simples, mas gostei do que vi”, contou Anailson, que havia passado por Rio Branco, de Americana (SP), São Caetano e futebol japonês antes.Naquele ano, em campanha irretocável, o time chegou à final com o Goiás, com Geninho (técnico), Petkovic (meia sérvio), Welliton (atacante logo depois negociado) e parte da base que levou o clube à Libertadores de 2006. Anailson fez o gol do título do Goianão 2007 num belo chute de fora da área, justificou a promoção da FGF, tirou o clube da fila e gravou o nome dele naquela conquista. Já estava na história, ao lado dos colegas de time, do técnico Artur Neto e daquela diretoria no início da reconstrução atleticana.“Uma tarde linda. Metade do Serra Dourada era Goiás. A outra, Atlético-GO. Ganhamos de um gigante, nossa receita era bem menor”, descreveu. O Dragão compensou a frustração de vice do ano anterior (2006).Valorizado, Anailson passou a ser assediado pelo Corinthians para o Brasileirão. Como era contratado pela FGF só para o Goianão, decidiu regressar para São Paulo. Ele e a mulher foram para a rodoviária de Goiânia e pegaram o ônibus rumo à capital paulista. Era noite. A diretoria do Atlético-GO soube da viagem.Adson Batista entrou no circuito junto com outro dirigente, Álvaro Melo (morreu em 2012), pelo telefone, desde o embarque. Então, houve a proposta interessante, e até desesperada, da renovação e o convencimento para o “fico” de Anailson.O ônibus estava na BR-153 e o ex-jogador teve de convencer o motorista “a parar na pista” para retirar a bagagem. “Descemos ali, na estrada. Lembro que era perto da fábrica da Mabel. Ficamos uns dez minutos, no escuro, com medo. O Álvaro (Melo) estava num shopping e chegou para nos pegar”, detalhou Anailson sobre a renovação de contrato e a viagem interrompida.Os contratempos viraram uma fase vitoriosa. Anailson enumera os momentos: título de 2007, chegada do clube à semifinal da Copa do Brasil (2007) e vitória na Série A 2010, por 3 a 1, sobre o rival Goiás. Isso se deu no dia 23 de setembro. O Dragão saiu do Z4, mandou o alviverde para as últimas posições e a torcida fez a festa pela inversão de posições no Brasileirão e na própria história dos clubes.“Alguns anos antes, o Atlético-GO não era nada. Naquele dia, venceu o rival com história no Campeonato Brasileiro.” Em 2010, o Dragão ficou na elite, enquanto o Goiás foi rebaixado.Também foi em Goiânia que nasceu Alicia, a filha do ex-jogador do Dragão, no dia 2 de outubro de 2010.Em Estreito, lembranças da carreira em relíquiasAnailson vive em Estreito (MA) e construiu o Centro de Treinamentos (CT) Arena do Atleta, que tem partes das instalações pintadas com as cores rubro-negras do Atlético-GO, além do escudo do clube. Em média, de 100 a 120 meninos, de 4 a 19 anos, treinam no local.O ex-jogador chegou ao Rio Branco, de Americana (SP), quando tinha 14 anos. Meninos nesta idade saíram, saem ou sairão do CT para buscar trajetória semelhante, como Felipe (meia no Santos), o atacante de lado Wesley (Palmeiras). Outro é Isac, meia-atacante de 16 anos e filho mais velho de Anailson, que se prepara para buscar espaço na base do Atlético-GO. Não veio antes por causa da pandemia.Anailson fez o curso para treinador (Licença B) da CBF em 2015. Dirigiu o Tocantinópolis no Campeonato Tocantinense, chegando à semifinal em 2017 e 2018. Porém, se dedica à direção do CT Arena do Atleta, assim como à administração de uma fazenda, em Estreito, na qual cria gado. Também é sócio, ao lado da irmã, de um colégio com alunos acima de 5 anos, voltado à formação do ensino básico ao ensino médio.Nada disso mudou o jeito simples de Anailson e o carinho pelas relíquias. Uma delas é uma bola de plástico, que comprou num shopping em Goiânia. Ele a usava no vestiário, antes de treinos e jogos, para afiar a habilidade. Não só isso. “No vestiário, eu já mapeava o que faria no jogo. Em campo, quando você está no jogo, nem sempre olha para a bola. Com minha bola, procuro fazer isso”, descreveu Anailson. Segundo ele, buscava em campo o vácuo, pois “gostava de jogar onde não tinha ninguém”.Além da bola de plástico, mantém o Fiat 147 azul claro, lembrança do tempo de São Caetano. O carro também é parte da história dele. “Havia comprado uma (caminhonete) Ranger, queria ir na fazenda de Ranger. Aí, apareceu a chance de comprar sete lotes em Estreito. Vendi a Ranger, fiquei sem dinheiro para comprar outro carro. Estava indo de táxi para o treino e vi o Fiat com uma placa de ‘vende-se’. Fiquei curioso. Peguei o número (do proprietário) e liguei. Ele custou R$ 6 mil, o dono me conhecia por jogar no São Caetano e ainda parcelou em duas metades de R$ 3 mil”. Para Anailson, o Fiat 147 é objeto de carinho “por me tirar do sufoco”.Outra peça de carinho de Anailson é a camisa 8 da seleção brasileira sub-17, na qual foi campeão do Sul-Americano e do Mundial da categoria, em 1997, no Egito. Na equipe, estava ninguém mais ninguém menos do que Ronaldinho Gaúcho. Um dos prêmios pela conquista foi um passeio pelas Pirâmides do Egito, no dia seguinte. [AGENCIA](JJS) POR ELE MESMOAs obras-primas (gols) de Anailson no Dragão6/5/2007Atlético-GO 2 x 1 Goiás, o gol do título do Goianão“Acabou com o jejum do Atlético-GO e fez com que o clube continuasse no projeto de reconstrução”11/9/2008Atlético-GO 2 x 0 Guaratinguetá-SP“Foram dois gols meus no Accioly no jogo em que precisávamos vencer para não sermos eliminados na Série C”7/10/2010Atlético-GO 2 x 0 Vasco (Série A)“Nos tirou do Z4, ninguém imaginava que eu fosse chutar por cobertura”4/12/2011Atlético-GO 5 x 1 América-MG (o da despedida)“Um golaço após cinco anos no clube e que parecem ter sido 20 anos”